Gonzaga
Vieira, cordelista genuíno, é também folheteiro, com seu stand de venda instalado no alto do Monte, na cidade de Canindé,
Ceará. Seu trabalho está pautado sobretudo na religiosidade popular, com vários
títulos de cordel voltados principalmente para a romaria de S. Francisco. Mas
desta feita, Vieira narra a história de Benigna Cardoso da Silva, assassinada
aos 13 anos, no sítio Oitis, em Santana do Cariri. O fato aconteceu há mais de
70 anos e, para muitas pessoas, Benigna opera milagres. Ela poderá ser a
primeira cearense beatificada. - Visite também a página eletrônica do autor: http://variando-variando.blogspot.com.br/
A HISTÓRIA DA MÁRTIR SANTA BENIGNA
(Ou o valor da castidade)
Autor: Gonzaga Vieira
Peço
ao Pai Onipotente
O
dom da inspiração
Para
narrar essa história
É
própria da ocasião
Não
me falte à verdade
Do
princípio à conclusão
A
santa religião
Pra
muitas é lenitivo
Os
santos são venerados
Na
arca do altar votivo
A
Mártir Santa Benigna
Benigna
Cardoso da Silva
De
Santana, era natural
Nascida
no Sítio Oitis
Em
Inumas, zona rural
Em
solo caririense
Veio
de um parto normal
Porém,
o seu destino
Logo
cedo, de raiz
Arrebatou
a donzela
Numa
cena infeliz
São
os entraves da sorte
Como
a ciência nos diz
Mas,
órfã de pai e mãe
Vai
carpir sua desdita
Porém,
de mãos amigas
Com
“cirineus” ela habita
Encontra
uma família nobre
Na hora
extrema e bendita!
Dona
Rosa e Honorina,
Duas
almas caridosas,
Acolhem a indigente
Nessas horas clamorosas.
A casa
é um jardim
Dessas
senhoras ditosas...
De uma
estatura média
Ainda
de tez morena,
Benigna
se destacava
Por ser
calma e bem serena,
Mesmo
com semblante triste
No bosque,
era a verbena!
Para
seus pais adotivos
Ela
era o mimo do lar,
Nos afazeres
de casa
Gostava
de laborar.
Além
disso, muito cedo
Já passou
a estudar.
Era uma
aluna exemplar,
Resolvia
o seu ditado,
Ainda
ensinava os outros,
Dos irmãos,
ao agregado,
Tudo
isso ela fazia,
Sem mau-humor
ou enfado.
Freqüentava
a igreja,
Com muita
fé e unção,
Gostava
do catecismo,
Tudo
de religião,
E nutria
no seu íntimo
A Primeira
Comunhão.
Mas,
quero sua licença
Para
mudar de toada.
Benigna,
quando criança,
Era por
todos amada,
Por grandes
e pequeninos
Ela era
idolatrada.
Porém,
sua sorte ingrata
Em passo
lento seguia.
Aquele
ser casto e puro
Que de
nada desconfia,
Esse
era o seu calvário:
‘Me
valha, Santa Maria!’
A quadra
da meninice
É própria
para brincar,
Os folguedos
do folclore,
As cantigas
de ninar.
Mas
mesmo assim a criança
Só gostava
de rezar.
Benigna
levava a vida
Só imitando
o salmista.
Exemplos
de temperança
E Deus,
a sua conquista.
E depois,
Nossa Senhora
Era a
sua catequista.
O verso
sem embaraço
Segue
o prumo da história
Narrada
com muito afinco,
Com ideia
meritória.
Daí,
surgir uma sombra,
Produto
vivo da escória.
Santana
do Cariri,
Como
o nome bem traduz,
Surge
um lampejo de fé,
Pois
Santa Benigna é luz!
A futura
padroeira
De Inhumas,
com Jesus!
Mas,
voltemos ao início
Desta
minha narração
Pra saber
todo o desfecho.
Entra
Raul na questão,
A cometer
desatino
Nessa
mesma ocasião.
Nu’a
sexta-feira, Raul
Segue
o fio da pisada,
Tenta
manter um colóquio...
Benigna,
por ele amada –
Espécie
de amor ardente
O fez
armar a cilada.
O momento
era aprazado
Para
essa tentação.
Aquele
caminho ermo
Em meio
à vegetação
Obrigou
Raul se armar
De um
afiado facão.
Pé ante
pé ele segue
Para
o seu gesto extremado.
Aborda
a jovem Benigna
E,
em fúria, tresloucado,
Investe
contra essa jovem –
Era o
crime consumado...
Depois
desse ato insano,
Golpes
pelo corpo inteiro,
Raul
foge do local
Pra distante
paradeiro,
Fica
a jovem estendida
No estertor
derradeiro.
A notícia
se espalhou,
A comoção
foi geral.
Quando
foi o corpo achado,
Cuidou-se
do funeral.
Raul
Alves escapou
Desse
gesto bestial.
Porém,
nascia uma fé
Que gerava
romaria.
O povo
que implorava
Uma graça,
recebia
Vinda
de Santa Benigna,
Fosse
noite, fosse dia.
Eis o
primeiro volume
Desta
minha narrativa
Do
exemplo de Benigna
Que
virou história viva.
Depois
virá o segundo,
Com a
mente sempre ativa.
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