SERTÃO BRANCO E EM FLOR
Pedro Paulo Paulino
Um fenômeno típico de maio é a névoa seca. Nos anos invernosos, quase todo este mês se distingue por esse feito atmosférico que torna as manhãs sertanejas mais longas e atraentes. A bruma encobre a caatinga e só as árvores mais altivas deixam vislumbrar o desenho de sua copa. A turvação engole os serrotes. Uma brancura absorvente cerca a paisagem por todos os lados, como se a natureza inteira mergulhasse numa noite branca. Os passarinhos do amanhecer, em seu anonimato, parecem cantar dentro de uma caixa acústica misteriosa.
Um certo colorido, mesmo assim, é notado, aqui acolá, no meio da névoa: são as flores da caatinga, singelos ornamentos que animam e dão vida ao cenário morto do semi-árido. Como numa passarela, as plantas rasteiras de nossas matas fazem questão de mostrar o que têm de mais bonito neste período: suas flores. Por onde quer que se passe, cada plantinha, mesmo a mais modesta, exibe seu encanto. Não resta dúvida que os pés de Pau-branco roubam a cena, afigurando-se senhores encanecidos, porém alegres e em grande número…
Nem por isso deixa de chamar a atenção, por suas flores alaranjadas, a Catingueira que também sabe produzir um aroma dos mais atraentes. O Umbuzeiro, o Juazeiro e o Angico disputam entre si o quesito elegância. O Mofumbo e o Marmeleiro não ficam atrás. Já o dourado dos campos abertos fica por conta dos pés de Vassourinha com seu romantismo ingênuo. Nossa bromélia, a Macambira, dá conta do verde-escuro da flora rasa. E um toque europeu cai sob medida para os pés de Violeta, com suas flores isoladas e cheias de sedução. Menos em quantidade e mais em beleza é a Chanana de flores alvas e miúdas. Até o sisudo Mandacaru, com flores de pétalas generosas em fileiras protegidas por um exército de espinhos, tem classe para competir com qualquer outra planta ornamental das mais requintadas de além-trópico.
E ainda nestas vésperas de junho, quem vai debutar em grande estilo na passarela sertaneja são os pés de Jurema, quando passam a ostentar a brancura de suas flores de fragrância incomparável. Mas depois do inverno, vem mais gente bonita, digo melhor, floração bonita por aí. Pelo mês de agosto, ninguém supera na sua imponência o majestoso Ipê, também conhecido como Pau d’arco, cuja copa transforma-se num imenso ramalhete de flores roxas, enchendo de magnetismo a mata já ressequida a seu tempo. (Sou capaz de jurar, que um dos melhores presentes que recebi por ora foi um arranjo de flores da caatinga, que me ofertou uma amiga.)
Além de embelezar nossos olhos, todo esse glamour natural do sertão tem uma clientela certa além dos beija-flores: as abelhas. Por sorte, estão voltando à sociedade da nossa flora a Jandaíra e a Moça-branca, produtoras de mel por excelência. É possível ver passar enxames e enxames quase todos os dias, em busca do néctar do Olimpo sertanejo.
E já que falei das flores, quero fechar com a névoa seca do início desta conversa. Observando com atenção, torna-se um véu tão tênue e denso a um só tempo que consegue intimidar os raios solares, até à hora que bem entende. Mais charmosa que o fog dos londrinos. Estendendo-se sobre a terra, abraçando largamente a natureza, a bruma da manhã parece mesmo uma gigantesca bandeira da paz reivindicando à poluição um instante de trégua.
Só quem teve a graça de nascer no sertão semi-árido, passar a infancia "malinando" entra a flora e a fauna nativa consegue enxergar a beleza a poesia existente na caatinga sertaneja. Parabéns, Pedro Paulo. Você como sempre nos oferta uma belíssima página sobre a região que tanto amamos.
ResponderExcluirARIEVALDO VIANA
Mas, por falar em abelhas, você esqueceu a mais humilde e mais laboriosa de todas, o INCHU ou INCHUÍ. Pequena operária de um preto retinto, extremamente valente quando assediada, o INCHUÍ produz o melhor mel, dentre todas as abelhas. Quando menino, levei muita ferroada caçando as pequenas colméias ovaladas, de coloração acinzentada, fabricadas geralmente nas copas dos juazeiros ou na fronde dos marmeleiros amarelados pelo calor do mês de julho. Um néctar dos deuses...
ResponderExcluirO Sertão, no sertanejo
ResponderExcluirExerce magia infinda.
Tal encanto fez Paulino
Compor esta arte linda.
ARIEVALDO, MORANDO
ResponderExcluirTANTO TEMPO EM FORTALEZA,
REVELA SEMPRE QUE TEM
SUA ALMA INTEIRA PRESA
NA PAISAGEM DO SERTÃO:
AQUI, TAMBÉM, É SEU CHÃO
ONDE ELE ENCONTRA BELEZA.
PELO BELO COMENTÁRIO
EU AGRADEÇO AO ARI.
ATÉ LEMBROU-ME UMA COISA,
QUE INJUSTAMENTE ESQUECI:
DOS DETALHES QUE FALEI,
EU CONFESSO QUE PEQUEI
NÃO FALAR EM ENXUÍ...
Nasci e cresci entre s lavouras. Não há um dia em que não sinto a voz da natureza me chamando para realimentar as minhas raizes famintas da seiva da terra. Abaixo duas estrofes do meu cordel "O coronel avarento" da editora Luzeiro:
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Em tempo de seca brava,
Segundo disse o poeta,
“Canícula dardejante”
Igual a fogo na seta —
É quem “escaldava a terra”.
Calango fugia pra serra,
Correndo como um atleta.
Que tempos cruéis aqueles,
Triste para os nordestinos,
Que abandonavam as terras,
Levando a pé os meninos.
Retirantes flagelados,
E muitos esfomeados,
Indo às mãos dos cretinos.
Só lamentar a invasão do famigerado Nim indiano que está ceifando as abelhas do nosso sertão...
ResponderExcluirsrs
O pau d'arco realmente embeleza nosso sertão. Fotografei alguns, eles nos transmitem paz.
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