quinta-feira, 23 de junho de 2011

IRREVERÊNCIA


MAIS PROEZAS DO JOTA
Meu amigo Marcos Lima tem o prazer de receber em sua moradia, na Barra do Ceará, Fortaleza, seus conterrâneos canindeenses que ali sempre aportam. Sou um de seus visitantes, vez por outra. A casa do Marcos respira poesia. A boa música, o bom papo e o bom vinho marcam presença naquele ambiente arejado pela brisa do Atlântico e cercada por coqueirais. Marcos me manda dizer que outro dia anfitrionou o poeta João Batista de Azevedo, o Jota Batista, que por lá passou um adorável fim de semana. E dele recolheu estes versos feitos na ocasião, onde o poeta-cantor-compositor mostra mais uma vez sua irreverência congênita:

REGINA ENTRE O ANJO E O DEMÔNIO

Chega o final de semana
Regina tá pelas festas
Curtindo pelas serestas
Enchendo o bucho de cana
Se veste toda bacana
Bebe uísque com cerveja
Sei que após esta peleja
Segunda pela tardinha
Ela vai toda sonsinha
Fazer média com a igreja

Eu quero e que você veja
O jeito desta menina
Eu penso é que a Regina
Normal ela não esteja
Tem hora que ela deseja 
Se manter na bebedeira
Cai e levanta a poeira
Bate o pé e se espreguiça
Se benze e corre pra missa
Do padre Manoel Ferreira

Já vi ela bem faceira
Bebendo em cima dum banco
Uísque Cavalo Branco
Bebida que é de primeira
Ao beber a saideira
Tirou o gosto com fruta
Correu e fugiu da luta
Dobrou a primeira esquina
E lá se foi a Regina
Rezar o terço na gruta

QUEM PARTE LEVA SAUDADE…

Certa noite minha mãe
Botava eu pra dormir
Entoando uma canção
Gostosa de se ouvir
Em casa papai não tava
Pois o mesmo trabalhava
Pro sustento garantir
  
"Ai ai ai, ai ai ai, ai
Já está chegando a hora
O dia já vem raiando
Eu tenho que ir embora"
Era assim a tal cantiga
Uma letra bem antiga
Que toda pessoa adora

 Era quase meia noite
Papai vinha do trabalho
O vento deu um açoite
Ele foi pelo atalho
Ao ouvir mamãe gasguita
Cantando a canção já dita
Pensou que fosse um chocalho
  
Ouvindo a voz estridente
Papai já imaginava
Será que é alguém doente?
Seu Manoel se interrogava
Esta voz tanto tinia
E papai nem percebia
Que mamãe cantarolava

Mamãe cantava dizendo:
"Ai ai ai, ai ai ai, ai”
“Viche! tem alguém morrendo”
Assim pensou o papai
“Vou correndo só pra ver
Se tem alguém pra morrer
Dessa vez ele se vai”

Quando papai foi chegando
Querendo então conferir
Quem é que tava gritando
Para outra vida partir
Ficou foi feliz da vida
Ao ver minha mãe querida
Botando eu pra dormir...

2 comentários:

  1. A verve de J. B. Tanko é incontestável... Seu cordel Julião o Caçador de Lobisomens é um assombro de mangação...kkkkk

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  2. O título original da obra é "PROEZAS DE JULIÃO E SEU CAVALO GUARANÁ". Segundo o autor, esta obra quase lhe rende alguns sopapos da parte do biografado. Engraçado é o esquema do folheto: Uma setilha seguida de uma décima, até o fim da narrativa:

    Toda história tem começo,
    Toda história tem um fim,
    Vou agora contar uma
    Toda tim-tim por tim-tim
    De um amigo, um irmão,
    Que atende por Julião
    E a história começa assim...


    Julião nasceu na roça
    No sertão de Canindé
    Magro velho, feio e fino,
    Vê um pau de picolé
    As orelhas parecia
    Duas enorme bacia
    Separando sua cara
    As pernas assim de ferida
    Todas duas parecidas
    Com dois pedaços de vara...

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