quarta-feira, 22 de junho de 2011

HISTÓRIA


INVERNO 2009: RETROSPECTIVA

Ontem foi o primeiro dia de inverno no hemisfério sul. Como aqui não temos as quatro estações, o mês de junho para nós assinala o fim do inverno, ou fins dágua. Embora tenha chovido suficiente, e as chuvas continuem a cair, o inverno deste ano anda longe da estatística registrada há dois anos. Em 2009, segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme), choveu no Estado do Ceará 1.003mm, uma das maiores médias pluviométricas dos últimos 30 anos, perdendo só para o ano de 1985 quando foram registrados 1.239mm. Nos sertões de Canindé, as chuvas, em 2009, começaram a ganhar força no mês de março. No dia 18, véspera de São José, caiu uma chuva que se prolongou por toda a noite e provocou a sangria do açude São Mateus.
As chuvas fortes tiveram continuidade, ocasionando arrombamento de pequenos açudes e cortes nas estradas de chão na zona rural do município. No dia 25 de abril, aconteceu a primeira grande enchente, transbordando rios, arrastando lavouras e causando o arrombamento de várias represas, inclusive o açude do distrito de Esperança, construído há cerca de meio século e com capacidade em torno dos oito milhões de metros cúbicos. Na localidade de São Miguel, muitas casas caíram por causa da enchente.
A segunda grande cheia do ano aconteceu no dia 1º de maio, surpreendendo a todos os canindeenses com a sangria do açude Sousa, construído em 1998 e com capacidade para acumular 33 milhões de metros cúbicos. Segundo análise de técnicos, a sangria do reservatório estava prevista para acontecer cerca de vinte anos após a sua construção, considerando a média pluviométrica da região e a vazão do rio Sousa e seus afluentes.
As enchentes se sucederam nos dias 5, 12 e 27 de maio. O mês de junho também foi de chuvas intensas, a maior delas no dia 3. Embora com menor intensidade, o mês de julho continuou banhando todo o Estado com boas chuvas. No dia 23, por exemplo, o aguaceiro não deu trégua da manhã até a noite, reforçando a sangria da maioria dos açudes do município. Ainda chovendo fora da época normal da estação invernosa, no final do mês de agosto, 26, assistimos a mais um dia de chuva ininterrupta e de grande abrangência no Ceará.
O ano de 2009, portanto, entrou para os anais da meteorologia como um dos mais rigorosos do Ceará. Por causa das chuvas intensas, a safra de culturas típicas da região - feijão e milho - foi prejudicada, deixando a grande maioria dos pequenos agricultores no prejuízo. O forte inverno causou ainda diversos problemas de ordem social: famílias desabrigadas, mortes por afogamento, acidentes automobilísticos e epidemias. Em várias cidades foi declarado estado de emergência pública, principalmente nas regiões Norte e Sul do Estado.
Durante quase todo o ano, a flora nativa manteve-se exuberante e o verde foi a cor que predominou no cenário que compõe a mata sertaneja. A abundância das chuvas também trouxe de volta várias espécies de aves quase em extinção na caatinga. Além do arrombamento de muitas represas, nenhum reservatório deixou de sangrar, entre eles o maior açude construído no Estado, o Castanhão, que teve suas comportas abertas para banhar em toda largura o rio Jaguaribe, tido como o maior rio seco do mundo.
A espantosa intensidade pluviométrica registrada no Ceará, em 2009, contrastou assustadoramente com a seca de 2010, que por sua vez, foi considerada uma das maiores estiagens que assolaram nosso Estado desde 1993 quando a média pluviométrica não ultrapassou a faixa dos 255mm.
Alternando anos de aguaceiros com anos secos, o Ceará continua um estado cuja atividade agrícola, mesmo em regime de economia familiar, é insustentável para a auto-suficiência. Quer chova ou faça sol, o sertanejo permanece o mesmo homem dependente do auxílio tardio e minguado do governo.


2 comentários:

  1. E tudo isto não é mera casualidade, é proposítal, para sustentar o secular voto de cabresto, instituição imortal, pelo que temos visto.

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  2. Excelente o artigo do Pedro Paulo sobre o inverno de 2009 no Ceará. Uma riqueza de dados bastante instrutivos. Como houve excesso de chuvas, talvez não bem distribuídas, acho que o deste ano, embora com índice pluviométrico menor, foi melhor porque foi mais bem distribuído, não havendo tantos problemas de inundação. E há anúncios do governo de que a safra deste ano será boa.
    Quando viajei de Canindé para Fortaleza há duas semanas, pude presenciar a maravilha de um imenso pombal localizado perto da antiga fábrica de cal, antes do Camarão. Eram milhares voando em círculos, e a sua presença se espraiou por mais ou menos dois quilômetros. Espero que o IBAMA impeça a tentativa de caça cruel a essas aves que aproveitam essa época para se reproduzirem.
    Presumo que elas só arribam para outras paragens quando as avezinhas estão prontas para voar. São as chamadas aves de arribação, que dizem vir da África, atravessando o Atlântico, com um senso de orientação inexplicável até agora para a nossa ciência e digno de inveja para os humanos, que precisam de sofisticados instrumentos de navegação para atravessar os oceanos.
    Outra maravilha que presenciei na viagem foi a abundância de uma planta (acho que trepadeira) de flores violáceas grandes, uma fonte de mel para as abelhas. Neste ano o verdor da vegetação foi admirável, e muitas flores de diversas cores ornarm esse cenário. Espero que neste verão os nossos homens do campo colham bastante mel de abelha, este néctar delicioso que tanto faz bem à saúde e previne o envelhecimento precoce.

    Flávio Henrique

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