ALMANAQUES E PROFECIAS
Pedro Paulo Paulino
As chamadas profecias
sempre acompanharam a trajetória humana. A ilusão de quebrar a lei universal de
causa e efeito, e assim prever o futuro, está presente em quase todos os
povos. Sem jamais ter sido uma ciência, ou mesmo uma arte, a profecia é em si
uma prática cercada de crendice e misticismo. Nesse âmbito, o nome mais
celebrado entre os profetas é Nostradamus, o famoso vidente francês que
viveu na primeira metade do século dezesseis, mas ainda é considerado moderno ante
os profetas bíblicos. Afirma-se que Nostradamus previu, dentre outros
acontecimentos, a Revolução Francesa, as guerras mundiais, a bomba atômica e
até a descoberta da gravidade. O velho mago alinhavou suas profecias em quadras
de versos decassílabos e ao conjunto delas deu o nome de centúrias. Empregou em
suas profecias uma linguagem enigmática cuja maior magia deve estar no talento de
seus decifradores.
As profecias de
Nostradamus, ao que parece, já não têm mais combustível nos tempos atuais. Em seu
lugar, entretanto, não deixam de surgir outros videntes mais sofisticados e antenados com o
mundo moderno. O exemplo mais badalado no momento é o do vidente paranaense Jucelino
Nóbrega da Luz. Ele previu, por exemplo, que uma onda gigantesca destruiria em
novembro de 2013 a cidade de Fortaleza. Seu vaticínio foi, claramente, um
fiasco.
As predições dele, aliás, estão quase todas relacionadas àquilo que mais tem apaixonado os
profetas: catástrofes como terremotos, incêndios, enchentes, secas, hecatombes,
ciclones, calamidades, desabamentos, colapso na economia de algumas nações,
doenças etc. Fatos esses tão certos de acontecer em várias partes
do mundo, a qualquer momento, que prevê-los é escorregar para a redundância. No
caso de Jucelino Nóbrega, sua única e mais acertada previsão, não há dúvida,
foi ele ter adivinhado que com o charlatanismo conquistaria a mídia, a fama e o
sucesso financeiro, até mesmo através do mercado editorial. A popularidade em
torno do tal vidente apenas revela o lamentável alto índice de credulidade das
massas, principalmente pelo incentivo desbragado da mídia à insensatez.
Bem menos pernósticos
e muito mais modestos são os profetas populares, quase desaparecidos em nossos
dias. Sobrevivem ainda, e até de modo organizado, os chamados “profetas da
chuva”. Como o termo não encontrou até hoje um substituto mais realista, “profeta
da chuva” designa em particular o sertanejo que, através das “experiências” com
a natureza, prevê a seca ou o inverno em diversas partes do Nordeste. Nem mesmo
na meteorologia seria válido falar em previsão exata do tempo, haja vista que o
que essa ciência faz é um diagnóstico, em determinado período, das condições
atmosféricas para determinada área.
Já entre nós, as
profecias fundiram-se com os almanaques, de modo que uma coisa e outra ganharam
a mesma conotação popular. Um dos profetas mais conhecidos no Nordeste foi o
cearense Manoel Caboclo e Silva que por muito tempo até meados da década de
oitenta publicou seu famoso almanaque “O juízo do ano”, editado pela “Folhetaria
Casa dos Horóscopos”, de sua propriedade, em Juazeiro do Norte. Poeta antes de
tudo, Caboclo e Silva publicava anualmente seu almanaque no mesmo formato dos
folhetos de cordel que ele também produzia e cuja tiragem era distribuída por
quase todos os estados nordestinos. O livreto continha principalmente horóscopo,
dicas de agricultura, humor, conselhos e curiosidades, como todo bom almanaque.
Seguindo o
exemplo de Nostradamus, a maioria dos profetas populares prefere expor
suas premonições em versos, não cifradas como as do famoso vidente, mas
traduzidas em palavras francas e rimas comuns. Um exemplo é a profecia do poeta
popular Lucas Evangelista, publicada em folheto de cordel intitulado “A queda
do Planeta – O fim do mundo em dois mil”. O apocalipse, na previsão dele, viria
por conta do choque de um satélite do planeta Saturno com a Terra. Evidentemente,
treze anos já se passaram e o mundo continua em sua longa marcha. Lucas
Evangelista, pelo menos, tem algo nobre que não há em Jucelino
Nóbrega: a sedução da rima. Senão leiamos:
"A QUEDA DO PLANETA
(O fim do mundo em dois mil)
Autor: Lucas Evangelista
Leitores, a profecia
Na bola do
mundo inteiro
Deu o primeiro
sinal
O segundo e o
terceiro
Daqui pra dois
mil e seis
Vem o tombo
derradeiro
O padre do
Juazeiro
Tudo o que
disse foi certo
O profeta
Nostradamus
Não deixou nada
encoberto
Os cientistas
avisando
Que o fim do
mundo está perto
Astrônomos contaram
certo
No ano noventa
e três
Desligou-se de
Saturno
Um satélite em
