segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Do blog ACORDA CORDEL, do companheiro Arievaldo Viana, transcrevemos essa curiosidade da literatura popular

PINTASSILVA (OU PINTASSILGO):
Um passarinho irreverente

Arievaldo Viana

Antônio Anastácio Leitão, vulgo “Pintassilva”, foi um o trovador popular que residiu por muitos anos na Fazenda São Pedro, em Canindé. Era natural da Fazenda Trapiá, no mesmo município. Muitas glosas do velho menestrel foram recolhidas pelo Chico Walter, contra-baixista e vocalista da banda “Outros Toques”, um admirador incondicional da cantoria e da cultura popular. Pouco antes do velho poeta falecer, Chico Walter recebeu das mãos dele um caderno com suas glosas, e retém na memória grande parte desses escritos. Informa-nos ainda, que o senhor Otávio Silva, amigo de “Pintasilva”, foi a um casamento na localidade de Porrote, situada depois do Felão, na zona rural de Canindé, e por lá passou muita fome. O Porrote é um lugarejo distante e de difícil acesso. Como diria o Flaubert, experiente agrimensor e conhecedor de todos os quadrantes de Canindé: “O Porrote não fica propriamente no inferno, mas dá pra escutar os diabos conversando bem pertinho”. Pois bem, o Otávio passou fome de cachorro amarrado, porque os noivos foram casar na matriz do Canindé e estavam demorando a voltar. Depois das sete da noite, cansado de tanto esperar, o convidado resolveu voltar pra casa do jeito que foi, ou seja, com fome. No caminho, encontrou com o amigo Pintasilva e relatou seu infortúnio. Pinta transformou o drama do amigo em versos, dos quais pinçamos estas duas estrofes:


“Para um casório de nome
Um dia fui convidado
Para assistir a um noivado
Quase que morro de fome…
Na casa que não se come
Caneco não vai ao pote
Uma surra de chicote
Não paga o mal que eu passei
E nunca mais que eu irei
Casamento no Porrote.


Quando um dia um urubu
Enjeitar carniça quente,
A galinha criar dente,
Criar cabelo em muçu,
Gato enjeitar gabiru,
E cobra enjeitar caçote,
Se acabar pedra em serrote,
Leão deixar de ser rei,
Só nesse dia eu irei
Casamento no Porrote.”

4 comentários:

  1. muito bom em .................

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  2. As glosas do "PINTASILVA" tem o sabor do cajá silvestre, tira-gosto predileto de quem gosta de aguardente. A marca registrada do poeta era o bom humor, a irreverência e, sobretudo, o senso de observação sempre distoante da mediocridade. Por ser um poeta matuto, pouco afeito às luzes dos teatros, palco para onde a cantoria migrou desde os tempos dos irmãos Batista (Lourival, Dimas e Otacilio), Pintasilva sempre preferiu as feiras, as latadas e as bodegas, onde deu vazão ao seu estro de poeta autêntico e inspirado.
    Muito oportuna a repostagem do blog VILA CAMPOS ON LINE. Tenho dito!

    Arievaldo Viana

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  3. Não seria pintassilgo.....

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  4. Realmente o nome do pássaro é PINTASSILGO mas as pessoas chamavam o poeta PINTASILVA. Cansei de ver os próprios colegas o tratarem dessa maneira, ali na bodega do Sr. Joaquim Caruca, no mercado velho, onde ele se apresentava.

    Arievaldo Viana

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