sexta-feira, 29 de novembro de 2013

ALMANAQUES E PROFECIAS


Pedro Paulo Paulino

As chamadas profecias sempre acompanharam a trajetória humana. A ilusão de quebrar a lei universal de causa e efeito, e assim prever o futuro, está presente em quase todos os povos. Sem jamais ter sido uma ciência, ou mesmo uma arte, a profecia é em si uma prática cercada de crendice e misticismo. Nesse âmbito, o nome mais celebrado entre os profetas é Nostradamus, o famoso vidente francês que viveu na primeira metade do século dezesseis, mas ainda é considerado moderno ante os profetas bíblicos. Afirma-se que Nostradamus previu, dentre outros acontecimentos, a Revolução Francesa, as guerras mundiais, a bomba atômica e até a descoberta da gravidade. O velho mago alinhavou suas profecias em quadras de versos decassílabos e ao conjunto delas deu o nome de centúrias. Empregou em suas profecias uma linguagem enigmática cuja maior magia deve estar no talento de seus decifradores.
As profecias de Nostradamus, ao que parece, já não têm mais combustível nos tempos atuais. Em seu lugar, entretanto, não deixam de surgir outros videntes mais sofisticados e antenados com o mundo moderno. O exemplo mais badalado no momento é o do vidente paranaense Jucelino Nóbrega da Luz. Ele previu, por exemplo, que uma onda gigantesca destruiria em novembro de 2013 a cidade de Fortaleza. Seu vaticínio foi, claramente, um fiasco.
As predições dele, aliás, estão quase todas relacionadas àquilo que mais tem apaixonado os profetas: catástrofes como terremotos, incêndios, enchentes, secas, hecatombes, ciclones, calamidades, desabamentos, colapso na economia de algumas nações, doenças etc. Fatos esses tão certos de acontecer em várias partes do mundo, a qualquer momento, que prevê-los é escorregar para a redundância. No caso de Jucelino Nóbrega, sua única e mais acertada previsão, não há dúvida, foi ele ter adivinhado que com o charlatanismo conquistaria a mídia, a fama e o sucesso financeiro, até mesmo através do mercado editorial. A popularidade em torno do tal vidente apenas revela o lamentável alto índice de credulidade das massas, principalmente pelo incentivo desbragado da mídia à insensatez.
Bem menos pernósticos e muito mais modestos são os profetas populares, quase desaparecidos em nossos dias. Sobrevivem ainda, e até de modo organizado, os chamados “profetas da chuva”. Como o termo não encontrou até hoje um substituto mais realista, “profeta da chuva” designa em particular o sertanejo que, através das “experiências” com a natureza, prevê a seca ou o inverno em diversas partes do Nordeste. Nem mesmo na meteorologia seria válido falar em previsão exata do tempo, haja vista que o que essa ciência faz é um diagnóstico, em determinado período, das condições atmosféricas para determinada área.
Já entre nós, as profecias fundiram-se com os almanaques, de modo que uma coisa e outra ganharam a mesma conotação popular. Um dos profetas mais conhecidos no Nordeste foi o cearense Manoel Caboclo e Silva que por muito tempo até meados da década de oitenta publicou seu famoso almanaque “O juízo do ano”, editado pela “Folhetaria Casa dos Horóscopos”, de sua propriedade, em Juazeiro do Norte. Poeta antes de tudo, Caboclo e Silva publicava anualmente seu almanaque no mesmo formato dos folhetos de cordel que ele também produzia e cuja tiragem era distribuída por quase todos os estados nordestinos. O livreto continha principalmente horóscopo, dicas de agricultura, humor, conselhos e curiosidades, como todo bom almanaque.
Seguindo o exemplo de Nostradamus, a maioria dos profetas populares prefere expor suas premonições em versos, não cifradas como as do famoso vidente, mas traduzidas em palavras francas e rimas comuns. Um exemplo é a profecia do poeta popular Lucas Evangelista, publicada em folheto de cordel intitulado “A queda do Planeta – O fim do mundo em dois mil”. O apocalipse, na previsão dele, viria por conta do choque de um satélite do planeta Saturno com a Terra. Evidentemente, treze anos já se passaram e o mundo continua em sua longa marcha. Lucas Evangelista, pelo menos, tem algo nobre que não há em Jucelino Nóbrega: a sedução da rima. Senão leiamos:

"A QUEDA DO PLANETA
(O fim do mundo em dois mil)

Autor: Lucas Evangelista

Leitores, a profecia
Na bola do mundo inteiro
Deu o primeiro sinal
O segundo e o terceiro
Daqui pra dois mil e seis
Vem o tombo derradeiro

O padre do Juazeiro
Tudo o que disse foi certo
O profeta Nostradamus
Não deixou nada encoberto
Os cientistas avisando
Que o fim do mundo está perto

Astrônomos contaram certo
No ano noventa e três
Desligou-se de Saturno
Um satélite em rapidez
Que vem em rumo da terra
Pra se chocar duma vez

Captaram a rapidez
Pelo satélite espião
Já avisaram em jornais
No rádio e televisão
Preparando todo o povo
Para a grande colisão

