REVIVENDO UM GRANDE AMIGO
Pedro Paulo Paulino
Há 16 anos, na data de hoje (2/12), Canindé se despedia de Francisco Leônidas Vidal, nome dos mais conceituados e queridos nesta comuna. É com a mais sincera saudade que nestas linhas relembro a pessoa de caráter incomum que foi o Batestaca - seu apelido carinhoso. Em seu amplo círculo de amigos, entre os que estão entre nós seu nome é sempre relembrado com nostalgia e admiração. Cultor de boas relações, teve uma existência cercada de pessoas que nele encontravam o companheiro leal e puro. Laborioso em tudo, edificou uma reputação de alcance invejável, tornando-se um dos vultos mais populares de Canindé em seu tempo por todo este sertão.
Sua origem potiguar, do aventureiro que chegou em Canindé nos idos de 40, aos poucos foi perdendo nitidez para o conterrâneo nosso que se tornou o Batestaca em todas as suas afinidades com nossa terra e nossa gente. Homem simples, mesmo tendo subido os degraus da opulência, soube manter indelével sua modéstia a vida inteira. Do pequeno comerciante ao lojista respeitado, fazia questão de jamais negar sua origem humilde. Mesmo quando construiu seu vistoso prédio no centro comercial de Canindé, um dos primeiros edifícios modernos da cidade e onde reinstalou seu comércio, conservou o nome - A Lojinha -, sem esquecer o protótipo do grande empreendimento que o colocou entre os mais prósperos empresários destas plagas.
A história de vida de Francisco Leônidas Vidal é dessas que para um novelista já vem fermentada por si própria. Filho de pessoas modestas da cidade de Patu, ele veio a Canindé em busca do pai, que aqui chegou como pagador de promessas e estabeleceu-se. O reencontro de pai e filho fixou este definitavamente nesta cidade, onde trabalhou, casou, constituiu família, fama e prestígio. Espírito brando, Batestaca tinha o rosto iluminado sempre por um sorriso sem preço. A dimensão da sua benevolência podia ser avaliada em todos os momentos e em todos os setores a que ele comparecesse, da mais alta posição ao patamar mais simples da comunidade. E tudo indica que era nesta parcela da população onde a alma do nosso saudoso amigo mais se sentia livre.
Desportista, católico praticante, empresário, incentivador das artes, boêmio dos bons, amigo da poesia e bom contador de causos, em tudo Batestaca emprestava aquela alegria franca e espontânea. Ao lado de outros canindeenses de peso, dentre eles o professor Laurismundo Marreiro e seu irmão Marreirinho, Batestaca é uma dessas pessoas que se pode dizer deixou uma lacuna impreenchível numa mesa de amigos. A piada mais boba, saindo de sua boca, tinha graça. Amante da cultura, e autodidata, era um ledor voraz de bons livros, com predileção para os escritores nordestinos. Guardo na lembrança a imagem viva do Batestaca, onde quer que estivesse, sempre com alguma leitura à mão, fosse um livro ou o mais recente número da revista Seleções. Em seu escritório no comércio ou na sua sala de estar, certamente havia o que ler ao seu redor. E era poeta. Guardo como um tesouro alguns de seus versos manuscritos. O seu bom gosto estava presente em tudo. Essa sua inclinação para a cultura fazia-o sempre cercado dos debutandes das artes canindeenes, uma geração recente que produziu músicos, poetas, artistas plásticos e os atuais cordelistas de fama desta cidade. E mais à vontade ficava ele na presença de um violão, com cujos acordes casava bem a sua voz cantando alguma coisa do seu artista preferido, Augusto Calheiros.
