quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

CORDEL

O ANO QUE MORRE

Pedro Paulo Paulino

“Eu sou o Ano que morre
Nas mãos do Tempo que corre,
Morro e ninguém me socorre,
Nem mesmo adianta mais.
Contra as ordens naturais
É sempre em vão insistir;
Não deixem, pois, de assistir
Aos meus instantes finais.

Já vejo meu sucessor
Nascendo qual uma flor,
Cheio de luz e vigor,
Cercado de muita gente.
Vem chegando alegremente
Numa noite barulhenta,
Com trezentos e sessenta
E cinco dias na frente.

Cada dia é como um filho,
Cada ano um andarilho
Que passa através do trilho
Do Tempo eterno e profundo.
Todo ano é oriundo
Da noite e nunca do dia,
Igualmente à maioria
Das criaturas do mundo.

Mas enquanto me despeço,
Neste implacável processo,
Aos homens da Terra peço
Um instante de atenção.
Eu não tenho culpa então
De tudo o que aconteceu,
De quem nasceu ou morreu,
De quem foi feliz ou não.

Fui apenas referência
Num instante da existência
E não tenho consciência
Do que é bom ou ruim.
Uns não gostaram de mim,
Noutros deixarei saudade,
Pois eu sei que a humanidade
Toda a vida foi assim.

Mas vejam que insensatez
Culpar o ano, talvez,
Pelos erros de vocês,
Desse modo assim dizendo:
– O Ano que está morrendo
Foi de perda e agonia,
De crise na economia
E de desmantelo horrendo.

Foi um Ano pessimista
Que matou bastante artista,
Esse Ano entrou pra lista
Dos mais cheios de horrores!
Então direi: – Não, senhores!
Os anos, somos iguais;
Não somos causa, jamais,
Das alegrias ou dores!

Eu não tenho culpa não
De guerra e destruição,
De tanta poluição
Por falta de consciência!
Eu juro em minha inocência,
Que também não sou culpado
De o crime ter aumentado
Por conta da violência!

Sou passageiro fatal
Desta nave sideral
Chamada Terra, na qual
O Tempo é senhor de tudo.
E dito assim, fico mudo,
Pois nessa eterna viagem
O ano é nova embalagem
Para o mesmo conteúdo.

‘Adeus, Ano Velho’, cantam;
Luzes no céu se levantam,
As ilusões se agigantam,
O Ano Bom aí vem
Novinho em folha; porém,
Será velho logo mais
Como eu que um ano atrás
Fui Ano Novo também!”

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