segunda-feira, 12 de setembro de 2011

crônica


Levantamos aqui no blog um assunto polêmico: a retirada das luzes que por mais de 80 anos embelezaram a basílica de Canindé na Festa de S. Francisco das Chagas e no Natal - dois momentos de fé que fazem dessa cidade o segundo maior santuário franciscano do mundo. Dando continuidade ao assunto, publicamos a crônica que Tonico Marreiro escreveu e leu em seu programa dominical na rádio Aquarela FM de Canindé.


A VOZ AMIGA DO CANINDÉ

Tonico Marreiro

Já se vão distantes os tempos em que o ex-governador do Ceará, Cel. Adauto Bezerra era laureado pelos franciscanos em Canindé. Em pleno Regime Militar. Naquela época, o Cel. Adauto Bezerra, atendendo apelo do então vigário Frei Lucas Dolle e do saudoso prefeito Joaquim Magalhães Filho, construiu a hoje importantíssima Rodovia Estadual, interligando as BRs 116, à altura de Morada nova, 020 em Canindé e a BR 222, em Forquilha. Num espasmo de gratidão, o Vigário de plantão denominou esse  cinturão rodoviário do Estado de "Estrada da Fé". E a partir daí, em todos os encerramentos das festas do nosso Glorioso Padroeiro São Francisco, o Cel. Adauto Bezerra era lembrado com vivas e orações comandadas pelos franciscanos. Na bíblia está escrito, em Mateus, capítulo 26, versículo 31: "Disse-lhe então Jesus: Esta noite serei para todos vós uma ocasião de queda; porque está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho serão dispersas”. (Zac 13,7).  
Assim como dispersos foram todos os que exaltavam o Cel. Adauto Bezerra, que, apeado do Poder Estadual, nunca mais teve o seu nome lembrado e exaltado pelos franciscanos... Com Tasso Jereissati  a cena da ingratidão se repetiu diante de todos nós. O ex-governador, no final de mandato de Senador da República, Tasso Ribeiro Jereissati, grande benemérito de Canindé, fiel devoto de São Francisco, pois, desde criança acompanhava o seu pai, Carlos Jereissati, nas suas visitas ao Padroeiro desta cidade, veio assistir à missa de encerramento da festa do ano passado. Foi humilhado pelo franciscano celebrante. Depois de Frei Matias de Ponterânica, que transformou a então Matriz nesta suntuosa Basílica, Tasso Jereissati ainda hoje é tido pelos canindeenses e romeiros como grande benfeitor da festa franciscana, pois, quando governador presenteou a Canindé e aos peregrinos com a exuberante Praça dos Romeiros. 
Se não fosse essa Praça dos Romeiros, como seriam celebradas as novenas? A Praça da Basílica já não comportava mais tanta gente. Mas Tasso construiu uma nova e acolhedora estrutura do zoológico, e, enquanto Governador do Ceará, nada faltava em termos de apoio às Festas de Canindé. 
Tasso Jereissati, lamentavelmente, viu nos franciscanos de Canindé, o tema da festa do ano passado ao inverso. Se o tema era: "São Francisco - Espelho da Solidariedade", amargamente, viu-se vilipendiado diante da multidão de fiéis em pleno ato litúrgico da Santa Missa, sentindo o amargo da hostilidade partida daqueles que outrora o exaltavam.
Enquanto esteve no Poder, a exemplo de Adauto Bezerra, era exaltado com vivas retumbantes. (Mais uma vez, o capítulo 26, versículo 21 de Mateus: “Ferido o Pastor, dispersas as ovelhas”...) 
Frei João Amilton chegou para assumir o cargo de Vigário, e foi carinhosamente recebido pelo povo de Canindé. Era manso, humilde, uma verdadeira réplica de São Francisco. Mas, existe um dito popular que diz: “Queres conhecer o ser humano, coloca-o no Poder”. (Infelizmente isso é comum nos políticos que o Frei João Amilton critica tanto...) E é aí onde ele não observa o Capítulo 7º de Mateus: “Por que olhas o cisco que se encontra no olho do teu próximo, e não enxergas a trave que se encontra no seu próprio olho?”. 
Errou, contra o artigo 23 da Lei Canônica que ele deveria respeitar, e retirou as LUZINHAS da nossa suntuosa Basílica, que não poderiam ser retiradas se já contassem com 30 anos ali naquele local. Ora, as LUZINHAS da Basílica, atrativo dos romeiros e marca registrada nos corações dos canindeenses, neste ano de 2011, completariam 85 anos, pois, ali foram colocadas no ano de 1926, segundo declaração do saudoso Senhor Guilherme Guedes de Oliveira, ao próprio jornal da Paróquia, SANTUÁRIO DE SÃO FRANCISCO, edição de Fevereiro de 1981. 
Duvido muito que o Frei João Amilton fosse Vigário em Barbalha e tentasse acabar com a tradição do Pau da Bandeira de Santo Antonio. Duvido mais ainda que ele tentasse mudar a tradição do FOGARÉU em Goiás que já ultrapassa os 300 anos!... 
Para encerrar, ouvi um canindeense, simples, humilde, me afirmar o seguinte: “Ele acabou também com a as batidas do nosso sino, pela manhã, a “trindade” (5 horas da manhã) e as badaladas do meio-dia...” E completou esse canindeense simplório: “Você não se admire, se, o Frei João Amilton, agora, resolver botar um buzina de carro, no lugar do sino... E eu respondi: “Não... Não duvido... Em Canindé tudo pode... Porém, como diria o meu amigo, excelente canindeense Homerim: “Olha as REMINISCENCIAS!... Dom Delgado não terminou bem, quando depedrou o patrimônio de São Francisco...”.  (Vote na nossa enquete ao lado.)
Basílica iluminada: cartão-postal no mundo inteiro. Essa imagem foi
radicalmente apagada pelo atual vigário de Canindé, frei João Amilton




