domingo, 22 de dezembro de 2013

Gonzaga Vieira, cordelista genuíno, é também folheteiro, com seu stand de venda instalado no alto do Monte, na cidade de Canindé, Ceará. Seu trabalho está pautado sobretudo na religiosidade popular, com vários títulos de cordel voltados principalmente para a romaria de S. Francisco. Mas desta feita, Vieira narra a história de Benigna Cardoso da Silva, assassinada aos 13 anos, no sítio Oitis, em Santana do Cariri. O fato aconteceu há mais de 70 anos e, para muitas pessoas, Benigna opera milagres. Ela poderá ser a primeira cearense beatificada. - Visite também a página eletrônica do autor: http://variando-variando.blogspot.com.br/

A HISTÓRIA DA MÁRTIR SANTA BENIGNA
(Ou o valor da castidade)


Autor: Gonzaga Vieira

Peço ao Pai Onipotente
O dom da inspiração
Para narrar essa história
É própria da ocasião
Não me falte à verdade
Do princípio à conclusão

A santa religião
Pra muitas é lenitivo
Os santos são venerados
Na arca do altar votivo
A Mártir Santa Benigna
Nos enseja esse motivo

Benigna Cardoso da Silva
De Santana, era natural
Nascida no Sítio Oitis
Em Inumas, zona rural
Em solo caririense
Veio de um parto normal

Porém, o seu destino
Logo cedo, de raiz
Arrebatou a donzela
Numa cena infeliz
São os entraves da sorte
Como a ciência nos diz

Mas, órfã de pai e mãe
Vai carpir sua desdita
Porém, de mãos amigas
Com “cirineus” ela habita
Encontra uma família nobre
Na hora extrema e bendita!

Dona Rosa e Honorina,
Duas almas caridosas,
Acolhem a indigente
Nessas horas clamorosas.
A casa é um jardim
Dessas senhoras ditosas...

De uma estatura média
Ainda de tez morena,
Benigna se destacava
Por ser calma e bem serena,
Mesmo com semblante triste
No bosque, era a verbena!

Para seus pais adotivos
Ela era o mimo do lar,
Nos afazeres de casa
Gostava de laborar.
Além disso, muito cedo
Já passou a estudar.

Era uma aluna exemplar,
Resolvia o seu ditado,
Ainda ensinava os outros,
Dos irmãos, ao agregado,
Tudo isso ela fazia,
Sem mau-humor ou enfado.

Freqüentava a igreja,
Com muita fé e unção,
Gostava do catecismo,
Tudo de religião,
E nutria no seu íntimo
A Primeira Comunhão.

Mas, quero sua licença
Para mudar de toada.
Benigna, quando criança,
Era por todos amada,
Por grandes e pequeninos
Ela era idolatrada.

Porém, sua sorte ingrata
Em passo lento seguia.
Aquele ser casto e puro
Que de nada desconfia,
Esse era o seu calvário:
‘Me valha, Santa Maria!’

A quadra da meninice
É própria para brincar,
Os folguedos do folclore,
As cantigas de ninar.
Mas mesmo assim a criança
Só gostava de rezar.

Benigna levava a vida
Só imitando o salmista.
Exemplos de temperança
E Deus, a sua conquista.
E depois, Nossa Senhora
Era a sua catequista.

O verso sem embaraço
Segue o prumo da história
Narrada com muito afinco,
Com ideia meritória.
Daí, surgir uma sombra,
Produto vivo da escória.

Santana do Cariri,
Como o nome bem traduz,
Surge um lampejo de fé,
Pois Santa Benigna é luz!
A futura padroeira
De Inhumas, com Jesus!

Mas, voltemos ao início
Desta minha narração
Pra saber todo o desfecho.
Entra Raul na questão,
A cometer desatino
Nessa mesma ocasião.

Nu’a sexta-feira, Raul
Segue o fio da pisada,
Tenta manter um colóquio...
Benigna, por ele amada –
Espécie de amor ardente
O fez armar a cilada.

O momento era aprazado
Para essa tentação.
Aquele caminho ermo
Em meio à vegetação
Obrigou Raul se armar
De um afiado facão.

Pé ante pé ele segue
Para o seu gesto extremado.
Aborda a jovem Benigna
E, em fúria, tresloucado,
Investe contra essa jovem –
Era o crime consumado...

Depois desse ato insano,
Golpes pelo corpo inteiro,
Raul foge do local
Pra distante paradeiro,
Fica a jovem estendida
No estertor derradeiro.

A notícia se espalhou,
A comoção foi geral.
Quando foi o corpo achado,
Cuidou-se do funeral.
Raul Alves escapou
Desse gesto bestial.

Porém, nascia uma fé
Que gerava romaria.
O povo que implorava
Uma graça, recebia
Vinda de Santa Benigna,
Fosse noite, fosse dia.

Eis o primeiro volume
Desta minha narrativa
Do exemplo de Benigna
Que virou história viva.
Depois virá o segundo,

Com a mente sempre ativa.

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