A
DIVINA ORGIA DE ‘AMADADAMA’
Pedro Paulo Paulino
O
mais novo livro de contos do premiado escritor Raymundo Silveira tem como nome “AMADADAMA”.
A exemplo de “Lagartas de vidro”, lançado em 2011, este segundo volume chega enriquecido
por qualidade literária em primeiro lugar, a escrita cristalina, o lampejo da
ideia e a oferta generosa de palavras e de construção textual atraente para o leitor
mais insaciável.
“AMADADAMA”,
182 páginas, traz o selo da Editora Premius de Fortaleza, reúne ao todo 42 peças
literárias e vem divido em duas partes, ou Livro I e Livro II. No primeiro
repertório encontram-se os contos eróticos, não obstante, a meu ver, a
adjetivação passe indiferente ao gênero de leitor que, a partir logo do
primeiro conto (aliás, nome do livro), mergulha na leitura pelo mero prazer que
esta lhe dá, convidando-o a seguir até a última página. O leitor mais
pundonoroso poderá por sua vez estranhar o tema e até, com frequência, a
linguagem dos contos iniciais; já o leitor, digamos, neutro não verá excessos
na abordagem aberta e franca de uma condição tão imperativa a todo ser que
vive.
Pois
nessa sequência de contos a narrativa é tomada por uma descarga fulminante de
erotismo, sem contudo se desgarrar jamais da fineza literária e da elegância de
estilo. O autor consegue, de envolta com o arrepio da trama, transmitir para o
leitor a volúpia da inspiração, o ardor da chama criativa, em enredos
envolventes quase sempre com um final cheio de êxtase, a exemplo do conto “A
vizinha” que, duvido, alguém consiga deixar de ler ao começar. E diga-se o
mesmo de “A possuída”, “Sarita”, “Carne viva”, “A analista”, assim por diante.
A ideia dominante em todas essas narrativas é, não há dúvida, a beleza e a
sensualidade femininas, de vez que é a feminilidade a “forma fundamental da
vida humana”, como observa o contista, ao tratar da relação carnal por meio de
uma linguagem despida e clara.
No
segundo repertório de contos de “AMADADAMA”, que soma exatamente 25 peças, o
leitor poderá se refestelar com temática variada. Em todos eles, entretanto –
eróticos ou não –, são inexistentes as figuras do vilão e do herói. O autor é
parcimonioso ainda com descrições paisagísticas, voltando-se com exclusividade e
percuciência para o elemento humano e seu vasto e infinito universo interior. Primeira
e terceira pessoas coabitam harmoniosamente em todos os enredos, e os diálogos
acontecem de maneira espontânea, sem prejuízo do entendimento da obra.
Reflexão, considerações filosóficas e um poderoso fundo psicológico são
características notáveis também nessa segunda seleção de contos. A começar por
“Vaso vazio”, vamos identificar em “Tensão”, “Sacrifício”, “O charcuteiro”, “O
fabricante de espelhos”, “O criacionista”, “O mistério de Capitu” e,
praticamente em quase todos, a força da subjetividade por trás de argumentos
puramente engenhosos e aprofundados.
O
segundo livro de contos de Raymundo Silveira é, como foi dito, uma obra
literária de fino gosto; por isto mesmo, tem o mérito de superar qualquer tabu.
E, por ser lapidado conforme limpidez e garbo de estilo, chega-se à inevitável
conclusão de que está, acima de tudo, na Arte e leveza de bem escrever a maior
e divina orgia de “AMADADAMA”.
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Lançamento: 30 de junho, 19h, sede da UNIMED, av. Santos Dumont, 877, Fortaleza.
Disponível na Livraria Cultura. Preço: R$ 24,90.
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