domingo, 29 de maio de 2011

MOLEZA DOMINICAL


UM FATO

O sortudo e infeliz Tiziu
Em seu conto-novela O Alienista, Machado de Assis fala de um louco, “um boiadeiro de Minas, cuja mania era distribuir boiadas a toda a gente: dava trezentas cabeças a um, seiscentas a outro, mil e duzentas a outro, e não acabava mais”. Da ficção para a realidade a distância parece ser muito curta. Este caso parece mentira: em Canindé, no dia 14/5, um mendigo identificado pelo apelido de Tiziu achou nada menos do que a quantia de dez mil reais num tambor de lixo. Menos por generosidade do que por loucura, ele saiu distribuindo notas de cem reais a torto e a direito e ainda fazendo compras miúdas sem querer troco. Na sua alucinação, parece que de repente se viu diante da Fonte de Trevi e então começou a lançar, não moedas, mas a quantia de três mil reais no leito emporcalhado do rio Canindé. Que outro sonho ele desejava realizar com essa simpatia absurda – eis a questão! Vinte e quatro horas depois, Tiziu já se encontrava pedindo esmola novamente. A origem do dinheiro é um mistério. O fato extraordinário ganhou a mídia do Estado.Taí uma boa dica para os autores de Realismo Fantástico.

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UMA ANEDOTA

É Plautus Cunha, em seu livro CEARÁLEGRE, quem nos conta:
“Arnaldo Moura, dono do açude Fundão, pergunta ao pescador:
– A pescaria vai boa:
– Vai, sim senhor. Ainda ontem peguei vinte peixes de mais de dois quilos cada um.
– O senhor sabe com quem está falando?
– ?...
– Eu sou o dono do açude, sou delegado de polícia e prendo todo sujeito que venha pegar meus peixes!
– E o senhor sabe com quem está falando? Eu sou o maior mentiroso deste municipio…”

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UM SONETO

NOSSA CRUZ

Wanderley Pereira*

Um se pergunta: – Por que sofro tanto,
Se meu vizinho é mau, e é tão feliz?
Outro se queixa aos céus: – Que foi que fiz
Para viver marcado pelo pranto?

Queixa-se o pobre do seu desencanto,
E da moléstia o rico se maldiz;
O que matou, fazê-lo nunca quis…
Não fora o mal, talvez fosse até santo!

Outro recorre à prolongada prece,
Pedindo a Deus riquezas, mas esquece
Que é de pobreza o exemplo de Jesus.

Querem do Mestre ser seus seguidores;
Só que não querem suportar as dores,
Nem muito menos carregar a cruz!

*Poeta e jornalista.

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UM REPENTE

“O poeta Geraldo Amâncio tinha levado vantagem sobre o poeta Roque Machado numa cantoria. Um ano depois, noutra cantoria com Zé Cardoso, aparecem Roque Machado e Eliseu Rabelo para cantar um pouquinho. Sem que Geraldo esperasse, Roque passou a relembrar:

‘Geraldo Amâncio Pereira,
Cantador de alto preço,
Deu-me uma surra outro dia
Que eu não sei nem se mereço…”

Nisso, Geraldo Amâncio grita do lado: ‘Eu mesmo não, seu Roque!’. Roque continuou sem perder o fio da meada:

‘Você bateu, não se lembra;
Eu apanhei, não me esqueço!’”

(Do livro De Repente Cantoria, de Geraldo Amâncio e Wanderley Pereira)

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UMA CURIOSIDADE

Nero não tocava rabeca enquanto Roma ardia em chamas. Em primeiro lugar, porque a rabeca ainda não tinha sido inventada, em segundo porque ele se encontrava, na ocasião, em Antium, uma vila a cerca de 50 quilômetros de Roma, e só voltou à cidade depois de o fogo apagado. Quem o diz é o historiador Tácito.

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UMA FRASE

“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.” (Albert Einstein)

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UM CAUSO

Durante rigoroso inverno, comentava-se numa mesa de bar em Canindé as enchentes pelo interior do município. Alguém que acabava de chegar da fazenda Serra Branca, informou que o rio Curu estava com “água no joelho”, expressão muito usada pelo sertanejo. O velho Bunaco, que até então assistia calado à conversa, temperou a garganta e disse:
– Se o Curu cum água no juêi, pro que num opera?

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UMA HOMENAGEM

À professora potiguar Amanda Gurgel pelo show de oratória e conhecimento no programa do Faustão da TV Globo (22/5). A professora desnudou com muita propriedade as aberrações do sistema educacional brasileiro.

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UMA IMAGEM
Em frente à Casa Marreiro, em Canindé, o
poeta Natan conversa com um amigo que

monta um jumento: cena típica

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UM ABRAÇO...


Um comentário:

  1. Gostaria de remeter o leitor à postagem do dia 21 de maio da crônica DINHEIRO NA MÃO É VENDAVAL, em que foi dado um trato literário à incrível e triste história de Tiziu e sua sorte desalmada...

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