quinta-feira, 14 de julho de 2011

POETA, CANÇÃO E NATUREZA

Na produção dos cantadores de viola do Nordeste, encontram-se poemas e canções de alto nível, merecedores de reconhecimento nacional. Muitas dessas composições primam por um casamento perfeito de melodia e letra, abordando temas os mais variados. Não é só de romantismo piegas que são feitas as canções de viola dos nossos menestréis. Temos poetas cantadores de elevada inspiração que traduzem pelo estro sentimentos universais, levantam assuntos de alto interesse na atualidade e até mergulham em questionamentos filosóficos.
Um dos temas preferidos de nossos cantadores é a natureza. Há uma infinidade de trabalhos sobre o assunto. O louvor ao sertão e à natureza é a tônica mais notada principalmente nos versos de improviso, como estes do poeta Valdir Teles:

Não precisa de energia,
Lá só basta o sol e a lua;
Ele despido, ela nua;
Um de noite, outro de dia.
Na hora que a tarde esfria,
Deus faz a transformação:
O sol apaga o clarão,
A lua desfila acesa,
Tudo que há de beleza
Deus colocou no sertão.

Porém, quando se trata da legítima canção do violeiro, o tema natureza é sempre de lamento pelo estrago causado pelo homem ao meio ambiente. Uma das letras de canção mais bem feitas, nesse sentido, é do poeta potiguar Sebastião Dias, intitulada “Canção da Floresta” que ganhou versão na voz de Fagner. Reproduzimos aqui esse inspirado poema que já começa falando do inquietante futuro do nosso planeta:

Poeta Sebastião Dias
Tombam árvores, morrem índios 
Queimam matas, ninguém vê 
Que o futuro está perdido 
Uma sombra e não vai ter 
Pensem em Deus, alertem o mundo 
Pra floresta não morrer

Devastação é um monstro 
Que a natureza atropela 
Essas manchas de queimadas 
Que hoje vemos sobre ela 
São feridas que os homens 
Fizeram no corpo dela

Use as mãos, mude uma planta 
Regue o chão, faça um pomar 
Ouça a voz do passarinho 
A floresta quer chorar 
A natureza está pedindo 
Pra ninguém lhe assassinar

Quando os cedros vão tombando 
Dão até a impressão 
Que os estalos são gemidos 
Implorando compaixão 
As mãos do homem malvado 
Desmatou sem precisão

Mas quando Deus sentir falta 
Do pau que já foi cortado 
O homem talvez procure 
Pôr a culpa no machado 
Ai Deus vai perguntar : 
"E por quem foi amolado?"

Fauna e flora valem mais 
Que o valor que o ouro tem 
A natureza é selvagem 
Mas não ofende ninguém 
Ela é a mãe dos seres vivos 
Precisa viver também

Ouça os índios, limpe os rios 
Faça a Deus esse favor 
Floresta é palco de ave 
Museu de sonho e de flor 
Vamos cuidar com carinho 
Do que Deus fez com amor

Use as mãos, mude uma planta 
Regue o chão, faça um pomar 
Ouça a voz do passarinho 
A floresta quer chorar 
A natureza está pedindo 
Pra ninguém lhe assassinar

 Ouça "Canção da Floresta" na voz de Fagner acessando o link: http://www.youtube.com/watch?v=8zGa1mIg7ZE

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