NO DIA DA SOGRA
Não resta dúvida que, para muito cônjuge, a sogra representa uma segunda mãe. Também não resta dúvida que, para muitos homens e mulheres, a sogra é uma figura repelente. Pesando ambas as coisas na balança, o que resta de tudo isso é a sogra como personagem que comparece no nosso folclore com larga bagagem, seja no universo da piada, da sátira, do cordel e outras vertentes da imaginação popular. Neste dia dedicado à Sogra, publicamos aqui um soneto de gracejo muito interessante, que recolhi do livro CORDEL – MITO E UTOPIA, do saudoso escritor Ribamar Lopes. O soneto é uma paródia do célebre soneto do poeta português Luiz Vaz de Camões (c.1524-1580), Alma minha. Segundo informa Ribamar em seu livro, a paródia vem assinada por Petrarca Maranhão.
O soneto de Camões:
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
A paródia:
“Sogra minha ‘gentil’ que te partiste,
Tão tarde desta vida descontente,
Repousa lá no inferno eternamente
E viva eu cá na terra nunca triste.
“Se lá no escuro Averno onde caíste
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele agravo ardente
Que já nos olhos meus tão fero viste.
“E se achares que pode merecer-te
Alguma coisa o bem que me ficou
Da graça sublimada de perder-te,
“Roga ao Demo que os anos te alongou
Que tão tarde de cá me leve a ver-te
Quão tarde de meus olhos te levou…”
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
A paródia:
“Sogra minha ‘gentil’ que te partiste,
Tão tarde desta vida descontente,
Repousa lá no inferno eternamente
E viva eu cá na terra nunca triste.
“Se lá no escuro Averno onde caíste
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele agravo ardente
Que já nos olhos meus tão fero viste.
“E se achares que pode merecer-te
Alguma coisa o bem que me ficou
Da graça sublimada de perder-te,
“Roga ao Demo que os anos te alongou
Que tão tarde de cá me leve a ver-te
Quão tarde de meus olhos te levou…”
No livro do nosso saudoso amigo, poeta e pesquisador Ribamar Lopes, Cordel - Mito e Utopia, encontra-se essa deliciosa sátira. É que o velho Riba analisou a presença de Camões no imaginário brasileiro, povoando o anedotário local como um Malazartes, um Cancão de Fogo d'além mar. Ele, João Grilo, Bocage, Donzela Teodora - personagens reais e fictícios, se confundem no imaginário da gente boa e simples do Nordeste brasileiro. Muito oportuno o resgate.
ResponderExcluirSERENDIPITE. RSRRS
ResponderExcluirKKKKKKKKKKKKK..
ResponderExcluirMuito boa essa paródia!!!
Sem dúvida que sogras são segundas-mães, mas só se for para seus segundos-filhos....
Anônimo? cancão de fogo? ró, ró,ró, ró....
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