quinta-feira, 25 de agosto de 2011

história e imprensa


UM TIRO PELA CULATRA


Há exatos 50 anos a política brasileira viveu um grande abalo. O presidente da República até então eleito com o maior número de votos, depois de apenas nove meses de governo, renunciou às suas funções. Jânio Quadros escolheu o dia, seguinte ao do trágico suicídio de Vargas, em 1954, no mesmo mês de agosto, para marcar o tom dramático de seu gesto. Na verdade, pensava em ver seu pedido de deixar o governo recusado pelo Congresso Nacional, permanecendo assim como presidente com maiores poderes, para ter mais força para enfrentar “as forças terríveis” que, segundo sua carta de renúncia, atrapalhavam sua administração. Mas o tiro saiu pela culatra, seu pedido foi aceito e o vice, João Goulart, depois de alguma resistência das forças mais conservadoras, assumiu como presidente da República. (Chico Alencar (RJ), autor de BR-500, Um Guia para a Redescoberta do Brasil, Ed. VOZES)

“TEXTO PARA JORNAL

Hélio Passos*

De repente todo mundo quer escrever para jornal, ser jornalista. Prensam que é assim, casa de mãe-joana, não conhecem os buracos negros que há por trás do universo de uma mesa de redação. E aí nos vem uma questão antiga: existirá uma linguagem jornalística? Digo que existe. Verdade que, fundamentalmente, a linguagem é uma só. Na literatura médica,na tramitação forense, nos círculos esportivos, como de resto em muitos outros meios de comunicação, há uma terminologia específica que fornece características peculiares a cada ramificação. Sua linguagem – a admitirmos que tem uma linguagem – se identifica mais pelo que despreza do que pelo que procura. O jornalista busca a simplicidade para fazer-se entendido pelo maior número possível de leitores. Evidente, todos sabemos, o importante na imprensa é a notícia, sua força é tão poderosa que passa por cima de qualquer texto mal elaborado. Isso explica por que não apenas os jornais bem redigidos dispõem de um público. É que a notícia sempre vence na luta que trava diariamente contra repórteres e os redatores. Mesmo nos pequenos jornais, que ainda não descobriram a importância do “lead”, ela se insinua com um poder de afirmação que surpreende até os mais experientes. Não temos, com isso, a pretensão de estar criando uma linguagem, sequer um dialeto. Direi apenas que o bom jornalista é aquele que, além da informação, possui condições de transmitir essa informação em linguagem acessível ao mercado comprador. É aí que surge a necessidade da chamada linguagem jornalística – ser eco, sem ser insensível; simples, sem ser banal; ágil, sem ser trapalhão. Só que isso, como o samba de Noel, não se aprende no colégio, muito menos fora do dia-a-dia de uma redação. Sabe escrever? Sabe e bem, mas não para jornal. Porque para jornal é diferente, o jornalismo tem os seus macetes ou os seus truques, dissociando a palavra de todos os acessórios para exibi-la intacta, neutra, plena, integral. Trocando em miúdos, temos de escrever fácil. E escrever fácil é muito, muito difícil.”


*Jornalista, escreve aos domingos no Diário do Nordeste.


3 comentários:

  1. Quando se trata do jornalismo noticioso, concordo com o articulista quando ele diz que a linguagem do jornalista deve ser impessoal, neutra, sucinta, simples e acessível. Todavia, a interdisciplinaridade que cada vez mais caracteriza a ciência vem reduzindo os jargões específicos das diversas disciplinas científicas, havendo uma tendência para a adoção de uma linguagem universal que seja entendida não somente pelas pessoas comuns, que estão interessadas nas notícias simples e ligeiras, mas também pelos profissionais das diversas áreas do mundo do trabalho. Um exemplo pode esclarecer o meu ponto de vista. Há hoje uma tendência para a veiculação, nos jornais e revistas, de reportagens mais aprofundadas em todos os campos do conhecimento, especialmente quando se trata de artigos científicos. Isto se pode constatar na Folha de São Paulo, e aqui mesmo no Ceará, nos dois jornais de maior circulação. As crônicas de Aírton Monte, a coluna do Neno Cavalcante, os artigos de André Haguette, Manfredo Oliveira, Cláudio Ferreira Lima, Valton Miranda, Daniel Lins, Auto Filho e de tantos outros membros da comunidade universitária são frequentes n'O Povo. No campo da religião e da filosofia, não se pode negar a importância dos artigos de Trigueirinho, Divaldo Pereira Franco, Pe. Brendan Coleman etc. Essa tendência multidipliscinar foge do trivial para atingir uma desejável universalização da cultura, levando-a para todos os segmentos da sociedade, quando há curiosidade do leitor, sobretudo os mais jovens. Além disso, existe um aspecto da simples notícia: ela tem algo de repetitivo que é percebido pelas pessoas mais experientes, que já viram a mesma história com uma roupagem diferente, porém a mesma na essência. Assim são as notícias da economia, da política. Portanto, quando se trata de jornalismo científico, a linguagem utilizada pelos autores não se limita aos critérios da ciência da comunicação, mesmo porque os cientistas não estão dispostos a adotá-los, preferindo a utilização da linguagem científica. E a divulgação científica constitui uma contribuição importante para o desenvolvimento cultural as massas.

    Flávio Henrique

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  2. Sempre tive reservas quanto aos populistas, notadamente quando são hipócritas. Jânio Quadros é um exemplo bem acabo do falso moralista, era mulherengo e proibiu desfile em concurso de Miss de maiô. De quebra proibiu lança-perfume, briga de galos e corridas de cavalos na semana. Renunciou covardemente o cargo de presidente e por sua causa o Brasil passou decadas sob o regime da ditadura militar.
    Terminado esse perído, na primeira eleição direta elegeu-se outro hipócrita,Collor de Melo, embora em estilo completamente diferente, dizia ser o caçador de Marajás e o paladino da moralidade, foi envolvido em escandaloo de corrupção e terminou com seu afastamento pelo congresso.
    Quem será o próximo que será presidênte pela via da hipocrisia e o beneplácito dos incautos eleirores?

    Cesar Magalhães

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  3. Com todo respeito ao artigo do iluste jornlista, por sinal, muito bem redigido, o que os pofissionais da imprensa buscam é uma reseva de mercado,onde somente eles possam escrever. Todavia, ninguém ignora que há péssimos jornalistas (as vezes famosos) cujos artigos são abomináveis. Existe também aqueles que apesar de nunca terem cursado faculdade de jornalismo escrevem com maestria. Guardo, por cópia, mais de um centena de artigos publicados em jornais pelo saudoso Sr. Chico Karam, que escrevia de forma elegante e irretocável. Os bons jornalistas não tem porque se preocupar, pois seu espaço está guardado e arantido pelo seu talento e não por reserva de mercado.

    Cesar Magalhães

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