O HÁBITO DA ARROGÂNCIA
Pedro Paulo Paulino
Aproximam-se os dias em que a cidade de Canindé entra em sua alta estação do turismo religioso. De 24 de setembro a 4 de outubro, a cidade recebe os milhares de romeiros provenientes de vários estados do Brasil para a festa de São Francisco. Por enquanto, já é bem nítida a presença de visitantes, principalmente do Rio Grande do Norte e da Paraíba. Não há estatísticas, mas estima-se que a cada ano a festa de S. Francisco cresce em número de pessoas - uma população flutuante muito superior ao número de habitantes nativos.
Na opinião geral, a festa é o “inverno” dos canindeenses, haja vista o aquecimento do comércio nesse período, fenômeno que se repete também no Natal. Os mais otimistas consideram esse palco de romaria o segundo maior santuário franciscano do mundo, depois de Assis na Itália. O distintivo não justifica, por outro lado, o atraso sócio-econômico que ainda desabona Canindé do pódio das cidades mais desenvolvidas do Ceará. Uma comparação virou palavra-chave: Juazeiro do Norte, 65 anos mais jovem e também centro de peregrinação, é longinquamente muito superior à nossa “meca” em seus índices econômico e de desenvolvimento. O confronto é humilhante. Não vamos nos deter nesse aspecto.
As últimas postagens do blog tratam de uma polêmia que se encorpou desde que foram retiradas as luzes que embelezavam o exterior da basílica de São Francisco. O brado fervoroso partiu do poeta e radialista Tonico Marreiro que vem sustentando uma ferrenha campanha reivindicando o retorno das luzes decorativas que transformaram a basílica num cartão-postal internacional. O grito ganhou as ruas, os meios de comunicação e a solidariedade de muitos canindeenses e até de pessoas de outras cidades. Numa enquete aqui no blog, é bem notória a superioridade numérica dos que defendem a volta das luzes da basílica.
Há exatamente um ano foi encetado esse protesto público por parte do Tonico, que neste 7 de setembro manifestou mais ainda seu apelo ao desfilar com uma faixa significativa desse tema. E mesmo trombeteando sua queixa aos quatro cantos, os ouvidos da comunidade franciscana responsável pela paróquia local parecem surdos ao assunto.
A questão surge, a nosso ver, de um outro problema renitente e chocante: a falta de uma cultura arraigada, que dê sustentação e poder de fato e de direito aos costumes e tradições locais. Some-se a isso a baixa auto-estima observada em nossos conterrâneos, permitindo que suas tradições sejam quebradas de maneira ditatorial. Alguém já me fez lembrar que a iniciativa, por exemplo, da autoridade religiosa em retirar as luzes da basílica devia, no mínimo, passar por um referendo. A basílica iluminada era uma tradição de mais de 80 anos e, na retina dos fiéis, uma das imagens mais empolgantes das noites do novenário. Mesmo a quilômetros da cidade, a visão noturna do templo iluminado não tinha uma comparação em seu esplendor. Todo esse brilho e magia foram arrebatados ao povo que se manteve pusilânime. Entende-se que a basílica com seu colorido de lâmpadas é um patrimônio tanto do povo quanto é da própria instituição religiosa.
Cantadores reunidos atrás da basílica de Canindé, quando havia a
tradicional Missa dos Violeiros na festa de S. Francisco: mais uma
"página rasgada" da história da cidade
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Parece que há um interesse deliberado de alguns representantes da igreja em Canindé de afrontar as pessoas que cultuam as tradições, de fincar pé em determinados pontos pelo simples prazer de afrontar, parece até que desejam matar a "galinha dos ovos de ouro". Sim, porque a festa do padroeiro a cada ano se torna mais desenxabida por conta de tais posicionamentos.
ResponderExcluirFrancisco Umbelino
Os atuais Franciscanos menores em Canindé, a julgar pela ação danosa a história cultural religiosa da cidade, sempre serão "menores", quando essa mesma história for concluida e escrita para a posteridade.
ResponderExcluirAliás, jamais, em tempo algum, Canindé recebeu uma "leva" de franciscanos composta de gente tão incompetente, arrogante e odiento. Dom Delgado não terminou bem quando mexeu no patrimonio de São Francisco...
Com relação a lamentar que a "Missa dos Violeiros" não conste mais no calendário festivo do Padreiro de Canindé,é exigir muito de um Frei João Hamilton de uma mente tão miuda... Mas, isso dá MOTE. Com a palavra e o repente O LOURO BRANCO:
ResponderExcluir"O Vigário acabou
Com a Missa dos Violeiros"
ESSE VIGÁRIO ACABOU
ResponderExcluirCOM A MISSA DOS VIOLEIROS
So pode ser muito ôca
A mente desse Vigário
Que fez o povo de otário
Que implora com voz rouca.
Sua cultura é tão pouca
Os seus modos são rasteiros
Insolentes e grosseiros
Da cultura se afastou
Esse Vigário acabou
Com a “Missa dos Violeiros”...
O pequeno Rui Barbosa
De grande sabedoria
Adorava a poesia
Fosse em verso, fosse em prosa.
Com sua mente primorosa
No Brasil foi dos primeiros
Orgulho dos brasileiros
Aos “pequenos” orgulhou
Mas “o daqui” acabou
Com a “Missa dos Violeiros”...
(Do cantador Zé Preá)
Parece-me que a questão tem sido conduzida com muita emoção e ataques pessoais, embora se trate de uma indignação justa. A não ser que já se tenha tentado a via racional e diplomática, mediante o diálogo; e se o vigário recusou o debate e foi insensível ao apelo dos canindeenses, devia-se solicitar ao arcebispo uma audiência com uma comissão formada por pessoas que sejam representativas da comunidade, em cada um de seus principais setores: econômico, político, intelectual e religioso.
ResponderExcluirEntendo que se deva tentar antes de tudo a via pacífica, tal como ensinou Gandhi. Sem a abordagem da questão sob um ponto de vista impessoal, racional, só se consegue acirrar o orgulho e a teimosia quando o adversário não tem sensibilidade nem compreensão, ou não quer tê-las por outros motivos que talvez desconheçamos - e é preciso conhecê-los, pois essas mudanças podem pôr em risco a tradição religiosa de Canindé.
Minha visão é esta, e reconheço que posso estar errado, desde que alguém me explique racionalmente por quê. Com a gentil e honesta dialética, pode-se chegar mais facilmente a um entendimento pacífico, sem muitos atritos. Por que não levar o problema ao arcebispo Dom José Aparecido?
Flávio Henrique
O Vigário Batoré
ResponderExcluirOrdem dos frades menores
Já teve idéias melhores
Ao chegar em Canindé
Mas depois fez finca-pé
Com instintos arengueiros
Por causa de forasteiros
Meu Canindé se arrasou
Esse vigário acabou
Com a MISSA DOS VIOLEIROS.
Cordeiro Brabo