A POÉTICA DE ARLANDO MARQUES
Pedro Paulo Paulino
Desde longo
tempo, o professor Arlando Marques escreve seus poemas. Mas só agora o poeta vê
publicado o seu primeiro trabalho, uma seleção reunida no livro que ganhou o
título de Notas poéticas. O nome da
obra é uma alusão às anotações que Arlando, sem maior propósito que o
de atender à inspiração, sempre gosta de fazer, no melhor estilo do cordel. Com
raízes na zona rural, em cada poema está evidente seu compromisso em retratar
cenas, costumes e pessoas do campo, o palco principal da caminhada do autor que
no dia 24 de março festejou seus 42 anos.
E foi nessa
data que veio a lume o seu Notas poéticas.
Um detalhe curioso, é que toda a compilação dos trabalhos e
preparativos do livro processou-se à revelia do autor. Neyara, mulher de
Arlando, e Cauê, filho do casal, empreenderam essa tarefa para, nas
comemorações, fazer uma surpresa ao aniversariante. De minha parte, também cooperei
com essa, digamos, “conspiração” literária, fazendo a diagramação do livro,
cuja arte da capa tem o traço do também poeta cordelista Arievaldo Viana.
E eis que assim,
na seara da literatura de cordel brota mais esse fruto, já bem amadurecido pela
experiência do poeta com a técnica da décima, da setilha e do mote bem glosado
conforme a cadência própria da redondilha maior.
Natural de
Madalena, Ceará, Arlando Marques é, acima de tudo, agricultor autêntico. Mais tarde
enveredou pelo magistério e tem acentuada militância política na região do
Sertão Central. Exerce atualmente o cargo de secretário de educação de Canindé.
Amante da natureza, coração telúrico, seus escritos estão embrenhados pela
caatinga, soltos no pátio das fazendas, ensopados pela chuva, embalados no
ritmo da vida rural e também temperados do gracejo típico do sertão. Ou, como
vem escrito na orelha do seu livro: Arlando “sempre cultivou a terra e as
palavras. Notas poéticas é o fruto de
uma semeadura feita com a esperança do agricultor e o carinho do poeta”. Publicação de caráter particular que reclama uma tiragem mais alentada.
CRIANÇA APRENDE BRINCANDO
Arlando Marques
Gosto de ir à escola
E vou para me
divertir
A gente pula, a gente
rola
A cantar e a sorrir
Há coisas que são
mais sérias
Essas nunca me dão
férias
De segunda a
sexta-feira
Muitas delas não
entendo
Mas tem coisas que
aprendo
Numa simples
brincadeira
Ao ficarmos de mãos
dadas
Gira em frente, e a
gente anda
Quando a cantiga é
cantada
Está formada a
Ciranda
Numa cantiga de roda
A letra não sai de
moda
Na harmonia sem grito
E de instante em
instante
Cada um participante
Diz um verso bem
bonito
Saio com meus
amiguinhos
Não posso dizer pra
onde
Fico num canto
quietinho
Brincando de
Esconde-esconde
Esconde-esconde me
ensina
Que devo ter
disciplina
Para não ser
encontrado
Observo, fico atento
Valorizo o momento
O tempo é
cronometrado
A turma é organizada
E logo fica risonha
As equipes são
formadas
Vamos brincar de
Adedonha
Dada a letra inicial
Lugar, pessoa,
animal...
Registrados num
fichário
Ali eu tenho lições
De regras e
instruções
Memória e vocabulário
No chão um desenho eu
faço
Para brincar com a
turminha
Tenho noção de espaço
Brincando de
Amarelinha
Os algarismos conheço
Aprendo e nunca me
esqueço
O jogo não me permite
Se a área for
conquistada
Respeito a casa
ocupada
Obedeço ao meu limite
Se quero me exercitar
Aviso logo ao colega
Que também quero
brincar
Com todos de
Pega-pega
Além de mais amizade
Ganho mais agilidade
Mais força e
resistência
Participo com alegria
E não faço zombaria
São regras de
convivência
O espaço é preparado
Uma fila em cada
borda
Em dupla ou só
chamado
Pra brincar de
Pula-corda
Trabalho o corpo e a
mente
Venho pra trás, vou
pra frente
Em perfeita sincronia
Não erro o passo, sou
forte
Para o Sul e para o
Norte
Pulando com euforia
Eu gosto de calcular
Quando a pedra é
sorteada
Sou obrigado a pensar
No Bingo da Tabuada
Quatro mais dois
marco seis
Três vezes onze
trinta e três
Duas vezes trinta,
sessenta
Se for a pedra
seguinte
Cem dividido por
vinte
Marco cinco e não
cinquenta
Vários ficam fora
d’água
Um com água no
pescoço
Não deve demonstrar
mágoa
Quem brinca de Cai no
Poço
No poço quero ficar
Para alguém vir me
salvar
Com amor e amizade
Com respeito, fico
atento
Expresso meus
sentimentos
E minha afetividade
A professora já sabe
Que a alegria é tudo
A sala de aula cabe
Brincadeira e
conteúdo
O professor tá
dizendo
Que continua
aprendendo
Porque aprende
ensinando
À minha aula eu não
falto
Gosto de dizer bem
alto
Criança aprende
brincando!
Conheço alguns poemas de Arlando Marques e sei do tratamento criterioso que Pedro Paulo Paulino deu à feição gráfica da obra. Foi um prazer elaborar esta capa, retratando o poeta em contato com uma família camponesa, tema sempre recorrente em sua obra.
ResponderExcluirARIEVALDO VIANA
Admiravel a forma como PPP relatou o talento do poeta. Foi um deleite ler o artigo no meu smartphone. Por sinal o blog pode ser muito bem apreciado em qualquer lugar. Bastam alguns cliques no celular e... Maravilha.
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