sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Minha coleção de autores canindeenses foi acrescida de mais uma publicação. Trata-se do livro Coletânea de um aposentado, publicado em 2005 pela Dim.Ce Edições Técnicas. O autor, José Ivan Magalhães Monteiro, já de saudosa memória e ex-prefeito de Canindé, compila em pouco mais de uma centena e meia de páginas memórias pessoais, crônicas, poesias, pensamentos e causos, dentre outras produções de sua autoria e de diversos autores, além de perfilar personagens canindeenses de sua época. Em seus escritos, Ivan Magalhães expressa sua paixão por sua terra e tudo o mais que com ela possa se identificar, e ainda aproveita para homenagear pessoas de sua intimidade, muitos já desaparecidos. Agradeço a atenção e a solicitude do meu amigo Fernando Magalhães por me fazer chegar às mãos este exemplar do livro, do qual pinçamos esta crônica:

“UMA HOMENAGEM À MINHA REDE

José Ivan Magalhães Monteiro

Desde criança acostumei-me a dormir em rede e, por isso, não há quem me faça mudar este hábito. Na verdade, fui gostando, fui acomodando minha escoliose às suaves e variadas posições que a rede me oferecia durante a noite e, pouco a pouco, fui compreendendo o seu valor, a sua significação junto às comunidades mais carentes e aos antigos fazendeiros que costumavam manter sempre uma rede armada no alpendre do velho casarão de sua propriedade. Na hora de dormir, lá estavam eles e seus familiares garbosamente deitados em suas gostosas e aconchegantes redinhas espalhadas nos diversos cômodos da casa maior da fazenda. Eu mesmo, como filho e net de fazendeiros, por muitas vezes, experimentei este enorme prazer.
Já tive discussões ásperas até com alguns de meus melhores amigos, por motivos os mais banais, mas com a minha redinha nem cara feia trocamos. E olhe que já dei muitos motivos! Quando criança, com as inocentes diabruras próprias da idade, e como adulto, chegando em casa altas horas da noite, suado e com o corpo cheirando a bebida. E, por que não dizer: a minha falta de respeito maior com minha rede reside nos momentos de aliviar as cólicas e gases intestinais. Mas, nem por isso, ela deixa de ser minha amiga e companheira leal, e sempre me recebe com muito carinho e compreensão. Essas suas virtudes são comparadas apenas ao carinho e compreensão de minha mulher, de meus filhos e daqueles parentes e amigos chegados a mim há algum tempo.
Recentemente, quando estive hospitalizado, por força da cirurgia a que me submeti, pude sentir e lamentar profundamente a ausência de minha inseparável amiga. Por estas e outras razões, hoje lhe presto esta simples, porém singela homenagem, em sinal de respeito e gratidão.
Muito obrigado, minha redinha.”

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