RECORDAÇÕES PRIMÁRIAS
Pedro Paulo Paulino
Por uma dessas coincidências
raras, depois de longo tempo voltei a pôr os pés no estabelecimento onde cursei
o Primário. Fui convidado, esta semana, a participar de uma reunião que
aconteceu exatamente no prédio da antiga e extinta Escola de 1º Grau Monsenhor
Tabosa, onde estudou um sem-número de canindeenses da minha época e de épocas
anteriores.
Embora tenha
passado por reformas secundárias na sua estrutura física, ao botar os pés no
pórtico do velho e amigo educandário, senti-me como que teletransportado ao
passado da minha meninice estudantil. Enquanto não começava a reunião,
quedei-me ali por instantes, revendo no álbum da mente imagens antigas.
Mergulhei no passado e respirei o ar de outros tempos, o cheiro dos livros escolares,
das provas mimeografadas, ouvi o tinido da campainha anunciando a aula ou o
recreio, e senti a presença dos antigos mestres, a maioria mulheres, e dos
antigos colegas de sala de aula, distribuídos depois mundo afora pela mão do
destino.
Recordei que havia,
no interior do edifício, um pátio amplo a céu aberto, palco das diversões no
recreio e da encenação de peças culturais. O pátio era cercado pelos quatro
lados por salas de aula, mobiliadas com carteiras de madeira para dois
ocupantes. Em frente, o birô do mestre e a lousa larga. Da janela da sala, o
vozerio da rua ao lado misturava-se com frequência à voz explicativa do
professor. O pátio encontra-se agora coberto por uma estrutura apoiada em
sólidas colunas. As salas, antes receptivas ao vento fresco, ora estão
climatizadas e servem aos funcionários de uma entidade administrativa
governamental. As pesadas portas de madeira deram lugar à leveza do vidro.
Ainda como em
sonho, senti-me novamente envergando o uniforme estudantil, a calça azul de
tergal e a camisa branca com o brasão da escola estampado no bolso. É supérfluo
dizer que complementava o conjunto um par de sapatos do tipo Conga, também de
tecido azul e borracha branca. Fechei os olhos e ali me vi chegando para a aula
matinal, na escola dirigida por D. Leda Pessoa e que tinha no elenco
professores de nomeada no magistério canindeense. Rememorei os ensaios para o
Sete de Setembro, sob o sol indiferente nas ruas da cidade, preparando os
estudantes para o desfile na data magna nacional.
De tal modo,
em instantes percorri um território que, sem o auxílio mágico da imaginação e
da memória, é para sempre sem volta. Meu enlevo, no entanto, foi de súbito
interrompido. A reunião começou, e com ela, emergi do mergulho doce no ontem à
superfície acre do hoje.
COMO NÃO MAREJAR OS OLHOS QUANDO AS SUAS PALAVRAS PODERIAM TER SIDO MINHAS, JÁ QUE O SENTIMENTO É O MESMO.
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