Uma grande escuridão
Poderá vir qualquer hora
Viga de ferro se quebra
Cabo de aço se tora
Quando os maiores da terra
Dão a mão à palmatória

Qualquer dia, qualquer hora
Vai ser grande o despero
Podendo arrasar Brasília
São Paulo e Rio de Janeiro
O choque vai ser tão grande
Que balança o mundo inteiro

Todo o país brasileiro
Poderá ser arrasado
Abrindo fendas no chão
Onde o povo é sepultado
Desaba bandas de serras
Fica tudo soterrado

Este planeta pesado
Pois a ciência não erra
O choque inflama vulcões
O grande arsenal de guerra
As usinas nucleares
Se rompe arrasando a terra

Por vale, montanha e serra
Cidades e capitais
Morre gente e criação
Carboniza os vegetais
Dez léguas de chão adentro
Semente não nasce mais

Derretendo os minerais
Pode haver grande explosão
Fervendo as águas dos mares
Fazendo evaporação
Só dez mil anos depois
Vem a nova geração

Os cientistas estão
Dia e noite a vigiar
Contra os poderes de Deus
Continuam a trabalhar
Fazendo todos os meios
Pra colisão evitar

A humanidade está
Nos contados dias seus
Não falo pra duvidosos
Para incrédulos nem ateus
É debalde pelejar
Contra os poderes de Deus

Como diz nos versos meus
Daqui pro final da era
O Capa Verde há de atacar
Ao lado da Besta-Fera
Levando toda imundície
Pra dentro duma cratera

O demônio se apodera
Dos perversos marginais
Mulher com os peitos de fora
Nas festas dos carnavais
Maníacos e psicopatas
Vão morar com o Satanás

O mundo não presta mais
A coisa vai ficar preta
A pedreira se arrebenta
Na pancada da marreta
No balançado da Terra
No impacto do planeta

Quem vai fazer pirueta
É o povo da safadeza
Sofrer as grandes torturas
Sem poder fazer defesa
Mas os cordeiros de Deus
Não são pegos de surpresa

Deus vai mandar com certeza
Um castigo diferente
Pra estes monstros sem alma
Que praticam barbaramente
Os crimes sem compaixão
Contra o pudor inocente

Pra esta classe de gente
Que vive da malandragem
Roubando sem piedade
Trabalhar, não tem coragem
Os parasitas humanos
Podem arrumar bagagem

Tá preparada a viagem
Par ao ano de dois mil
O satélite de Saturno
Parte no mês de abril
Direto ao planeta Terra
Com direção ao Brasil

Como bala de fuzil
É sua velocidade
Se ele cair na Terra
É grande a calamidade
Brasília, São Paulo e Rio
Se acaba mais da metade

Se o nosso planeta sai
Da rota que está girando
O sol cada vez mais quente
Parece que está baixando
Sinal que as coisas de Deus
Estão se desmantelando

O mundo está precisando
Da ajuda da humanidade
Diminuir as matanças
Afastar a crueldade
Abrandar os corações
Fazer de Deus a vontade

Porque só se vê maldade
Que o homem vem praticando
A mulher do mesmo jeito
Das coisas de Deus zombando
Por este povo sem dono
O diabo está esperando

Meninas se depravando
Cada vez mais continua
Se vê moça passeando
De calcinha pela rua
Nas praias, nos carnavais
Mulher desfilando nua

Muitas filhas continuam
Dando desgosto a seus pais
Passam noite nas boates
Agarrada com rapaz
Elas andam rebolando
E os velhos babando atrás

Casar, ninguém fala mais
Se um besta for tentar
Pedir uma em casamento
Ela diz: “Vou lhe avisar
Caso, mas se tu for mole
Leva chifre até lascar”

Tem rapaz que vai casar
Se arruma e se apronta
Botando chifre na noiva
Mas ela também desconta
Vai pra igreja levando
O crânio cheio de ponta

Hoje o homem se apronta
Dizendo que vai casar
Se casa, porém não cumpre
O que jurou no altar
Duas mulheres em casa
E quatro particular

Muito depois de casado
Um belo passeio faz
Na tal de lua-de-mel
Não sei o que vai atrás
Só vai encontrar a lua
Que mel não existe mais

O escândalo está demais
Dentro da sociedade
Os vícios pecaminosos
Arrasando a humanidade
Fumo, álcool, droga e Aids
Matando sem piedade

Do sertão para a cidade
É grande a devassidão
O povo é insinuando
Por rádio e televisão
Mergulhando a humanidade
No mundo da perdição

A nossa população
Vai entrar num grande jogo
O diabo soltando praga
Os anjos fazendo rogo
Os planetas se chocando
E o mundo pegando fogo

Precisamos fazer rogo
Reza, prece e oração
Novenas, hinos, promessas
Pedir paz e união
Para que o nosso mundo
Não se transforme em vulcão

Se livrar da tentação
Precisamos desde agora
Pedir a mão cheia de terra
Que jogou Nossa Senhora
Porque o nosso planeta
Pode explodir qualquer hora

O mundo vai, não demora
Quem quiser acreditar
Devotos da Mãe de Deus
Ela pode te salvar
E quem pertence ao demônio

Na certa ele vem buscar"

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