DERROTAS
E CONQUISTAS
Freitas
de Assis*
Por
água abaixo foram os anseios e sonhos do País do Futebol na terça feira 08 de
julho de 2014. Na fatídica data para o futebol tupiniquim, a poderosa Alemanha,
que já havia imposto uma sonora goleada em Cristiano Ronaldo e seus patrícios,
desta feita humilhou a seleção canarinha com um placar de sete a um. A culpa?
Muitos atribuíram à comissão técnica, aos cartolas e patrocinadores, e até
mesmo a inércia do apoio psicológico à falta que fez o único fora de série da
equipe, o jogador Neymar, seriamente contundido em uma disputa de bola em jogo
anterior. Fato que lembra a “convulsão” de Ronaldo na copa da França em 1998,
onde na final o Brasil também se mostrou apático e perdeu a final para os anfitriões
por três a zero. Mas agora perdeu para um time organizado, humilde e que não
contava com grandes estrelas. Contava sim, com a persistência, o trabalho em
equipe e o espírito de grupo, tanto que na final com nossos vizinhos platinos,
o jogador que fez o único gol da partida era um reserva que entrara havia pouco
tempo.
Recordo
que no dia do jogo no estádio Mineirão, a euforia era generalizada. A esperança
era contagiante e eu entrava de serviço no turno da noite prevendo conter os
ânimos de torcedores mais exaltados. Mas veio a derrota e não houve carreata.
As motocicletas com descarga alterada ficaram caladas e o consumo de bebidas
entorpecentes foi reduzido a patamares mais civilizados. Registraram-se
naturalmente umas poucas ocorrências, normal para uma terça-feira e que não
vale a pena tecer uma ou outra frase sobre estas. Quanto aos alemães, após a
conquista do Mundial comemoraram na terça-feira em seu país, embora na segunda-feira,
conforme reportagem em telejornal, pouca coisa em Berlim memorava o feito dos
seus compatriotas e os alemães foram trabalhar normal e sobriamente. Fosse o Brasil campeão, haveria uma festa
memorável no domingo e na segunda-feira seria decretado feriado. Aliás, o Brasil, campeão mundial de feriados,
no período da copa e em dias de jogos do Brasil, era ponto facultativo, fazendo
a economia parar em diversos setores, embora o setor de turismo tenha tido um
“boom”. O lado bom desse fato é que das
adversidades e derrotas sempre conseguimos tirar algum ensinamento; sobretudo por
que conseguimos aprender algo com os vitoriosos. E que sirva então de exemplo
os alemães, que derrotadas em 1945, juntamente com o Japão depois da II Guerra
Mundial, ergueu uma grande potência pouco tempo depois. E após a unificação do
país com a queda do muro de Berlim em 1990, realmente virou uma potência. E de
que forma conseguiram erguer-se dos escombros? Com uma simples receita:
investimento em educação e trabalho com seriedade, aliados a um sistema
jurídico eficiente, sem ser condescendente nem carrasco.
Voltando
à realidade de julho e patrulhando nossas ruas de tosco calçamento e asfalto em
uns poucos pontos da cidade, observo que o progresso começa a se instalar por
aqui. É fato notório que o número de veículos que circula na cidade é bem maior
que o número de pessoas habilitadas. E que para conseguir tirar a habilitação é
necessário um pouco de esforço e dinheiro para pagar as taxas de auto-escola e
as do Detran, sendo que alguns exames eram realizados em Fortaleza pelo fato do
posto do órgão em Canindé funcionar de forma incompleta. Ocorre que agora
funciona plenamente e os usuários não precisam se deslocar a nossa capital para
sanar seus problemas. É só ir até a Avenida Perimetral, próximo ao loteamento
Monte Líbano, passando por alguns redutores de velocidade, as populares tartarugas,
ultrapassar os quebra-molas, os quais foram acrescidos também de tartarugas,
isto se a pessoa vem do lado do Quartel do 4º BPM, pois se vier da Igreja do
Cristo Rei, além dos redutores de velocidade, enfrentará um eterno buraco do
lado direito. Este é numa subida, obrigando o motorista invadir um pouco a mão
contrária para poupar a suspensão do carro, arriscando a se envolver em um acidente. Sem mencionar os
loucos sobre motocicletas que teimam em fazer deste logradouro uma pista de
corrida, e seu acostamento, muito estreito, ainda é povoado por alguns animais
que pastam por lá.
