quarta-feira, 13 de novembro de 2013

MADAME DE CABARÉ
PROCESSA A “UNIVERSAL”



Autores: Peter Pan e Arizona

Quando Cristo veio ao mundo,
Na sua Santa Missão,
Arrebanhou doze apóstolos
E fez tanta pregação,
Que julgou estar seguro
Do Evangelho do futuro
Em todo reino e nação.

Tiago Maior e João,
São Pedro, bom pescador,
 Felipe, chamado O Místico,
E Matheus, um coletor,
Bartolomeu e Tomé,
Judas Tadeu e André
Escutavam o Salvador.

Judas traiu seu pastor,
Pois eram fracos seus dotes.
É chamado vulgarmente
De Judas Iscariotes.
Judas Tadeu era irmão
Do mestre, e tinha Simão,
Um seguidor dos Zelotes.

Tinha Tiago, o Menor,
Fechando a congregação.
Não que fosse adolescente
E nem porque fosse anão.
Com esses doze, Jesus
Mostrou sua santa luz
Em perfeita comunhão.

Em meio a Santa Missão,
Encontrou com Madalena,
Chamada de “A Pecadora”,
E a sedutora morena
Lavou seu pés com desvelos
E enxugou com os cabelos,
Compondo uma bela cena.

Todo mundo protestou,
Que Jesus, um homem santo,
Deixasse uma prostituta
Lavar seus pés com o pranto.
Ouvindo essa falação,
Disse o Mestre, com razão:
- Fiquem quietos no seu canto!

O preâmbulo que traço,
Algum sentido aqui faz.
E luz pra essa questão,
Tenho certeza que traz:
É um caso pitoresco,
Patético e até burlesco
Que se deu em Aquiraz.

Por falta do que fazer,
Eu ontem li no jornal,
Que a dona de um cabaré
Foi parar no Tribunal,
Levando provas, papéis,
Denunciando os fiéis
Da Igreja Universal.

Dona Tarcília Bezerra,
A dona de um cabaré,
Quis ampliar seu negócio
E aumentar seu “mundé”
Para atrair pescadores,
Certamente pecadores,
E não os homens de fé.

Porém, um certo pastor
Da Igreja Universal,
Despeitado com o progresso
Desse “ambiente do mal”,
Fez robustas pregações,
Mandou fazer orações
Eticétera, coisa e tal...

Quem batalha nas jangadas
Exercendo o seu labor,
Recebe dos governantes
O “Seguro-pescador”;
Muitos, visando o lazer,
Gastam com todo prazer
Nos inferninhos do amor.

Por conta disso o pastor,
Julgando ser concorrência,
Fez correntes de oração
Com bastante diligência.
Vendo o dízimo dizimado,
Dizia muito exaltado:
- Acabem com a indecência!

Dona Tarcília Bezerra,
O seu negócio tocava,
Vendo que a freguesia
A cada dia aumentava
Pra gatinha e pra mocreia...
Mas o povo da Assembleia
Justiça dos céus clamava.

- Bem-aventurado quem
Sente sede de justiça –
Dizia o velho pastor
Na cantilena interiça:
- Belzebu já fez morada
Na casa amaldiçoada
Da luxúria e da preguiça!

Enquanto isso, do brega,
Progredia a construção.
Dona Tarcília investindo
Bastante na ampliação
Visando, além de crescer,
Com mais conforto atender
À sua população.

Ela sequer dava ouvidos
Para protesto e chalaça.
Se tocassem no assunto,
Respondia achando graça:
- Não paro, nem que me matem!
Enquanto os cachorros latem,
Minha caravana passa...

Pedreiros e ajudantes
Trabalhando todo o dia.
A reforma, a olhos vistos,
Com rapidez progredia.
Enquanto isso, o pastor,
Usando Nosso Senhor,
Sua pregação fazia:

- Irmãos, amados irmãos,
Maldito quem conspurcar
O seu corpo e sua alma
Freqüentando o lupanar.
Aqui na terra é malvisto
E, na morda de Cristo,
Esse jamais vai entrar!

Formemos uma corrente,
Todos juntos contra o mal,
Contra essa casa indecente,
Antro do vício carnal!
Vá por terra o cabaré,
Em nome da nossa fé
Na Igreja Universal!

As palavras do pastor
Não tinham repercussão
Perante Dona Tarcília,
E a obra de ampliação
‘Tava quase terminada,
Até com hora marcada
Pra reinauguração.

Antes disse, no entanto,
Um raio partiu direito
Sobre o prédio em construção,
E foi tão forte o efeito,
Que tal prédio incendiou
E de repente acabou
Tudo o que se tinha feito.

O pastor e seus fiéis
Tagarelavam contentes:
- O poder da oração
É que fortalece os crentes.
Tiremos nosso chapéu,
Que o raio veio do céu
Castigar as indecentes!

Ai de quem zomba da fé
E tem “pauta” com o cão.
Bem maior era Babel,
Grande torre e... foi ao chão! -
E contentes, se gabavam,
Que até o diabo enfrentavam
Com o diabo enfrentavam
Com o poder da oração.

Mas Dona Tarcília teve
Uma ideia genial
De mover no mesmo instante
Uma ação judicial,
Nessa causa complicada,
Contra a principal culpada,
A Igreja Universal.

Porque no seu entender
Foi o poder da oração
Do pastor e seus asseclas
De sua congregação
O culpado verdadeiro
Do desastre traiçoeiro
Que pôs fim na construção.

Mas, acusada, a Igreja
Foi se defender na hora,
Com argumento contrário
Alegando sem demora
Não ter participação
No fim dessa construção,
Tirando o corpo de fora.

Entre a fé e a razão
Existe um caminho só.
A própria justiça viu-se
Metida num qüiproquó.
Este caso surpreende,
Nem mesmo o juiz entende
Como desatar o nó.

Pois o magistrado afirma
Que nos autos dessa ação
É impossível saber
Qual dos dois tem a razão:
A dona dum cabaré,
Que crê no poder da fé,
Ou uma igreja que não?

Jesus tinha doze apóstolos
E os instruiu na fé.
Mas na hora em que foi preso
Todos deram macha à ré.
Só ficaram aos pés da cruz
João, a mãe de Jesus,
Madalena e Salomé.

E a dona do cabaré
Deixa uma grande lição
Demonstrando a sua fé
Perante o falso cristão:
Jura pela sua vida
Que acredita e não duvida
No poder da oração.


17 de maio de 2013.

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