rapidez
Que vem em rumo
da terra
Pra se chocar
duma vez
Captaram a
rapidez
Pelo satélite
espião
Já avisaram em
jornais
No rádio e
televisão
Preparando todo
o povo
Para a grande
colisão
Uma grande
escuridão
Poderá vir
qualquer hora
Viga de ferro
se quebra
Cabo de aço se
tora
Quando os
maiores da terra
Dão a mão à palmatória
Qualquer dia,
qualquer hora
Vai ser grande
o despero
Podendo arrasar
Brasília
São Paulo e Rio
de Janeiro
O choque vai
ser tão grande
Que balança o
mundo inteiro
Todo o país
brasileiro
Poderá ser
arrasado
Abrindo fendas
no chão
Onde o povo é
sepultado
Desaba bandas
de serras
Fica tudo
soterrado
Este planeta
pesado
Pois a ciência
não erra
O choque
inflama vulcões
O grande
arsenal de guerra
As usinas
nucleares
Se rompe
arrasando a terra
Por vale,
montanha e serra
Cidades e
capitais
Morre gente e
criação
Carboniza os vegetais
Dez léguas de
chão adentro
Semente não
nasce mais
Derretendo os
minerais
Pode haver
grande explosão
Fervendo as
águas dos mares
Fazendo evaporação
Só dez mil anos
depois
Vem a nova
geração
Os cientistas
estão
Dia e noite a
vigiar
Contra os
poderes de Deus
Continuam a
trabalhar
Fazendo todos
os meios
Pra colisão
evitar
A humanidade
está
Nos contados
dias seus
Não falo pra
duvidosos
Para incrédulos
nem ateus
É debalde
pelejar
Contra os
poderes de Deus
Como diz nos
versos meus
Daqui pro final
da era
O Capa Verde há
de atacar
Ao lado da
Besta-Fera
Levando toda
imundície
Pra dentro duma
cratera
O demônio se
apodera
Dos perversos
marginais
Mulher com os
peitos de fora
Nas festas dos
carnavais
Maníacos e
psicopatas
Vão morar com o
Satanás
O mundo não
presta mais
A coisa vai
ficar preta
A pedreira se
arrebenta
Na pancada da
marreta
No balançado da
Terra
No impacto do
planeta
Quem vai fazer
pirueta
É o povo da
safadeza
Sofrer as
grandes torturas
Sem poder fazer
defesa
Mas os
cordeiros de Deus
Não são pegos
de surpresa
Deus vai mandar
com certeza
Um castigo
diferente
Pra estes
monstros sem alma
Que praticam
barbaramente
Os crimes sem
compaixão
Contra o pudor
inocente
Pra esta classe
de gente
Que vive da
malandragem
Roubando sem
piedade
Trabalhar, não
tem coragem
Os parasitas
humanos
Podem arrumar
bagagem
Tá preparada a
viagem
Par ao ano de
dois mil
O satélite de
Saturno
Parte no mês de
abril
Direto ao
planeta Terra
Com direção ao
Brasil
Como bala de
fuzil
É sua
velocidade
Se ele cair na
Terra
É grande a
calamidade
Brasília, São
Paulo e Rio
Se acaba mais
da metade
Se o nosso
planeta sai
Da rota que
está girando
O sol cada vez
mais quente
Parece que está
baixando
Sinal que as
coisas de Deus
Estão se
desmantelando
O mundo está
precisando
Da ajuda da
humanidade
Diminuir as
matanças
Afastar a
crueldade
Abrandar os
corações
Fazer de Deus a
vontade
Porque só se vê
maldade
Que o homem vem
praticando
A mulher do
mesmo jeito
Das coisas de
Deus zombando
Por este povo
sem dono
O diabo está
esperando
Meninas se
depravando
Cada vez mais
continua
Se vê moça
passeando
De calcinha
pela rua
Nas praias, nos
carnavais
Mulher desfilando
nua
Muitas filhas
continuam
Dando desgosto
a seus pais
Passam noite
nas boates
Agarrada com
rapaz
Elas andam
rebolando
E os velhos babando
atrás
Casar, ninguém
fala mais
Se um besta for
tentar
Pedir uma em
casamento
Ela diz: “Vou
lhe avisar
Caso, mas se tu
for mole
Leva chifre até
lascar”
Tem rapaz que
vai casar
Se arruma e se
apronta
Botando chifre
na noiva
Mas ela também
desconta
Vai pra igreja
levando
O crânio cheio
de ponta
Hoje o homem se
apronta
Dizendo que vai
casar
Se casa, porém
não cumpre
O que jurou no
altar
Duas mulheres
em casa
E quatro particular
Muito depois de
casado
Um belo passeio
faz
Na tal de
lua-de-mel
Não sei o que
vai atrás
Só vai
encontrar a lua
Que mel não
existe mais
O escândalo
está demais
Dentro da
sociedade
Os vícios
pecaminosos
Arrasando a
humanidade
Fumo, álcool,
droga e Aids
Matando sem
piedade
Do sertão para
a cidade
É grande a
devassidão
O povo é
insinuando
Por rádio e
televisão
Mergulhando a
humanidade
No mundo da
perdição
A nossa população
Vai entrar num
grande jogo
O diabo
soltando praga
Os anjos
fazendo rogo
Os planetas se
chocando
E o mundo
pegando fogo
Precisamos fazer
rogo
Reza, prece e
oração
Novenas, hinos,
promessas
Pedir paz e
união
Para que o
nosso mundo
Não se transforme
em vulcão
Se livrar da tentação
Precisamos desde
agora
Pedir a mão
cheia de terra
Que jogou Nossa
Senhora
Porque o nosso
planeta
Pode explodir
qualquer hora
O mundo vai,
não demora
Quem quiser
acreditar
Devotos da Mãe
de Deus
Ela pode te
salvar
E quem pertence
ao demônio
Na certa ele
vem buscar"
Nenhum comentário:
Postar um comentário