O reconhecimento e o apreço que os canindeense lhe tinham inevitavelmente o conduziram à política local, elegendo-o, entre 1973 e 1976, vice-prefeito da cidade que foi então administrada por Walter Cruz Uchoa, outro canindeense ilustre. Antes disto, a gratidão da cidade que o acolheu, e que por ele foi acolhida, veio com o título de cidadão canindeense, iniciativa do vereador Tonico Marreiro. Outra prova do carinho dos nossos conterrâneos com Batestaca podia ser notada na legião de pessoas que o tiveram como padrinho de batismo, ao lado de sua esposa d. Hilda, com a qual construiu uma família de pessoas não menos queridas em nosso meio. De sua convivência com todos nós, guardamos na memória vários registros da existência marcante do Batestaca, que a todos chamava com carinho “meu nêgo” ou “cabra bom”. Era a sua marca expressiva.
Francisco Leônidas Vidal era desses homens para quem a solidariedade chegava a ser um imperativo, um lema de vida. Humanitário, sensível, grato e honesto, um dos raros caracteres de que tivemos a honra da sua convivência. Dono de uma sólida cultura cristã alicerçada em sua própria experiência de vida. É caminhando ainda pelas ruas desta tua cidade, enxergando em cada canto o teu riso pleno e suave, ouvindo em cada reencontro o eco da tua prosa cheia de graça, que com muita saudade brindo-te daqui à tua grande alma, cabra bom!
Leia também no site KANINDÉ CULTURAL: "Batestaca - o center ralf".
NOSSA LÍNGUA
Tirar o cabresto Tirar a virgindade de alguém.
Batestaca era antes de tudo um homem de bem. Afável no trato, muito caridoso e extremamente brincalhão. Tenho boas lembranças dele e também da D. Hilda que compartilhava de todas as qualidades do esposo. A história de vida dele daria um excelente livro, partindo de sua origem humildade a condição de grande comerciante, além é claro, do registro das inúmeras jocosidades que ele contava e de outras em que ela o protagonista.
ResponderExcluir- Lembro que quando foi lançado o automóvel "Passat" o Batestaca comprou um zerinho. Era um carro muito veloz e ele foi para Fortaleza dando carona a algumas pessoas. O Fato é que o carro virou e felizmente todos sairam ilesos. De regresso a Canindé em outro veículo não faltava quem perguntasse como foi o acidente e ele já de saco cheio de tanto repetir, simplesmente dizia: -- Não sei, eu fui cuspir e quando voltei a cabeça o carro já tinha virado.
Augusto Cesar Magalhães
Embora digam sempre de todos que morrem da sua bondade, talento, empatia (essa rara capacidade de se colocar no lugar do outro, fundamento da solidariedade cristã ou laica) nosso saudoso amigo Batestaca de fato cativava a todos pela sua autenticidade, da qual tive o privilégio de partilhar, em sua veleidade de poeta. Saudades do amigo
ResponderExcluirCOM A SUA PERMISSÃO,"PEDRITO", GOSTARIA DE LÊR A SUA CRONICA BELÍSSIMA, DOMINGO, NO "FIM DE SEMANA COM O TONICO", CUJA PEÇA ESCRITA RETRATA A SAUDADE QUE TODOS NÓS CANINDEENSES SENTIMOS DESTE IMORTAL AMIGO BATESTACA.
ResponderExcluirIMORTAL PORQUE NÃO CONSEGUIMOS O EXTRAÍR DO NOSSO CORAÇÃO, MUITO MENOS A SUA IMAGEM ALEGRE E BENFAZEJA DA NOSSA RETINA.
TONICO MARREIRO
Francisco Leônidas Vidal, grande personalidade canindeense que deixou saudades de todos nós... Meu padrinho desejo a MENSAGEM DE VICTOR HUGO (Espirito) PARTIDA E CHEGADA.
ResponderExcluirQuando observamos, na praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar a dentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara.
O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.
Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.
Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: "já se foi".
Terá sumido? Evaporado?
Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.
O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós.
Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas.
O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver.
Mas ele continua o mesmo.
“E talvez, no exato instante em que alguém diz: já se foi”, haverá outras vozes, mais além, a afirmar: "lá vem o veleiro".
Assim é a morte.
Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: "já se foi".
Terá sumido? Evaporado?
Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.
O ser que amamos continua o mesmo. Sua capacidade mental não se perdeu.
