DIALÉTICA
Antônio Teixeira*
Dialética é um
nome bonito para rotular uma mercadoria ordinária. Foi disciplinada pelos
filósofos gregos que lhe deram foros de cidadania e nobreza, porque discutir,
bater boca, trocar palavrões já existia desde o tempo dos trogloditas, quando
vencia aquele que gritava mais alto, cuja retumbância da voz fazia estremecer
toda floresta e ecoava como um trovão nos contrafortes das montanhas.
A Dialética é
para os sábios e para os cultos o que é o desabafo, a discussão para a gente do
povo. É uma esgrima, uma luta de boxeador, não com os punhos cerrados, com
florete, nem com os chifres como fazem os touros e os caprinos, nem com patas
como os muares e equinos, mas com a língua. Tudo isto é dialética porque é
luta, é combate.
A esta guerra
de palavras, os gregos deram com muita propriedade o nome de logomania, quando
este duelo de palavras devia ser privilégio só das mulheres. Mas vamos fazer
dialética sobre a Dialética. Em qualquer discussão, um dos dois tem razão. É um
jogo que não tem empates. E ninguém quer perder, apelando para todos os
recursos, e quando perde ainda não se convence da sua derrota, porque seria
assinar o decreto da sua própria burrice. Se uma das partes tem razão, que
adianta isto aos outros, ao mundo, à ciência, à história? Mas importa aos dois,
porque numa discussão o que prevalece é o capricho, é o amor próprio, é a
vaidade.
A melhor
maneira de vencer uma discussão é dizer simplesmente ao adversário: - Você tem
razão! E passar o assunto adiante, porque há certos tipos de teimosos que serão
capazes de discutirem que “não têm razão”, só pelo prazer sádico de esgrimar,
de teimar. O melhor da discussão é fugir dela.
Conta-se que um
bispo francês, encontrando em certo vilarejo da sua diocese um cidadão com 120
anos de idade, quis conhecer essa raridade macrobiótica e lhe perguntou a que
atribuía ele uma existência tão longa, ao que o velho respondeu com toda
simplicidade: “Dormir e acordar com os passarinhos, e nunca ter teimado”. O
bispo então retrucou: “As primeiras razões eu aceito porque dependem de você,
não a última, porque depende dos outros”. O humilde campônio, curvando-se,
respondeu: “V. Exª. Tem razão”, vencendo assim o bispo de nocaute.
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*Escritor cearense, ex-colunista
do jornal O Povo.
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