PELEJA DE DOIS POETAS
FALANDO DE VIOLÊNCIA (*)
No sítio Bandeira Branca
Numa noite de viola,
Dois famosos repentistas
Puxaram pela cachola,
Pra falar da violência
Que o nosso Brasil assola.
Mangabeira e Curió,
Cada qual o mais batuta,
Para cantar qualquer coisa
Essa dupla não reluta,
Mais ou menos como segue
Fo começada a disputa.
M – Há quem diga que museu
É que vive do passado.
Mas neste mundo moderno,
Cada vez mais avançado,
Vejo o homem mais confuso,
Como um velho parafuso
Por sí próprio desgastado.
C – Com a ciência a seu lado
E a tecnologia,
Descobertas importantes
A gente vê todo dia,
Ms o homem não supera
Dentro dele a besta-fera
Do crime e da covardia.
M – Com tanta sabedoria,
Com toda a sua potência,
O homem não se supera
Nessa brutal violência
Que de maneira infeliz
Dominta todo o país,
Com a total resistência.
C – O crime e sua influência
Em nossa sociedade
É matéria tão comum
Que virou banalidade.
Perante a situação,
Hoje em dia o cidadão
É quem vive atrás da grade.
M – Não se tem mais liberdade,
O povo vive acuado,
Para proteger a casa
De ferro eu vivo cercado;
Do portão para a janela
Nossa casa virou cela,
E o bandido solto ao lado.
C – Hoje, o crime organizado
Toma conta do Brasil,
A polícia não se entende,
Militar com a civil:
Enquanto a revolta assola
Enquanto a revolta assola
A política usa pistola,
O ladrão usa fuzil.
M – São mais de quarenta mil
Assassinatos por ano.
São ocorrências sem conta
Todo dia, não me engano.
Pelas causas mais banais,
Já não se respeita mais
A vida do ser humano.
C – Governo diz que tem plano
Mas só na conversa fica.
Se tem a lei pra punir
O país não a pratica.
Já sendo a lei tão morosa,
A justiça vagarosa
Dorme mais que gato em bica.
M – Agora, que a classe rica
É pelo drama atingida,
Com os donos do poder
Correndo risco de vida,
O governo, a quem comete
Solução, então promete
Adotar séria medida.
C – Mas como encontrar saida
Batendo a língua nos dentes?
Só discurso não resolve,
Sem as ações competentes.
Com tanta conversa mole,
Só vejo aumentar a prole
Da turma dos delinquentes.
M – As crianças indigentes
Por aí abandonadas
São clonagens sucessivas
De gerações desprezdas,
Dessas que futuramente
Vão compor os contingentes
Das gangues organizadas.
C – Nas cidades avançadas
Se agrava a situação.
O terror tomou de conta
De toda a população.
Quanto mais o povo berra,
Ficada declarada a guerra
Do bandido ao cidadão.
M – De trinta e oito na mão
É comum se vê menino
De doze anos de idade
Sendo um assaltante fino,
Pois tem lei pra protegê-lo,
Em breve será modelo
No sub-mundo assassino.
C – O povo, no desatino,
Não achando um pulso forte,
Só malhando em ferro frio
Dando o voto, seu suporte,
No desespero fatal
Lança um apelo, afinal,
Pedindo a Pena de Morte.
M – Não é esse o passaporte
Para o Brasil desejado:
Punir a morte, matando,
Será erro do Estado.
Já que o crime não compensa,
Certo mesmo está quem pensa
Tornar o povo educado.
C – Eu fico do outro lado,
Pois já penso diferente:
Eu acho a Pena de Morte
Uma saída excelente.
A revolta eu não escondo:
Quando o crime é hediondo,
Que se mate o delinquente!
M – Vez por outra, um inocente,
Da maneira mais brutal,
Onde tem Pena de Morte
Pega a Pena Capital.
Da fogueira à gilhotina,
Nem a cadeira assassina
Nos libertou desse Mal.
C – Se a ação policial
Não consegue dar um corte
Na violência, e o bandido
Tem a arma e tem o porte,
Mata a torto e a direito,
Eu acho muito bem feito
Haver a Pena de Morte.
M – Para nossa triste sorte
A “Pena” temos de fato:
São os crimes de extermínio
Com todo seu aparato,
As execuções sumárias,
Revoltas nas carcerárias,
Brigas por terra no mato.
C – O povão, que paga o pato,
É o mais desprotegido.
O governo é como cego
No tiroteio, perdido.
Cada ação que ele promete
Está jogando confete
Na folia do bandido.
M – Agora, atendo um pedido
Que me chega da plateia,
É alguém dando uma ideia
Para acabar com bandido.
Neste país encardito
De desgraça, não convém
Adotar um plano, sem
Enxergar essa matéria:
É SEPULTANDO A MISÉRIA
QUE EU VEJO NASCER O BEM.
C – No país do desemprego,
Que não resolve esse impasse,
Cada faminto que nasce
É um presente de grego.
Co o mal tem logo apego,
Que de encontro a ele vem,
Manda logo um pro além,
A vida vira pilhéria:
É SEPULTANDO A MISÉRIA
QUE EU VEJO NASCER O BEM.
M – a miséria traz sequela
Difícil de se apagar,
Basta a gente observar
A vida lá na favela.
Começa pela panela,
Quando a panela ali tem.
No viaduto também
A coisa fica mais séria:
É SEPULTANDO A MISÉRIA
QUE EU VEJO NASCER O BEM.
C – É neste mundo moderno,
De programas sociais,
Pra combater marginais
Que a vida vira um inferno.
E nesse conflito eterno
No qual o povo é refém,
Por dia se matam cem
(Mais que a Aids na Nigéria):
É SEPULTANDO A MISÉRIA
QUE EU VEJO NASCER O BEM.
M – Enquanto o governo fala
Em proposta e mais proposta,
Lá no morro ou na enconsta
Todo dia ronca a bala.
Uma guerra nessa escala
Assuta qualquer “Russein”.
Aqui é só o que tem
Da forma mais deletéria:
É SEPULTANDO A MISÉRIA
QUE EU VEJO NASCER O BEM.
C – Desse jeito está a vida
Montada na corda bamba,
No Brasil de bola e samba,
Sequestro e bala perdida.
“Do que a terra mais garrida”
Muita coisa aqui se tem.
Está faltando, porém,
Uma lei honesta e séria:
É SEPULTANDO A MISÉRIA
QUE EU VEJO NASCER O BEM.
Sem vencido e vencedor
Terminou a discussão
Da dupla de repentistas
Aplaudidos no salão.
E pelo tema em cartaz
Deram em nome da Paz
Um forte aperto de mão!...
Desta mesma safra há uma outra peleja que fizemos em parceria (mas continua inédita) intitulada: DOIS CACHACEIROS GLOSANDO SOBRE AS BELEZAS DO MUNDO. Lembra?
ResponderExcluirA história do Cordel seria outra, sem a participção da atual geração de poetas.. adelante!
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