sábado, 29 de março de 2014

LANÇAMENTO

A POÉTICA DE ARLANDO MARQUES


Pedro Paulo Paulino

Desde longo tempo, o professor Arlando Marques escreve seus poemas. Mas só agora o poeta vê publicado o seu primeiro trabalho, uma seleção reunida no livro que ganhou o título de Notas poéticas. O nome da obra é uma alusão às anotações que Arlando, sem maior propósito que o de atender à inspiração, sempre gosta de fazer, no melhor estilo do cordel. Com raízes na zona rural, em cada poema está evidente seu compromisso em retratar cenas, costumes e pessoas do campo, o palco principal da caminhada do autor que no dia 24 de março festejou seus 42 anos.
E foi nessa data que veio a lume o seu Notas poéticas. Um detalhe curioso, é que toda a compilação dos trabalhos e preparativos do livro processou-se à revelia do autor. Neyara, mulher de Arlando, e Cauê, filho do casal, empreenderam essa tarefa para, nas comemorações, fazer uma surpresa ao aniversariante. De minha parte, também cooperei com essa, digamos, “conspiração” literária, fazendo a diagramação do livro, cuja arte da capa tem o traço do também poeta cordelista Arievaldo Viana.
E eis que assim, na seara da literatura de cordel brota mais esse fruto, já bem amadurecido pela experiência do poeta com a técnica da décima, da setilha e do mote bem glosado conforme a cadência própria da redondilha maior. 
Natural de Madalena, Ceará, Arlando Marques é, acima de tudo, agricultor autêntico. Mais tarde enveredou pelo magistério e tem acentuada militância política na região do Sertão Central. Exerce atualmente o cargo de secretário de educação de Canindé. Amante da natureza, coração telúrico, seus escritos estão embrenhados pela caatinga, soltos no pátio das fazendas, ensopados pela chuva, embalados no ritmo da vida rural e também temperados do gracejo típico do sertão. Ou, como vem escrito na orelha do seu livro: Arlando “sempre cultivou a terra e as palavras. Notas poéticas é o fruto de uma semeadura feita com a esperança do agricultor e o carinho do poeta”. Publicação de caráter particular que reclama uma tiragem mais alentada.

CRIANÇA APRENDE BRINCANDO

Arlando Marques

Gosto de ir à escola
E vou para me divertir
A gente pula, a gente rola
A cantar e a sorrir
Há coisas que são mais sérias
Essas nunca me dão férias
De segunda a sexta-feira
Muitas delas não entendo
Mas tem coisas que aprendo
Numa simples brincadeira

Ao ficarmos de mãos dadas
Gira em frente, e a gente anda
Quando a cantiga é cantada
Está formada a Ciranda
Numa cantiga de roda
A letra não sai de moda
Na harmonia sem grito
E de instante em instante
Cada um participante
Diz um verso bem bonito

Saio com meus amiguinhos
Não posso dizer pra onde
Fico num canto quietinho
Brincando de Esconde-esconde
Esconde-esconde me ensina
Que devo ter disciplina
Para não ser encontrado
Observo, fico atento
Valorizo o momento
O tempo é cronometrado

A turma é organizada
E logo fica risonha
As equipes são formadas
Vamos brincar de Adedonha
Dada a letra inicial
Lugar, pessoa, animal...
Registrados num fichário
Ali eu tenho lições
De regras e instruções
Memória e vocabulário

No chão um desenho eu faço
Para brincar com a turminha
Tenho noção de espaço
Brincando de Amarelinha
Os algarismos conheço
Aprendo e nunca me esqueço
O jogo não me permite
Se a área for conquistada
Respeito a casa ocupada
Obedeço ao meu limite

Se quero me exercitar
Aviso logo ao colega
Que também quero brincar
Com todos de Pega-pega
Além de mais amizade
Ganho mais agilidade
Mais força e resistência
Participo com alegria
E não faço zombaria
São regras de convivência

O espaço é preparado
Uma fila em cada borda
Em dupla ou só chamado
Pra brincar de Pula-corda
Trabalho o corpo e a mente
Venho pra trás, vou pra frente
Em perfeita sincronia
Não erro o passo, sou forte
Para o Sul e para o Norte
Pulando com euforia

Eu gosto de calcular
Quando a pedra é sorteada
Sou obrigado a pensar
No Bingo da Tabuada
Quatro mais dois marco seis
Três vezes onze trinta e três
Duas vezes trinta, sessenta
Se for a pedra seguinte
Cem dividido por vinte
Marco cinco e não cinquenta

Vários ficam fora d’água
Um com água no pescoço
Não deve demonstrar mágoa
Quem brinca de Cai no Poço
No poço quero ficar
Para alguém vir me salvar
Com amor e amizade
Com respeito, fico atento
Expresso meus sentimentos
E minha afetividade

A professora já sabe
Que a alegria é tudo
A sala de aula cabe
Brincadeira e conteúdo
O professor tá dizendo
Que continua aprendendo
Porque aprende ensinando
À minha aula eu não falto
Gosto de dizer bem alto
Criança aprende brincando!



2 comentários:

  1. Conheço alguns poemas de Arlando Marques e sei do tratamento criterioso que Pedro Paulo Paulino deu à feição gráfica da obra. Foi um prazer elaborar esta capa, retratando o poeta em contato com uma família camponesa, tema sempre recorrente em sua obra.

    ARIEVALDO VIANA

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  2. Admiravel a forma como PPP relatou o talento do poeta. Foi um deleite ler o artigo no meu smartphone. Por sinal o blog pode ser muito bem apreciado em qualquer lugar. Bastam alguns cliques no celular e... Maravilha.

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