quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O PROTESTO DE JOÃO GRILO
CONTRA A PROPOSTA DA ONU


Autores:
 Pedro Paulo Paulino & Arievaldo Viana

Todos sabem que João Grilo
É o quengo mais completo.
Há muito tempo que João
Andava bastante quieto.
Mas agora ele voltou,
Depois que a ONU mandou
O povo comer inseto.

Já sabemos que a ONU,
Um tribunal soberano
Cuja sede está plantada
Lá no solo americano,
A fim de matar a fomo
Desse povo que não come,
Desenvolveu mais um plano.

No continente africano
A fome ainda campeia
Em muitos tribos, coitadas,
A situação é feia:
Têm brisa pra merendar,
Sobejos para amoçar,
Pastel de vento pra ceia.

Enquanto isso o Japão,
Por escassez de alimento
E, também, de certo modo,
Falta de discernimento,
De dinheiro fez aporte
E quer que o Brasil exporte
Carne de burro e jumento.

Até aí, nada novo,
O povo estava tranqüilo.
Porém, depois que a ONU
Recomendou comer grilo,
João Grilo ficou passado,
Anda muito revoltado,
Só se ouve o seu estrilo

É que João Grilo cantava
Tranqüilo dentro da mata,
De repente ouve a notícia
Que de raiva quase o mata:
“A ONU anuncia, enfim,
Que o povo coma cupim,
Besouro, grilo e barata”.

João ficou muito feroz
Com esse ponto de vista.
Com seu primo gafanhoto
Teve uma longa entrevista,
Pois este, por sua vez,
Grande protesto já fez
Contra São João Batista.

E ambos logo fizeram
Grande mobilização,
Convocaram as formigas,
A taturana, o zangão,
E outros parentes seus,
Borboleta, louva-a-deus,
Para uma revolução.

Convocaram  carrapatos
E as dez pragas do Egito,
Lacraia, bicho-de-pé
E outro inseto esquisito
Que só vive no espelho,
É o chato de pentelho
Que é doido por “pirulito”.

Pernilongo e mariposa
Foram chamados na marra,
Pois só querem vida boa
De noite fazendo farra.
Até mesmo o Olegário
Se tornou um partidário
Pra defender a cigarra.

Papa-fumo, rola-bosta,
Borrachudo, muriçoca,
Percevejo, vespa e mosca,
O embuá, a minhoca,
A tanajura também
Que há muito tempo já vem
Se transformando em paçoca.

Siriri e almirante,
Varejeira e maruim,
Um inseto sem futuro
Conhecido por finfim.
Veio até mesmo o barbeiro
E um batalhão inteiro
Da família de cupim.

João Grilo jamais pensava
Conseguir tanta aliança.
Pra todos fez um discurso
Transmitindo confiança.
E todo inseto aplaudiu.
Foi então que ele sentiu
Seu poder de liderança.

João Grilo disse: “Colegas,
Precisa muito cuidado,
Pois a ONU quer fazer
Todo mundo de abestado,
Mandando comer inseto,
Em vez dum prato dileto
De porco, carneiro ou gado.

Não é conversa fiada
E também não é boato,
E como o povão é besta,
Vai nessa onda, de fato!
Conforme essa propaganda,
Fazendo o que a ONU manda
A gente é quem paga o pato.

Sendo assim, nós todos juntos
Formamos um batalhão,
Marimbondo é convocado
Pra formar um pelotão,
Junto com arapuá,
O besouro mangangá
E o cavalo-do-cão.

Vamos marchar pras cidades
Num movimento bem quente
Defendendo nossa espécie
E nosso meio ambiente.
Chamemos nossos vizinhos,
E para abrir os caminhos
Vagalume vai na frente!

Vamos buscar o apoio
Desses ambientalistas.
Também é muito importante
O apoio dos artistas
Para formar um escudo,
Dos quais, acima de tudo,
Os poetas cordelistas.”

Muito mais falou João Grilo,
Com entusiasmo e tino.
Foram em busca dos poetas,
Num protesto peregrino
Guiados por pirilampos,
Pararam na Vila Campos,
Do Pedro Paulo Paulino.

E dali logo seguiram
Fazendo fila indiana
No rumo da Capital,
Essa grande caravana,
Formando imenso comboio
Para buscar o apoio
De Arievaldo Viana.

Passando por Canindé
João Grilo fez um estudo,
Convocou o Muriçoca,
Um cantor ao qual saúdo,
E o convidou pra sócio...
Ele só não quis negócio
Com o inseto bicudo.

Ainda atrás de poetas,
Ele passou pela feira,
Convidou Natan Marreiro
E o Gonzaga Vieira;
Jota Batista não quis,
Dizendo: “Aquele infeliz
Matou minha cabroeira”.

De fato, o Jota Batista
É matador de mosquito.
João Grilo foi prestar queixa
Contra o terrível delito.
Se não me falha a memória,
Foi contar a sua história
Para o Renato Perito.

Trouxeram uísque do bom,
Ambos tomaram uma dose.
Perito disse: “João Grilo,
É melhor que se entrose
Com Kafka, grande escritor
Que já mostrou seu valor
No livro A metamorfose.

Mas a ONU quando soube
Da notícia aterradora,
Recrutou seus aviões,
Torpedo e metralhadoras:
“Separem o trigo do joio
E vamos buscar apoio
Numa dedetizadora!”

João Grilo sabendo disso
Viu que não estava bem,
Convocou seus batalhões,
Fez igual Saddam Hussein,
Para escapar de morrer
Foram todos se esconder
Em um buraco, também.

Souberam de um tratado
Da ONU com o Japão
Pra deportarem João Grilo
E todo o seu batalhão
Ao “País do Sol Nascente”,
Porque lá, aquela gente,
Quer vê-los na refeição.

Já procuraram bastante
Pela Serra do Pindá,
Percorrem Canindé,
Aratuba e Quixadá,
Vasculharam meu sertão,
Porém o bando de João
Não tem quem saiba onde está.

E quem souber de João Grilo,
Seu endereço não diga.
Vamos poupar nosso herói
E salvá-lo nessa briga.
Sendo João Grilo sabido,
Talvez esteja escondido,
No Cancão, mais o Formiga.

Porque o Formiga é “home”!
Esse não vai dar pra trás.
Se entrar nessa questão
Briga até com Satanás.
Já ligou pro Iguaçu
Conclamando o tapuru
Pra proteger o rapaz.

Poeta tem liberdade
Pra mexer no que está quieto.
Mesmo sendo popular,
Nunca foi analfabeto...
Gato, peixe e caviar
Para a ONU vai ficar,

Pra nós são vão dar inseto.

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