Nas
últimas décadas houve uma estagnação no progresso e um ostracismo político como
nunca se viu antes na história do nosso município. Posso citar como ponto
positivo em Canindé a vinda do IFCE, que oferece formação superior e de
qualidade. Infelizmente, obras que poderiam alavancar o progresso, como a
construção da escola profissionalizante e a policlínica, estão atrasadas por
conta das licitações feitas para sua execução, ou seja, a empresa ganhou o
direito de executar a obra, mas não tem recursos suficientes para tal
empreitada, ou então foi à bancarrota. Nova licitação tem que ser feita e todo
o jogo recomeça.
O
resultado dessa falta de estrutura em educação e saúde, sem citar outras áreas,
pode ser traduzido em parte no meu trabalho. Que consiste em prevenir o crime e
prender pessoas que cometem crimes. E em meados de julho, a polícia militar,
num esforço conjunto de suas equipes, desbaratou uma quadrilha responsável por
vários crimes de assalto em Canindé, e boa parte dos membros da gangue são
menores. Um fato que não deve ser comemorado. Mas julho também é aniversário de
Canindé, e sinceramente espero que nos próximos aniversários possamos aplaudir
não as prisões de infratores, mas o número recorde de alunos matriculados em
cursos superiores, e que tais cursos também sejam feitos aqui; espero não
prender dia sim dia não, o mesmo menor infrator, que ri da cara do policial que
trabalha para que leis tão ineficientes sejam cumpridas. E espero ver ainda o
progresso em ação, não só na minha cidade, mas em todo o país. Quero ver as
pessoas tomarem consciência e não trocar seu voto por um adesivo no carro e dez
litros de gasolina, um pneu de bicicleta ou mesmo uma clássica dentadura, e
depois não poder cobrar ações de seu candidato. Em seus próximos aniversários,
seus próximos 29 de julhos, ó Canindé, te verei como uma cidade moderna, com
indústrias e fábricas, escolas e faculdades; verei avenidas e ruas asfaltadas
nos bairros periféricos, te verei com honras e glórias. Serás uma cidade de
renome e paz. Seus cidadãos sentarão às suas calçadas tranquilos e o país
também terá atingido seu esplendor e apogeu. Veremos cada um pensar no próximo,
ajudando a transformar sua terra num lugar melhor. E uma amarga derrota no
futebol para um potência mundial será uma nota de rodapé em algum livro de
história. Pelo seu aniversário, parabéns, Canindé!
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*Cabo PM, colaborador do blog.
Bastante eclética a sua crônica, Freitas, e os diversos assuntos que abordou não são desconexos, todos têm em comum um elemento primordial: a educação. A derrota do Brasil foi emblemática em um ponto: falta-nos o espírito de coletividade, de solidariedade, do trabalho em conjunto visando ao bem de todos, sem egoísmo.
ResponderExcluirO futebol praticado no Brasil há muito tempo prima pelo individualismo. Espera-se de alguns gênios da bola que resolvam tudo praticamente sozinhos, com jogadas pessoais daqueles "que fazem a diferença".
Por outro lado, a Alemanha, com a maioria dos jogadores medianos, caracteriza-se pelo toque de bola, o jogo em conjunto, não se notando jogadas pessoais em que um jogador sai driblando um, dois, três .., e acaba perdendo a bola no lugar de a ter passado para um jogador mais bem colocado e em melhores condições de fazer o gol. Foi isso o que os alemães nos mostraram.
Quantas vezes se viu o Neymar, nos jogos anteriores, exagerar no tempo de posse da bola, para acabar perdendo a jogada. Acho que ele se engrandeceria ainda mais se desse apenas um ou dois dribles e passasse a bola para um companheiro que estivesse em condições de fazer o gol.
Eu disse acima que a derrota foi emblemática porque o que prevalece na sociedade brasileira é o egocentrismo, em todos os segmentos da população, especialmente entre a classe política. Não se tem a devida consideração com todos de forma igual. Desde o tempo colonial que as classes mais baixas são
tidas como inferiores, não merecedoras do bem-estar, da educação de boa qualidade, da posse da terra, etc. Em parte, essa é uma das causas da violência que se espalha pelo País inteiro. Digo em parte, porque a índole de cada ser humano tem participação nisso, basta constatar que existe violência também nas classes mais abastadas.
Na Europa, percebe-se que há mais união, solidariedade, espírito de coletividade, embora o racionalismo prevaleça sobre o sentimento de unidade, que é algo mais sutil, ligado à espiritualidade, ao senso moral.
Para mim, essas são as lições que precisamos aprender.
Flávio Henrique