DOIS SONETOS DE ROGACIANO LEITE
FLAMBOYANT
Meu velho flamboyant de minha porta,
Que à tua sombra tanto me abrigaste!
Tinhas outrora tanta seiva na haste,
Por que tens hoje toda a fronde morta?!
Resta-te apenas uma galha torta…
Por que morreste assim?! Por que secaste?!
Nas rugas do teu tronco só se embaste
Crispada casca que o gorgulho corta!
Quem te viu tão florido e agora pêco
Sente a tristeza de um cadáver seco
Que a terra ingrata irá comer depois…
Meu pobre flamboyant! Que desenganos!
Morreste agora, com duzentos anos,
E eu vou morrer, talvez… com vinte e dois!
O EXEMPLO DAS ORQUÍDEAS
Como quem quer sanar as aflições alheias
E amenizar a dor das almas mais aflitas,
No tronco pobre e nu das árvores mais feias
Vicejam as orquídeas sempre mais bonitas.
Entre os homens, porém, há muitos parasitas
Que, sendo, justamente as árvores mais feias,
Só se enroscam nos pés das árvores bonitas…
- Para melhor sugar o que elas têm nas veias!
Esses interesseiros pérfidos e ingratos
Deviam refletir melhor sobre seus atos
E ver quanto é sublime o exemplo das orquídeas…
No entanto, têm somente o instinto mau do abutre:
Vivem da proteção dessa árvore que os nutre,
Pra matá-la, depois, combrindo-a de perfídias!
Dos 14 sonetos que constam na edição de 1971 de Carne e Alma, a escolha desses a mim parece ideal. Rogaciano é um cultor da simplicidade, apesar de todos os floreios com lhe brinda Câmara Cascudo no prefácio da edição citada, colhido alhures e não escrito para tal fim, diga-se em desnecessária defesa ao grande mestre potiguar. Não sei como não percebemos antes a grande semelhança de estilos entre o poeta pernambucano e nosso vate amigo Wanderley Pereira.
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