RESGATE DOS MINEIROS CHILENOS
COMPLETA UM ANO
Operação resgate no Deserto do Atacama, Norte do Chile, em 13 de outubro de 2010 |
Pedro Paulo Paulino
Há exatamente um ano, o melhor comentário sobre o resgate dos 33 meneiros chilenos soterrados, eu ouvi do jornalista da rede Globo, Alexandre Garcia. Ele disse: “Uma vitória da solidariedade e do engenho humano”. Dito e feito. Foi um dos mais espetaculares exemplos de solidariedade humana mostrado ao mundo inteiro naquele 13 de outubro de 2010, quando a sonda Fênix trouxe à superfície os 33 homens confinados dentro da terra por 69 dias, na mina de San José, no Deserto do Atacama, Norte do Chile.
A megaoperação, que se tornou um fenômeno midiático, alcançou êxito bem antes do previsto, para sorte dos mineiros e felicidade de seus familiares. A perfuração de um túnel de 700 metros e a construção de uma sonda própria para o resgate comprovam a capacidade do homem para contornar desafios e situações delicadas. O nome dado a sonda foi o mais feliz possível: Fênix, o pássaro fabuloso que renasce das cinzas.
Um enorme exército de pessoas, de diversas áreas profissionais e de vários países, uniu-se generosamente para salvar os 33 trabalhadores. E um bocado de toda a soma de recursos tecnológicos desenvolvidos até hoje foi aproveitado na operação. Da corda ao telefone celular, da roda ao computador, tudo foi empregado caprichosa e calculadamente na execução dos trabalhos de resgate.
Mas o exemplo de solidariedade maior não veio somente dos que estavam fora do subterrâneo. Veio também deles, os mineiros soterrados, que durante 69 dias aprenderam a enfrentar o drama, gerando um verdadeiro insight para momentos de dificuldade extrema. O modo como evitaram o desespero geral entre eles e até mesmo o suicídio coletivo em potencial, só pode ter sido alcançado por meio de um espírito forte de solidariedade que os contagiou, reforçando neles o auto-controle, a esperança de sobrevivência e de resgate.
É quase impossível, suponho, que no meio de 33 pessoas não haja alguém acometido de claustrofobia, o medo mórbido de lugares fechados, uma das fobias mais comumente encontradas. E se tal pessoa havia entre os 33 mineiros, certamente a coragem e a firmeza dos outros companheiros anularam esse pavor. Porém, tão ou mais estressante, creio, que passar 69 dias confinado num buraco, foram os cerca de doze minutos fechado e amarrado dentro de um cubículo de 53 centímetros , por um túnel de 700 metros . Dentro da mina, pelo menos, a sensação de não estar só devia amenizar a angústia. Mas ali, naquele espaço reduzidíssimo da sonda… Não calculo o tamanho da ansiedade e da expectativa desses viajantes da Fênix para ver o mundo aqui fora!
Em todos os detalhes, o exemplo dos mineiros soterrados pode ser entendido como é grandioso e importante o conjunto de mentes sintonizadas com um objetivo comum. E mais fundamenal ainda, quando essa aliança cerebral acontece em favor da vida.
No caso dos mineiros chilenos, uma verdadeira operação de guerra foi montada para salvá-los. A mesma tecnologia empregada para destruir, viu-se ali utilizada para salvaguardar. O mundo inteiro viu pela televisão, naquela madrugada de 13 de outubro, o quanto podemos fazer por nós mesmos quando o espírito de solidariedade, aliado à inteligência, vence.
Pedro Paulo descreveu com fidelidade e riqueza de detalhes a aventura do resgate dos mineiros chilenos. E fez observações muito perspicazes, sobretudo no que se refere à união perfeita da solidariedade humana com a ciência. Pena que isso só aconteça em momentos de perigo, em acidentes e guerras, embora de vez em quando tenhamos notícia de feitos heroicos praticados por pessoas comuns, no nosso cotidiano.
ResponderExcluirO acervo de conhecimentos científicos da humanidade é espantoso, mas nem sempre é utilizado em favor da população, especialmente os mais pobres, que vivem em condições pré-históricas. Vale salientar que o excelente nível de vida de alguns países da Europa, do Canadá, da Austrália e do Japão é fruto também da solidariedade, visto que no Estado do bem-estar social as pessoas e o governo priorizam, em boa medida, o coletivo em vez do egoísmo competitivo, característico do capitalismo selvagem, que por sinal ainda predomina no Brasil. E nesses mesmos países a ciência é valorizada, sendo destinado um volume significativo de recursos para a pesquisa básica e aplicada, motivo da existência de empresas multinacionais com tecnologia de última geração, o que contribui para uma geração de renda suficiente para sustentar a saúde e educação públicas e a assistência social a idosos e desempregados.
Por sinal, o Chile é um país que, embora não tenha tantos recursos naturais quanto o Brasil, dá à sua população o nível médio de vida melhor da América Latina.
Flávio Henrique