domingo, 9 de março de 2014

O ADEUS DE VILA CAMPOS
PARA WANDERLEY PEREIRA


 Pedro Paulo Paulino

Vila Campos, neste instante,
De saudade está repleta.
Mergulhada neste mundo,
Por aqui, tudo completa
O tom de melancolia
Que sentimos neste dia
Pela perda do Poeta.

A chuva, que de manhã
Molhou generosa o chão,
Escorreu na terra, como
Escorrem do coração
Lágrimas que pela face
Sangram sem qualquer disfarce
Num momento de emoção.

A natureza, nostálgica,
Levantou sua bandeira
Conclamando toda a fauna
E também a flora inteira,
Que dessem, conforme Deus,
O seu derradeiro adeus
Para Wanderley Pereira.

Os passarinhos, então,
Cantaram em sinfonia.
A partitura era o vento
Com a sua melodia,
Terna como a do Poeta;
E a cadência discreta
Era a chuva que caía.

Via-se a casa do Poeta
Envolvida na neblina,
E de lá se ouvia um canto:
Era o Galo-de-campina,
Nessa manhã comovida,
Dando sua despedida
Na sua canção divina.

As plantas do seu quintal,
O Pau-branco, a Laranjeira,
Os pés de Jabuticaba,
A frondosa Cajazeira,
Em sentimento acenavam
E juntas pronunciavam:
“Adeus, Wanderley Pereira!”.

O cenário que o Poeta
Tantas vezes contemplou,
Contrito e meditativo
Em homenagem ficou;
Até o Grilo estridente,
Cantava agora dolente
Sobre o chão que ele pisou.

A distância se avistava
Uma imagem predileta:
As torres da capelinha
Apontando, como seta
Da névoa rompendo o véu,
Mostrando que para o céu
Segue a alma de um Poeta.

O Bem-te-vi deu adeus
Do galho da Catingueira.
Já o Sabiá cantava
Lá do alto da Aroeira,
E no seu cantar dizia:
“Adeus, até outro dia,
Irmão Wanderley Pereira!”

Os pardais, os rouxinóis,
As borboletas também
Mostravam seu sentimento
Do modo que lhes convém.
A orquestra ficou completa
Dessas coisas que o Poeta
Em vida tanto quis bem.

Já nas margens de um barreiro
Se juntou a saparia.
Sapo-boi cantou bem alto
Uma linda Ave-maria
Que longe repercutiu
E no desfecho se ouviu:
“Adeus, até outro dia!”

Enfim, toda a Natureza
Ao redor deste lugar
Despediu-se do Poeta
Que tanto soube cantar
As coisas que Deus criou,
As quais ele tanto amou,
E amou mesmo por amar.

Do Poeta, em toda a vida,
Campos foi também seu chão,
O seu lar, seu aconchego,
Seu prazer, sua paixão,
Seu primeiro itinerário
E verdadeiro cenário
Para sua inspiração.

Vila Campos foi um dia
Por ele imortalizada
Em sonetos e cantigas,
Cada qual mais inspirada
Nas manhãs, nos sóis poentes
E nos luares pendentes
De uma linda madrugada...

Grande Wanderley Pereira,
Nossa eterna gratidão
Por tua imensa amizade
Com este pequeno chão
Que em teu cantar preciso
Transformaste em paraíso
Dentro do teu coração.

Adeus, adeus, nosso irmão,
Adeus para a vida inteira!
O poeta vai, mas fica
Amizade verdadeira.
A saudade, não se mede.
Vila Campos se despede
De ti, Wanderley Pereira.



Campos, 8 de março de 2014.

6 comentários:

  1. Linda homenagem ao amigo que soube se fazer querido. Até qualquer dia Wanderley Pereira!

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  2. Ao ler lembrei de um poema seu q li no livro escolar do meu filho que exaltava a naturesa do sertao....
    Jeanne Facundo

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  3. Ana Vitoria Secundino10 de março de 2014 às 11:13

    Linda homenagem ao nosso querido poeta Vanderlei Pereira..Saudades eternas! Bjs Vitoria Secundino!

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  4. Uma bela homenagem, a altura do estro do poeta recém-falecido. Que Deus lhe conceda as bençãos que merece.

    Arievaldo Viana

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  5. Em prantos lendo esta linda homenagem. Vai com Deus Tio. Lívia Crisóstomo

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  6. Em janeiro de 2012 entrei numa peleja virtual com Pedro Paulo e Wanderley Pereira que esse blog reproduziu no link abaixo:http://vilacamposonline.blogspot.com.br/2012/01/cantoria-virtual.html
    Tomei conhecimento do falecimento do poeta, apenas neste último dia de março. Descanse em paz poeta, ou melhor para os que acreditam no seguimento da vida, continue a sua labuta de fazer e colecionar versos na sua nova morada.

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