ENFIM, VERÃO...
Pedro Paulo Paulino
O mês de junho chega anunciando uma nova estação para o sertanejo. Estamos entrando no verão, a segunda estação do ano para nós cearenses. Aqui, só conhecemos duas etapas climáticas bem definidas: inverno e verão. Isto quando chove. Nos anos de seca, a estação é uma só. Este ano, porém, tivemos um bom inverno, principalmente na região do Sertão Central, onde não houve grandes enchentes e alagamentos. Em outras regiões do Estado, as chuvas foram mais intensas e até causaram prejuízos.
Uma das grandes dádivas do inverno deste ano foi a reposição da reserva hídrica. Até mesmo os grandes reservatórios, Castanhão e Orós, por exemplo, sangraram. Outros, de médio porte, não chegaram a sangrar mas captaram bastante volume dágua. O imperial açude do Cedro, em Quixadá, raramente sangra e, mais uma vez, este ano passou, como se diz, batido. Em Canindé, o açude S. Mateus, com capacidade de 11 milhões de metros cúbicos, sangrou com uma lâmina dágua muito baixa. Já o açude Sousa, com capacidade três vezes maior, não sangrou.
As chuvas, conforme previsto e agora confirmado pela Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme), atingiram índice um pouco acima da média histórica, que é de 600 milímetros. A rapidez com que os médios e grandes açudes do Estado completaram sua reserva hídrica até sangrar, deve-se ainda ao inverno de 2009. Segundo dados da Funceme, nesse ano choveu 1.003 milímetros, tendo se configurado como o maior inverno no Ceará dos últimos 30 anos. Em descompensação, a seca de 2010 foi considerada a maior estiagem também dos últimos 30 anos.
É importante ressaltar o progresso nas pesquisas climáticas principalmente em nosso Estado. O órgão oficial do governo, a Funceme, durante muito tempo esteve desacreditada, tornando-se até alvo de chacota por parte do povo. Mas nota-se agora um empenho mais profissional e competente na equipe dos seus meteorologistas e pesquisadores. É claro que o estudo do clima atualmente denota um intercâmbio entre os diversos órgãos especializados no assunto, gerando com isso uma aproximação bem maior entre previsão e realidade. O próprio rurícola já está habituado a prestar atenção diariamente, no período do inverno, à previsão do tempo feita no rádio e na televisão. Não se sabe se esse conteúdo influencia na vida prática do sertanejo, que no fundo ainda é um grande observador da natureza.
Prova disso é o grande encontro dos profetas do sertão realizado em Quixadá a cada início de ano, já se tornando um evento tradicional. Na ocasião, homens e mulheres de várias idades trocam suas experiências adquiridas a partir da observação direta e atento de aspectos da nossa fauna e da nossa flora. É um conhecimento já adquirido dos mais antigos e repassado de geração a geração. O evento em Quixadá chama atenção de diversos segmentos, de estudiosos e da mídia. Para alguns, o encontro dos profetas do sertão é, antes de mais nada, uma manifestação cultural. Na verdade, o folclore tem um peso indiscutível nas chamadas `experiências`. Mas não resta dúvida que muitas delas têm um embasamento científico, principalmente as que se referem ao comportamento de animais e plantas nativos.
No que tange ao folclore, a `experiência` de inverno com mais autenticidade, creio que seja a das `pedras de sal`, no dia de S. Luzia, 13 de dezembro. Uma fileira de seis pedrinhas de sal, representando cada uma os meses de janeiro a junho, é posta ao relento da noite. As pedrinhas que amanhecerem úmidas indicam que naquele respectivo mês vai chover. É evidente que essa ‘experiência’ não tem fundamentação alguma. Mas é de uma grandeza imaginativa admirável. Outras ‘experiências’ que não vamos elencar aqui também vêm do reino da fantasia e da imaginação fértil do povo.
O mês de junho chega, portanto, inspirando-nos o clima típico do período próprio de se festejar nossos santos mais populares: São Pedro, Santo Antonio e São João. Viva as festas juninas!
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