Minha coleção de
autores canindeenses foi acrescida de mais uma publicação. Trata-se do livro Coletânea de um aposentado, publicado em
2005 pela Dim.Ce Edições Técnicas. O autor, José Ivan Magalhães Monteiro, já de
saudosa memória e ex-prefeito de Canindé, compila em pouco mais de uma centena
e meia de páginas memórias pessoais, crônicas, poesias, pensamentos e causos,
dentre outras produções de sua autoria e de diversos autores, além de perfilar
personagens canindeenses de sua época. Em seus escritos, Ivan Magalhães
expressa sua paixão por sua terra e tudo o mais que com ela possa se
identificar, e ainda aproveita para homenagear pessoas de sua intimidade,
muitos já desaparecidos. Agradeço a atenção e a solicitude do meu amigo
Fernando Magalhães por me fazer chegar às mãos este exemplar do livro, do qual
pinçamos esta crônica:
“UMA HOMENAGEM À MINHA REDE
José Ivan Magalhães Monteiro
Desde criança
acostumei-me a dormir em rede e, por isso, não há quem me faça mudar este
hábito. Na verdade, fui gostando, fui acomodando minha escoliose às suaves e
variadas posições que a rede me oferecia durante a noite e, pouco a pouco, fui
compreendendo o seu valor, a sua significação junto às comunidades mais
carentes e aos antigos fazendeiros que costumavam manter sempre uma rede armada
no alpendre do velho casarão de sua propriedade. Na hora de dormir, lá estavam
eles e seus familiares garbosamente deitados em suas gostosas e aconchegantes
redinhas espalhadas nos diversos cômodos da casa maior da fazenda. Eu mesmo,
como filho e net de fazendeiros, por muitas vezes, experimentei este enorme
prazer.
Já tive discussões
ásperas até com alguns de meus melhores amigos, por motivos os mais banais, mas
com a minha redinha nem cara feia trocamos. E olhe que já dei muitos motivos! Quando
criança, com as inocentes diabruras próprias da idade, e como adulto, chegando
em casa altas horas da noite, suado e com o corpo cheirando a bebida. E, por
que não dizer: a minha falta de respeito maior com minha rede reside nos
momentos de aliviar as cólicas e gases intestinais. Mas, nem por isso, ela
deixa de ser minha amiga e companheira leal, e sempre me recebe com muito
carinho e compreensão. Essas suas virtudes são comparadas apenas ao carinho e
compreensão de minha mulher, de meus filhos e daqueles parentes e amigos
chegados a mim há algum tempo.
Recentemente,
quando estive hospitalizado, por força da cirurgia a que me submeti, pude
sentir e lamentar profundamente a ausência de minha inseparável amiga. Por estas
e outras razões, hoje lhe presto esta simples, porém singela homenagem, em
sinal de respeito e gratidão.
Muito obrigado,
minha redinha.”
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