GILDA, A BONECA DO MARREIRO
Pedro Paulo Paulino
Gilda nasceu lá pelos idos de 60 do século vinte. Cria do
poeta e folclorista canindeense Raimundo Marreiro. Pouca gente sabe,
entretanto, que ela teve marido, o Gildo. Mas este teve curta vida. Morreu tragado
pela enchente do rio Canindé no memorável inverno de 74.
O poeta Natan Marreiro conta que a morte do Gildo foi uma comoção geral. Muita gente
assistiu de cima da ponte Gildo sendo arrastado pela correnteza. Houve até quem,
num gesto nítido de bravura, pulasse nágua na tentativa de salvá-lo, pensando mesmo que fosse gente, tão bem vestido estava. É confusa a notícia de como o boneco
foi parar no rio. Há relato sobre relato. Pelas próprias pernas, com certeza
não foi. É fato notório, porém, que nesse dia a cidade ficou alagada e muita
coisa descambou para o rio, inclusive o Gildo. Um fotógrafo de ocasião – continua
o Natan – ainda gravou a cena, mas instantes depois deixou fatalmente a Kodak
cair no rio. Ou salvaria a máquina ou a garrafa de pinga. Perdeu-se nessa confusão
grotesca um registro histórico.
O casal de bonecos, fabricado a base de gesso e madeira,
foi vestido caprichosamente com muita graça e originalidade. Desfilando
pelas ruas de Canindé, começaram a conquistar seu público. Para dar movimento
aos bonecos, jamais faltou voluntário. "Canela" foi um dos mais atuantes. Hoje em
dia, Walbim Piolho é o guiador da Gilda.
Sucessivamente, foram chegando convites para festas, do
cerimonial ao reisado. E tornaram-se atração fabulosa para romeiros. Para os meninos
de então, a Casa Marreiro, habitat do Gildo e da Gilda, era uma espécie de
Disneylândia. E é hoje ainda, pois lá está a Gilda, uma loura de estatura acima
da média, rosto bem desenhado, olhos claros e elegantemente bem trajada.
Viúva, Gilda continuou carreira artística solo. Era a
principal atração do pequeno e curioso circo ambulante montado pelo poeta
Raimundo Marreiro. A troupe era composta de um macaco, duas onças, um porco
caititu, uma cobra, um bode "leiteiro" e a Gilda.
A boneca era também convidada de honra das torcidas de
futebol em passeios a Fortaleza. Excursionou por tudo que é canto. Estranhamente,
foi persona non grata na cidade de
Mombaça, onde o padre excomungou-a, julgando-a impudica. Era ainda uma
balzaquiana quando isso aconteceu. Afora tal incidente, a simpática boneca só
tem recebido os melhores encômios. A Casa Marreiro é a vitrine da Gilda. Todo santo
dia, não falta gente para apertar-lhe a mão e posar ao seu lado numa foto inesquecível.
O poeta Natan Marreiro jamais deixa faltar um bom
estilista para cuidar do figurino da Gilda, que está sempre bem pintada e foi popularmente
entronizada como “A Boneca do Marreiro”. O Natan, com ciúmes ou não, lembra: “A
Gilda é e continuará sendo bonita, chique e enxuta. Mas não adianta cortejá-la,
pois desde que ficou viúva, optou definitivamente pelo celibato”.
A contribuição da família Marreiro em prol do folclore local é legendária. Lembro-me,bastante jovem, de ir ver o Reizado (papangus) em que o Marreirim, pai do nosso estimado Beto Marreiro, pontificava com todas aquelas evoluções e cantos de cena. Quanto à boneca (não aquela outra, inflável, cantada em verso por aí) será que tem alguma coisa a ver com a mulher do filme: "nunca houve uma mulher como Gilda?"
ResponderExcluirLeia-se "reisado".
ResponderExcluirTenho recordações, belas lindas da boneca Gilda, quando criança a vi dançar desfilar nas festas do mês de outubro, pois meus avós Luiz e Maria Anita levavam-me a festa na igreja Matriz pois éramos da madeira cortada cresci e ainda amo a boneca dos marreiro
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