segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

DIALÉTICA

Antônio Teixeira*

Dialética é um nome bonito para rotular uma mercadoria ordinária. Foi disciplinada pelos filósofos gregos que lhe deram foros de cidadania e nobreza, porque discutir, bater boca, trocar palavrões já existia desde o tempo dos trogloditas, quando vencia aquele que gritava mais alto, cuja retumbância da voz fazia estremecer toda floresta e ecoava como um trovão nos contrafortes das montanhas.
A Dialética é para os sábios e para os cultos o que é o desabafo, a discussão para a gente do povo. É uma esgrima, uma luta de boxeador, não com os punhos cerrados, com florete, nem com os chifres como fazem os touros e os caprinos, nem com patas como os muares e equinos, mas com a língua. Tudo isto é dialética porque é luta, é combate.
A esta guerra de palavras, os gregos deram com muita propriedade o nome de logomania, quando este duelo de palavras devia ser privilégio só das mulheres. Mas vamos fazer dialética sobre a Dialética. Em qualquer discussão, um dos dois tem razão. É um jogo que não tem empates. E ninguém quer perder, apelando para todos os recursos, e quando perde ainda não se convence da sua derrota, porque seria assinar o decreto da sua própria burrice. Se uma das partes tem razão, que adianta isto aos outros, ao mundo, à ciência, à história? Mas importa aos dois, porque numa discussão o que prevalece é o capricho, é o amor próprio, é a vaidade.
A melhor maneira de vencer uma discussão é dizer simplesmente ao adversário: - Você tem razão! E passar o assunto adiante, porque há certos tipos de teimosos que serão capazes de discutirem que “não têm razão”, só pelo prazer sádico de esgrimar, de teimar. O melhor da discussão é fugir dela.
Conta-se que um bispo francês, encontrando em certo vilarejo da sua diocese um cidadão com 120 anos de idade, quis conhecer essa raridade macrobiótica e lhe perguntou a que atribuía ele uma existência tão longa, ao que o velho respondeu com toda simplicidade: “Dormir e acordar com os passarinhos, e nunca ter teimado”. O bispo então retrucou: “As primeiras razões eu aceito porque dependem de você, não a última, porque depende dos outros”. O humilde campônio, curvando-se, respondeu: “V. Exª. Tem razão”, vencendo assim o bispo de nocaute.

___________
*Escritor cearense, ex-colunista do jornal O Povo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário