DOR NA CONSCIÊNCIA
Aurilene Uchoa*
A dor na consciência não tem comparação na escala das dores físicas. Também não há referência única em todo o corpo, porque dói não se sabe onde. Sabe-se que dói e muito. Por falta de melhor comparação, digamos que a dor na consciência é a náusea da alma. Não adianta buscar na farmácia um único comprimido para dor na consciência, que não encontrarás. A causa desse sintoma também não está catalogada pela Organização Mundial da Saúde, haja vista que cada caso tem uma origem particular. O que se sabe, é que a enfermidade é adquirida, não transmissível, portanto, perfeitamente evitável. Mesmo assim, o índice de sua manifestação é considerado alto, embora ainda não haja estatística sobre o assunto.
O nível de dor na consciência independe do agente causador. Aparentemente, tanto faz a causa ser monstruosa quanto não, a dor vem na mesma magnitude. Tudo indica que os achaques costumam vir pela manhã, quando a vítima desperta e lembra assustada de alguma bobagem feita ou dita no dia anterior. Antes mesmo que a consciência se reanime para enfrentar um novo dia, um alerta contínuo chama a atenção da pessoa, como uma luz vermelha indicando perigo: esse alerta é a dor na consciência. Ela deprime, arrasta a pessoa para baixo, provoca inquietação e abre um leque de desejos negativos. A pessoa não sabe a quem nem a que recorrer para aliviar a tensão. Quanto mais busca melhora, mais se aflige. Vêm ânsias de fuga de si mesmo, de buscar um esconderijo no fundo da terra onde não seja visto por ninguém. Evita o espelho, põe a mão na cabeça, pensa e repensa, e quanto mais fustiga o pensamento, mais aumenta a dor.
Fábio acordou de manhã, boquiaberto, ainda meio sonolento, sentindo-se o mais normal dos homens. De repente, o alerta buzinou na sua mente. Era a dor na consciência, que logo lhe apontou com exatidão a causa do problema. Um escorrego na palavra, no dia anterior, constituía uma infração grave. Por mera bobagem, cometera um ato vil e repugnante à pessoa que mais o admirava. Pecou menos por ato do que por palavra, aliás. Quando ele acordou, julgou-se o mais infeliz dos seres humanos. Achou-se responsável por todos os males do mundo, como se a própria rotação da terra dependesse da vontade dele. E a dor tomou de conta de todo o seu ser.
Tentativas de consertar a coisa a essa altura só fazem mesmo aumentar a proporção do erro. O eterno desejo da vítima nessa ocasião é de voltar o relógio do tempo, apagar tudo e fazer a coisa diferente. Diante dessa impossibilidade, o desconforto cresce. A dor na consciência fotografa implacavelmente a infração, revolvendo no fundo da alma, a todo instante, a causa do problema. O paciente clama por um sedativo, em vão. Uma das reações mais comuns é um profundo sentimento de culpa, seguido por um impulso de auto-condenação. Em alguns casos, a vítima quer auto-impôr suplícios físicos para compensar o suplício moral. Não há consolo.
Já falamos que ainda não há remédio para dor na consciência. Mas estudiosos da alma humana aconselham seis dicas para se evitar o problema:
♦ Meça o que diz e faz
♦ Não perca a calma e o auto-controle
♦ Jamais impaciente-se, mesmo diante de uma longa espera
♦ Não desconfie nem julgue quem lhe preza
♦ Aceite o silêncio do outro, que pode estar depondo a favor de você mesmo a distância
♦ Compreenda que os problemas não são exclusividade sua
Enfim, enquanto não se descobre um remédio eficaz para dor na consciência, manuscritos antigos prescrevem um paliativo raro: o PERDÃO de quem foi ofendido. É um medicamento sem reações contrárias e sem efeitos colaterais. Pode ser assimilado em quantidade única. É receitado desde o príncípio do mundo, mas dificilmente encontrado, devido um certo preceito de mutualidade. Sendo assim, por carência de medicina curativa, o melhor mesmo é prevenir-se da dor na consciência.
*Fortalezense, estudante, colaboradora do blog.
*Fortalezense, estudante, colaboradora do blog.
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Esse texto da nossa colaboradora me fez lembrar um dos melhores sonetos do poeta paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914), intitulado “O morcego”, que aqui reproduzo:
“Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
‘Vou mandar levantar outra parede…’
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, á noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!”
Por mais que a gente faça, á noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!”
O texto da nossa colaboradora Aurilene Uchoa evidentemente concentra-se mais em casos pessoais de remorso e angústia. Imagine se tivesse remédio para dor na consciência. Não teria laboratório farmacêutico no mundo que desse conta da demanda pela classe política.
ResponderExcluirPedro Paulo me permita
ResponderExcluirDiscordcar desta premissa
Cabra que não vai à missa
Nem sabe o que é marmita
Rouba e ainda acredita
Que tem moral e decencia
Vive arrotando inocência
Mesmo com a alma no lixo
Político é o único bicho
Que não possui consciência!
Cancão de Fogo
Arievaldo, eu concordo
ResponderExcluirCom o seu ponto de vista
Não tem um que não resista
Da política estando a bordo
Todo dia quando acordo
Peço à Santa Providência
Para me dar paciência
E me livrar desse nicho
Político é o único bicho
Que não possui consciência
Político chifrudo ou mocho
ResponderExcluirDe gravata ou sem alinho
Age como o bacorinho
Quando come, vira o coxo...
Quer o pobre no acocho
Na mais cruel indigência
Só usa a inteligência
A favor de seu capricho
Político é o único bicho
Que não possui consciência.
Cancão de Fogo
Muito penetrante e arguta a análise psicológica feita pela autora, demonstrando uma lúcida e sutil consciência dos sentimentos humanos. Carl Gustav Jung, o suíço criador da psicologia analítica que viveu até a década de 60, enfatiza a importância do Self, o centro da alma humana em que jaz o inconsciente pessoal e o coletivo (este o fruto de toda a experiência humana passada, milenar) que de forma na maioria das vezes inconsciente alerta o ser humano para os desvios de conduta que o afastam do reto caminho. E esses alertas vêm em forma de sonhos, de complexos de culpa e de doenças físicas ou psicológicas, embora estas últimas apareçam de forma combinada.
ResponderExcluirPor outro lado, o médico norte-americano Richard Gerber, em seu livro Medicina Vibracional, de certo modo profético no que diz respeito à medicina do futuro, aconselha que não é saudável alimentar remorsos e culpa pelos erros cometidos (e todo ser humano os comete todos os dias). O melhor que se faz é reconhecer o erro e tomar a resolução de não voltar a repeti-lo (quando se é escrupuloso o bastante), pedido a Deus forças para não recair na mesma fraqueza. Autocondenar-se é uma demonstração de falta de amor a si mesmo, uma virtude tão saudável e necessária quanto amar aos outros na medida das nossas possibilidades. Gerber chega a dizer que grande parte das doenças são causadas por falta de amor a si mesmo(autoestima) e aos outros. Esta falta de amor na vida das pessoas, segundo Gerber (para quem acredita!), é responsável por bloqueios energéticos no chakra cardíaco, influenciando indiretamente, por via da glândula timo tão pouco estudada, a depressão no sistema imunitário, tornando o ser humano suscetível de diversas doenças.