3 comentários:

  1. Um que quis mudar o piso de uma igreja na Bahia, teve a prisão decretada pela Justiça se ousasse mexer numa tradição da terra.

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  2. Quatro felas-da-gaita votaram contra as luzinhas da Basílica. Não são canindeenses, com certeza, devem ser puxa-sacos dos homens de batina.

    Francisco Umbelino

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  3. O fundamentalismo permeia todas as criações da cultura humana. Ele está presente na religião, na arte, na ciência, na política, na economia, enfim, em tudo que é obra do pensamento humano. Leonardo Boff, ex-frade franciscano e grande ecologista, pronunciou uma conferência memorável sobre todos esses aspectos do fundamentalismo. Exemplos mais evidentes do fundamentalismo são a Inquisição, as guerras religiosas, o radicalismo muçulmano; o capitalismo selvagem e, de outro lado, o socialismo exarcebado; a arte dita moderna, com seus exageros; o positivismo científico que perdura desde o século XIX, na sua vã pretensão de explicar e resolver todos os problemas humanos por meio da razão, cujos limites foram delimitados por Imnanuel Kant ainda no século XVIII, na sua monumental Crítica da Razão Pura. A ingratidão com Adauto Bezerra e Tasso Jereissatti, reconhecidos benfeitores de Canindé durante muitos anos, é uma clara expressão de um fundamentalismo político. Suponho que o vigário seja um admirador do Partido dos Trabalhadores. Eu também sou! Mas esse proselitismo não deve chegar ao exagero e insensatez de não reconhecer o mérito de alguns políticos de outros partidos, nem ser com eles ingrato. Todos nós temos um lado bom e outro negativo. Essa dicotomia está presente nos padres também, como seres humanos que são. É evidente que Tasso e Adauto tiveram seus erros quando estavam no poder, mas Lula também os teve.
    Demonstração de discernimento e maturidade é saber ver o lado bom em tudo e em todos, mesmo sabendo que todos temos o nosso lado de sombra.

    Flávio Henrique

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