quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

CORDEL


Os últimos acontecimentos em Fortaleza na visão do poeta João Pajeú.

ARRASTÃO EM FORTALEZA
TRANSFORMOU-SE EM FIM DE MUNDO

Poeta João Pajeú

Alerta do fim do mundo
Todo instante se anuncia,
Mas o mundo não se acaba,
Porque vai dia e vem dia
E a Terra continua
Girando com garantia.

Porém, para muita gente
Todo dia o mundo finda:
Acaba para quem morre,
Pra quem fica na berlinda,
Mas pra grande maioria
Continua o mundo, ainda…

Lá na grande Fortaleza,
No dia três de janeiro,
Trombetas anunciaram
Ser o dia derradeiro,
Foi um dia de juízo,
Um inferno verdadeiro.

Numa cidade deserta,
Transformou-se a Capital.
O povo se recolheu
Temendo a onda do mal.
Todo mundo estava crente
Ser o Juízo Final.

O bicho tomou de conta
E só fazia crescer.
O Centro ficou deserto,
Sem comprar e sem vender;
Nas praças, só as estátuas
Que não podiam correr.

De modo que todo canto
Ficou triste e desolado,
Pois até cego correu,
Como correu aleijado,
E não se encontrava nem
Messalina de soldado.

Desta vez não foi dilúvio
Nem o fogo apocalíptico,
Pois a Besta-Fera veio
Na figura de um político
Que deu as costas ao povo
No seu momento mais crítico.

Deixou a população
Na cruel desesperança
E também no abandono
Homem, mulher e criança,
Porque ficou o Estado
Em total insegurança.

Uma onda de desastres
Foi ganhando proporção.
Por ruas e avenidas,
Em cada palmo de chão,
Foi chegando o Armagedom
Na figura do arrastão.

Sem governo e sem polícia
Ficou a grande cidade.
A população em pânico,
Com tanta barbaridade,
Refugiou-se em seu lar
Suplicando caridade.

Enquanto isso, lá fora
Bandido pintava o sete,
Assaltando de revólver,
De peixeira e canivete,
E a grande boataria
Invadindo a internet.

Isto, porque esqueceram
Na santa Bíblia Sagrada,
Que um dia a internet
Surgiria assim do nada,
Pra fazer o fim do mundo
De forma mais apressada.

Foi o que aconteceu,
Pois conforme o que se via,
As notícias davam conta
Na rede, com garantia,
Que antes do fim da tarde
O mundo se acabaria.

Outro detalhe esquecido,
É que o Juízo Final
Tinha um motivo, uma causa,
Porque lá na Capital
Começou o fim do mundo
Com greve policial.

A gloriosa polícia,
Praças, cabos e sargentos,
Até o alto comando
Engendraram movimentos
Pedindo ao governador
Melhora nos vencimentos.

Mas a nobre autoridade,
Com problemas de audição,
Desprezou o movimento,
Imperando a lei do cão,
E só quem pagou o pato
Foi mesmo a população.

Pois o chefe do governo,
Se mostrando furibundo,
Deixou a cidade entrege
Pelas mãos do vagabundo.
Dizem até que ele fugiu
Pra não ver o fim do mundo.

Se Deus levou sete dias
Pra sua obra terminar,
Criando a água e a luz,
A nossa terra e o ar,
Aqui, passaram seis dias
Para o mundo se acabar.

Foram seis dias de greve,
De terror e insensatez.
E o mundo se encaminhando
Para o seu final, talvez…
Coisa que aconteceu
Terça-feira, dia três.

A prefeita Luiziane,
Vendo a previsão dos Maia,
Resolveu se despedir
Levando milhões à praia,
Pra na virada do ano
Darem nela grande vaia.

O fim do mundo alastrou-se
No interior do Estado,
Porque em várias cidades
Também foi anunciado:
Findaria o mundo, mal
Tinha o ano começado.

Na cidade Canindé
O fim do mundo chegou
Também nesta terça-feira,
O povo todo rezou,
A cidade desolou-se
E seu comércio fechou.

Até mesmo seu Toinho
Fechou logo a sua toca,
Com medo do arrastão
Levar da sua biboca
Um CD do Amado Edilson
E três litros de Ypióca.

Relatei o fim do mundo
Na cidade de Iracema
Eu mesmo fiquei distante
Pois não gosto de problema
Como sou sobrevivente
Relatei tudo em poema

Graças a Deus, o sertão
Ficou fora desse angu,
Embora aqui continue
Na cantiga do peru,
Eu sou mais a minha terra,
Assina João Pajeú.

3 comentários:

  1. Excelente folheto-reportagem, seguindo a tradição de Leandro e José Pacheco, de ver os fatos mais críticos pela ótica da sátira e do bom humor, ao mesmo tempo em que traz informações sobre os fatos ocorridos. Parabéns!

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  2. E os primeiros crime insolúveis do ano já ocorreram por aqui na bairro Palestina, o que demonstra que o sertão não permanece tão pacífico, sem embargo dos versos primorosos do poeta que já cantou a saga de Mel...

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  3. O Pajeú, quando fala
    Só usa de boa-fé
    Me refiro ao meu sertão
    Donde não arredo o pé
    O sertão mesmo do mato
    E não lá do Canindé kkkk

    João Pajeú.

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