Suas conquistas seguem intactas, da mesma forma que quando estava ao nosso lado.
Conserva o mesmo afeto que nutria por nós. Nada se perde a não ser o corpo físico de que não mais necessita no outro lado.
“E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: já se foi”, no mais além, outro alguém dirá feliz: "já está chegando".
Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a viagem terrena.
A vida jamais se interrompe nem oferece mudanças espetaculares, pois a natureza não dá saltos.
Cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.
A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas.
Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada.
Um dia partimos do mundo espiritual na direção do mundo físico; noutro partimos daqui para o espiritual, num constante ir e vir, como viajores da imortalidade que somos todos nós.
Pensamentos de Victor Hugo (Espírito)
Do livro “A reencarnação através dos séculos” - Lair Lacerda
Que DEUS abençoe e proteja a todos, muita paz... Itami de Morais
Esqueci de falar no meu comentário sobre a beleza de crônica que o Pedro Paulo elaborou. Parabéns PEDUPA, o velho "Bate" merece. A propósito, emende com a crônica da "Fazenda do Castelo".
ResponderExcluirAbraço
Augusto Cesar Magalhães
Meu primeiro emprego foi na loja dele vendendo botões, linha, zíper...Lembro muito bem do jargão: "Vai chover e não tem lenha", era típico dele.
ResponderExcluirO Cesar Magalhães lembrou-me um epidódio engraçado ocorrido com o Batestaca, do qual fui testemunha. Certa vez, ele veio passar um dia aqui na Vila Campos. À tarde, retornamos para Canindé. Havia chovido. Pela metade do caminho, apontei para uma propriedade do lado esquerdo da rodovia. Enquanto toda a paisagem ao redor estava verde, naquele pedaço de terra avistava-se apenas um pedregulho branco e ao fundo uma casa de alpendre. Eu então disse: “Batestaca, esta é a fazenda do Castelo”, referindo-se ao nosso amigo Castelo, um ex-parceiro de copo. Ao chegar em Canindé, Batestaca olhou-me e disse: “Pedupa, fiz ums versos para a fazenda do Castelo”. E desembuchou:
ResponderExcluir“Não tem baixa pra plantio
Nem capim para um jumento
Madeira, não tem nenhuma
Eu digo, provo e sustento
Nem pro cabo dum martelo
A fazenda do Castelo
Só presta pra calçamento”.
gostei muito pedro, com certesa noso anigo diasis, vai gostar, desta homenagen . bjs (Rejane Vidal)
ResponderExcluirConfesso que chorei de saudade..Obrigado (Euclides Laureano Neto)
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ResponderExcluirSe tivesse chegado em Canindé mais cedo tria tido o prazer de t conhecido este q foi um empreendedor q muito contribuiu ao desenvolvimento da sociedade canideense. Parabéns a vc Pedro pelo reconhecimento de pessoas q realmente merecem. (Cícero Aquino)
ResponderExcluirUm certo dia ele contou uma historia .Ele era rapaz ai paquerava c uma moça , td dia ele passava em frente a casa dela de bicicleta,ela tava na janelaele so via ela da cintura pra baixo.Qd foi um dia ele ia passando e soltou o guidon da bicicleta pra se amostrar.Se tacou no chao ela correu pra ajudalo,so q qd ele olhou ela so tinha da cintura pra cima.Ele e suas historias. (Stênio Bergson Melo Rocha)
ResponderExcluirÊSSE TINHA O CORAÇÃO TÃO BOM QUE VENDIA FIADO PARA TODOS ERA CONHECIDO COMO O HOMEM QUE CONFIAVA EM TODOS QUE DEUS O TENHA NO MELHOR LUGAR !!! \(Geovane Paulino)
ResponderExcluirPedro Paulo vc foi demas com a homenagen ao meu avô parabens a vc (Jefferson Vidal)
ResponderExcluirFICO MUITO FELIZ COM O COMENTÁRIO DO PEDRO PAULO COMO SOU O 1° NETO DELE E SIM MUITA FALTA DO MEU AVO
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