terça-feira, 11 de junho de 2013


NAS ONDAS DA INTERNET



Francisco de Assis de Freitas*

Velhos amigos há muito sumidos ressurgem cuidando de suas vidas, casados e com filhos já passando da adolescência, nas telas de computador com suas variadas redes sociais, onde vemos fotos de família e eventos, mensagens e compartilhamentos, além de algumas inúmeras futilidades. Como ocorreu comigo recentemente,quando reencontrei através da internet antigos companheiros do meu curso de formação de soldado, sendo que alguns não os via há mais de vinte anos. Eis aí um dos inúmeros benefícios da internet: o reencontro de amigos e parentes separados por décadas e longa distancia. Infelizmente nem tudo são flores na grande rede mundial de computadores; algumas pessoas a utilizam para cometer crimes, roubar pessoas incautas, enganar, fofocar, lançar mexericos e mentiras. Na realidade, a internet é uma fantástica ferramenta que ainda não foi completamente explorada e compreendida, e seu mau uso pode gerar um grande mal.
Sabemos que quando um fato mentiroso é lançado contra alguém, é como areia jogada no ventilador. Por mais que você tente limpar, jamais vai ficar totalmente limpo, sempre sobram alguns grãos. Por mais que a verdade venha à tona, por mais que se desminta o que de fato houve, quem foi algum dia vítima de mentiras e fofocas jamais se reerguerá novamente por completo. E desde o surgimento da internet, estas situações e sequelas são piores ainda.
Falando em mentiras, alguns velhos amigos, quando se reencontram, costumam contar fatos pitorescos do seu cotidiano, ou mesmo bravatas que ecoam dos tempos de heróis. Em alguns locais desses encontros, em Canindé, por exemplo, é possível que alguém reescreva a seguinte frase: “aqui se reúnem pescadores, caçadores e outros mentirosos”, como em certa barbearia localizada em Santa Quitéria que vi há muitos anos quando fui para lá a primeira vez. Acrescentando-se aos pescadores e caçadores, políticos, comerciantes, policiais e outros profissionais. Brincadeira à parte, sempre é bom rever velhos amigos, ouvir suas histórias e estórias, às vezes sabemos que Pedro ou João já foi ao encontro do Criador, ou o filho de alguém já está formado e como vai o resto da família, nem que seja pela internet. E chafurdando a vida alheia na grande rede, vemos de tudo um pouco.
Desde textos grandes que ninguém lê com boas crônicas de um grande escriba, fotos de tempos idos de nossa terra, resgatadas do fundo do baú, trazendo de volta memórias de épocas mais inocentes, passando por frases de efeito, montagens de fotos bizarras e, lógico, a boa e velha fofoca, principalmente do mundo das pseudo-celebridades.
Além de tudo isso e muito mais, na internet também há o espaço de vídeos os mais diversos, sendo que um destes chamou-me a atenção por tratar de fato que não é tão incomum na vida de policiais no dia a dia de atendimento de ocorrências.  O vídeo foi gravado próximo à Base Aérea de Fortaleza e mostra um homem, descrito como usuário de drogas, sentado no viaduto tentando jogar-se para a morte certa e fugir dos seus problemas e responsabilidades, porém a chegada de policiais militares do Ronda muda o enredo da história.
Os policiais desembarcam da viatura e um deles inicia um diálogo com o suicida, ergue as mãos em direção ao desesperado homem, aparenta controle e tranquilidade, aproxima-se calmamente, fica a um metro e meio mais ou menos, continua conversando, retira sua boina como se quisesse chamar a atenção do suicida para um ponto fora de seu rosto e num rápido movimento o agarra pelo pescoço e o coloca ao solo e depois o conduz para próximo da viatura, quando uma mulher chega e mantém contato com eles.
O vídeo pára por aí sem dar maiores detalhes da identificação dos protagonistas da cena, entretanto, centenas de internautas ao virem o vídeo tecem comentários elogiosos aos policiais e críticas à grande mídia que não explorou o fato caso fosse um ato de flagrante violação de direitos humanos. Imaginem se a ação do nobre militar tem resultado adverso, ou mesmo se o suicida ao lutar para se desvencilhar do policial, também o leva para a eternidade. Certamente seria chamado de irresponsável ou inconsequente, despreparado, que descumpriu ordens e não esperou por policiais especialistas em gerenciamento de crises, ou na segunda hipótese, além dos adjetivos já citados, que sua corporação não lhe dá o devido treinamento, o que não é de todo uma inverdade.                                                                               No big brother em que vivemos, câmeras que disparam para todos os lados, aliadas da poderosa internet, têm poder de criar vilões e heróis do dia para a noite.
Pessoas que criticam uma ação errada de um policial em que alguém venha a sair ferido ou mesmo tombe sem vida, não imagina o grau de tensão que possa surgir em ocorrências de crise e negociação de conflitos, ou mesmo a contenção de um homem embriagado e descontrolado, “botando boneco”, como em uma cena que testemunhei, ocorrida nos primeiros dias de maio deste seco 2013 no centro de Canindé, quando um jovem de uns 25 anos era contido por familiares e amigos, causando certa desordem e já chamando a atenção dos passantes, quando dois policiais de moto, pertencentes à 1ª Cia. do 4º BPM, chegam para contê-lo; o homem esboçou reação e mesmo à paisana e de folga, resolvi intervir no fato, visto que familiares em tom mais exaltado, já questionavam a ação dos policiais, achando errado o fato de algemarem um homem descontrolado, embriagado e que tentou agredir fisicamente dois agentes do Estado devidamente uniformizados e identificados. Rapidamente o fato foi contornado com a chegada de uma viatura do Ronda que o conduziu para a delegacia e acabou com a festa.
Não imaginam que as decisões dos policiais são tomadas em frações de segundo e às vezes representam a diferença entre a vida e a morte. Diferentemente de decisões tomadas em gabinetes com ar-condicionado e que sofrem a influência de terceiros, como no caso da votação de leis e sentenças judiciais.
Assim como no caso do desordeiro em Canindé e do suicida, houve êxito na ação dos policiais, como na maioria das vezes em que exercem seu labor. Uma vida foi salva. Um herói surgiu do anonimato e do cotidiano de seu ingrato ofício e esperamos que inspire mais ações deste tipo para quando leigos perguntarem a algum policial se ele já matou alguém no exercício de sua profissão, ele responda que graças a Deus não, mas que algumas vidas ele já salvou.

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*Cabo PM, colaborador do blog.



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