segunda-feira, 18 de março de 2013


ESMOLA PRA SÃO JOSÉ

Autor: Zé Laurentino

Tem certas coisa, seu moço,
Que eu num gosto munto, não!
Por inxemplo: ouvir contá
Históra de assombração,
De arracamento de dente,
Ouvir históra de briga...
Eu posso até escutá,
Mas me dá u’a fadiga!...

E outra coisa, seu moço,
Que de bom gosto eu num faço,
É dá esmola a quem pede
Com santo imbáxo do braço.

Ah, pois eu acho que o santo
Num tem munta precisão,
Afiná, eu nunca vi
Um santo comer feijão.

Mas, por arte dos pecado,
Ou por minha pouca fé,
Todo dia lá em casa
Passa um velho andando a pé,
Por siná, munto feliz,
Chega em minha porta e diz:
Esmola pra São José!!!

E o diabo da muié,
Que é muito da alcovitêra
(Inda num vi u’a muié
Mode num sê rezadêra),
Adquire um tanto ou quanto,
Corre, vai dá ao santo,
Pra o velho fazê a fêra.

Muitas vez, logo cedinho,
Se eu vou tomar o café,
Quando dou fé o grito:
Esmola pra São José!!!

Isto foi me enchendo o saco,
Cada vez enchendo mais…
E um dia, eu cheguei em casa,
Com a barguia pra trás,
Sentei num sepo de pau,
Tomei uma de rapé,
E ouvi a voz lá na porta:
Esmola pra São José!

Pro mode dá a esmola,
A muié se arremexeu,
Mas eu lhe gritei: Num vá,
Que quem vai hoje sou eu!

Quando eu cheguei lá na porta,
O velho teve um espanto!
E eu disse: Vá trabaiá,
Que eu num dou esmola a santo!
Troque o santo numa enxada,
Deixe de ser preguiçoso,
Que santo num quer esmola,
Num seja tão presunçoso!

O velho me olhou e disse:
“Que São José te perdoe…
E se Deus tiver ouvindo,
Quero que ele te abençoe
E que cubra a tua casa
De paz, amor, união
Saúde, prosperidade,
Sossego e compreensão…

E se um dia o senhor,
Precisar deste velhinho
Ele não mora tão perto,
Mas eu lhe ensino o caminho.
Fica no sítio Acauã,
Onde já morou meu pai,
À direita de quem vem,
À esquerda de quem vai.

Se um dia, o senhor passar
Por ali, com precisão,
De fome o senhor não morre,
Também não dorme no chão.

Quando o velho disse aquilo,
Eu senti naquele instante
Como se eu fosse uma formiga
Sob os pés dum elefante.

Tava com as perna tremendo,
Digo e não peço segredo:
O velho deu-me uma surra,
Sem me tocar com o dedo.

Eu, com tanta ignorança,
Ele tanta mansidão,
Fez eu pagar munto caro
A falta de inducação.

Entonce, naquele instante,
Eu gritei por Salomé,
Que trouxesse pro velhinho
Uma xícara de café.
E fui contá meu dinheiro,
Tinha somente um cruzeiro,
Dei todinho pra São José!...

2 comentários:

  1. PPP,
    Gostei muito do visual do seu blog e adorei a postagem, parabéns!
    Um abraço,
    Dalinha

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  2. Tenho acompanhado semanalmente esse blog e para mim ler esses posts é sempre um remédio para alma!Parabéns ao Poeta Laurentino pelos belissimos versos.Um abraço PP.

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