PELEJA DE DOIS POETAS
SOBRE HORÁRIO DE VERÃO
Pedro Paulo Paulino
Pedaços de uma peleja
Para o papel eu transponho
E para nossos leitores
Neste momento disponho
O duelo dos poetas
Noite Alta e Céu Risonho
Dois cantadores paidégua
Que no sertão escutei
E trechos de uma peleja
Na mesma hora gravei
Sobre um tema bem moderno
Que no Brasil virou lei
Noite Alta – Companheiro, lhe convido
Para comigo cantar
Um tema que hoje em dia
Ficou muito popular
Pois o homem resolveu
Até o tempo mudar
Céu Risonho – Pois pode se preparar
Que eu cá estou preparado
O tema que você manda
Cantarei desenrolado
Se o tempo me der tempo
Eu canto o tempo ao seu lado
NA – Eu nasci num descascado
Nos cafundós do sertão
Onde não tinha relógio
Nem rádio e televisão
Onde eu nunca ouvi falar
Em horário de verão
CR – Lá também no meu rincão
Não tinha nem calendário
Pelo rincho do jumento
A gente marcava horário
Mas agora está mudado
Sertão é outro cenário
NA – No meu viver temporário
Eu não sei por qual motivo
Quer o homem atacar
O tempo já tão ativo
Se do mesmo tempo o homem
A vida toda é cativo
CR – Eu, que neste mundo vivo
Já contra o tempo correndo
Com medo dele passar
Ligeiro como estou vendo
Queria que ele passasse
De mim quase se esquecendo
NA – Mas o homem tá querendo
Do tempo fazer manobra
Antecipando uma hora
Pra ganhar uma de sobra
Mas a hora que se ganha
Depois o tempo é quem cobra
CR – Se o tempo é uma obra
Do nosso Pai Criador
Como se pode mudar
Do nascer ao sol se pôr
Voltando atrás o ponteiro
Das horas no marcador?
NA – Ruim pro trabalhador
É o horário de verão
Que no Brasil funciona
Nuns estados, noutros não
A gente pensando bem
Causa muito é confusão
CR – Eu não sei por que razão
O Brasil adotou isso
Que lá na cidade grande
Só faz mesmo é rebuliço
Obrigando todo mundo
Ir mais cedo pro serviço
NA – Para quem tem compromisso
Terá que acordar mais cedo
Tem muita gente que vive
Contando o tempo no dedo
Nós temos medo do tempo
Mas o tempo não tem medo
CR – Fica o tempo mais azedo
Se pouco tempo se tem
Uma hora adiantada
Eu creio que não convém
Pois vai encurtar o dia
E encurta a noite também
NA – Quando meio-dia vem
Não será mais meio-dia
Fica mais cedo uma hora
As horas da Ave-Maria
As seis horas vão chegar
Antes de chegar o dia
CR – Desnecessário seria
Aqui nesta região
Adiantar uma hora
Sem a menor precisão
Se sobra sol, não precisa
De horário de verão
CR – Esta nossa cantoria
Vai ganhar mais energia
Sem fugir da sintonia
Do horário de verão
Eu morro e não me acostumo
Com esse horário sem prumo
Que deixa a gente sem rumo
Nos oito pés a quadrão
NA – O tempo não tem resumo
É produto de consumo
Respeito o tempo e assumo
Sempre a minha obrigação
Sul, Sudeste e Centro-Oeste
Tem hora que no Nordeste
Ela não passou no teste
Nos oito pés a quadrão
CR – O mesmo horário celeste
Continua em nosso agreste
Pois aqui não se investe
Em mudar o tempo, não
O Nordeste é protegido
Nosso tempo é garantido
Eu me sinto agradecido
Nos oito pés a quadrão
NA – Sempre tenho repetido
Que nasci e fui crescido
Vendo o tempo parecido
Com um enorme balão
Que pega e carrega a gente
Caminha sempre pra frente
Jamais volta novamente
Nos oito pés a quadrão
CR – Também digo no repente
Que o tempo manda na gente
O homem não é potente
Pra mudar o tempo, não
Pode até trocar de hora
Mas o tempo vai-se embora
Cutucando a sua espora
Nos oito pés a quadrão
NA – Nós vamos cantar agora
O mote duma senhora
Que chegou em boa hora
Aqui dentro do salão
Inda sobre o mesmo tema
Só muda mesmo o esquema
E o tempo vira poema
Nos oito pés a quadrão
Mote:
O horário de verão
É bom pra quem não faz nada
CR – O tempo vira migalha
Quando uma hora adianta
Pois mais cedo se levanta
O cidadão que trabalha
Quem no batente não falha
Acorda de madrugada
Com a hora adiantada
Vem mais cedo a condução
O horário de verão
É bom pra quem não faz nada
NA – Pra quem assiste novela
Ou pra quem liga a TV
Para ver o BBB
Ou qualquer outra mazela
Que sempre passa na tela
Da rede globalizada
Faz da hora caçoada
Quer seja atrasada ou não
O horário de verão
É bom pra quem não faz nada
CR – Pra quem passa a noite inteira
Ligado no futebol
Não vê quando nasce o sol
E nunca sente canseira
Pra este, vira besteira
Uma hora antecipada
Pra quem vive na jornada
Do trabalho, vira o cão
O horário de verão
É bom pra quem não faz nada
NA – É bom para o vagabundo
Ruim pro trabalhador
É bom para o sonhador
Que não quer nada no mundo
Pra quem não perde um segundo
Na luta desenfreada
A hora modificada
Complica a situação
O horário de verão
É bom pra quem não faz nada
CR – Eu imagino e confesso
Horário modificado
É bom para o deputado
Que nada faz no Congresso
Já quem procura sucesso
Numa cidade agitada
Pra quem rala na calçada
É castigo e punição
O horário de verão
É bom pra quem não faz nada
NA – É muita demagogia
De quem manda no poder
Chegar pro povo e dizer
Que diminuindo o dia
Economiza energia
Numa terra ensolarada
É só conversa fiada
Eu repito, com razão
O horário de verão
É bom pra quem não faz nada
CR – Agradeço a toda gente
O tempo está esgotado
Pois até o próprio tempo
Também tem tempo marcado
Nunca perca um só segundo
Pois tudo enfim, neste mundo
Por ele é determinado
NA – A todos, muito obrigado
O tempo em tudo é quem manda
E fica fora do tempo
Quem só contra o tempo anda
O tempo vale dinheiro
Eu cantei o tempo inteiro
E não ganhei uma banda
Noite Alta e Céu Risonho
Cada qual mais aplaudido
Prometendo outro duelo
Deram este concluído
E por unanimidade
Sem vencedor nem vencido
Por aqui, nós terminamos
A nossa apresentação
Unindo na cantoria
Litoral, serra e sertão
Insisto nesta verdade:
Nos traz contrariedade
O horário de verão
Achei sua poesia
ResponderExcluirBoa demais... de “montão”
Só que é de desvalia
Pra gente deste sertão
Pois aqui nesta enxovia,
Não tem nenhuma estação.
Não carece Poesia
Falando em demasia
Duma coisa tão vazia,
Como "Horário de Verão",
Já que nesta freguesia
As pessoas de hoje em dia
Nunca verão o verão!
RAY SILVEIRA
poeta ppp
ResponderExcluire triste a situacao
nao sei porque mudifica
o horario no sertao
eu prefiro o meu jumento
e o resto e inluzao
parabems
muinto bom o cordel
viva os cordelista
que vive a literatura
cantor; joao paulo gomes