quarta-feira, 10 de abril de 2013


VITÓRIAS DE ZÉ LIMEIRA*
SOBRE GRANDES CANTADORES

“Eu me chamo Zé Limeira,
Cantador que tem ciúme,
Brisa que sopra da serra,
Fera que chega do cume,
Brigada só de peixeira,
Mijo de moça solteira,
Faca de primeiro gume!

Assassinei Lourisvá
E matei seu Jisué;
Pinto eu matei na cantiga
Com um cabo de cuié,
Agarrei seu Anastaço,
Dei um tiro no espinhaço,
Mas pegou num jacaré.

Só não matei Canhotinho,
Promode ele não morreu...
Matei Serrador de Lima
Junto com um amigo seu...
Dimas velho cascavé,
Danou-me a ponta do pé,
Mas ele foi quem sofreu.

Otacílio eu só matei
Três vez num dia de feira,
Peguei Antônio Marinho,
Matei só por brincadeira,
Depois que matei Marinho,
Lasquei Zé Alves Sobrinho
Numa ponta de roqueira.

Lino eu matei dum sopapo
Na beirada do cangote,
Depois amarrei o bicho
Berrando pelo serrote,
Peguei Zé da Paraíba,
Cortei a parte de riba
Promode mostrar meu dote.

João Severo, esse, coitado,
Eu matei nas Espinhara,
Só dum bufete que dei,
A lua ficou quilara,
Dei uma tapa na testa,
Quase que dava a molesta
Na mão, no pé e na cara.

E depois de João Severo
Viajei pra o Ceará,
Peguei Domingos Fonseca,
Fiz ele se arrepiá...
João Siqueira de Amorim
Assinei no jardim
Com uma tora de jucá.

Numa noite de sol quente
Matei Lourisvá Bandeira,
Enterrei o corpo dele
Dentro duma bananeira,
Botei quatro pá de terra,
Inda hoje o cabra berra,
Pensando que é brincadeira.

Matei seu Aleixo Dantas
De pancada de gibão...
Um dia a guerra acabou
No meu bonito sertão,
Foi quando eu matei Aleixo,
Peguei ele fiz um feixo
Junto com seu Mergulhão.

Peguei Antônio Barbosa,
Matei lá na Imaculada...
Estelinha e Zé Gonçalves
Matei só de uma paulada...
Matei tanto cantador,
Valei-me, Nosso Senhor,
Não matei ninguém, nem  nada!

Matei Vicente Granjeiro
Na porteira do currá,
Porque chuva de janeiro
Só cai do lado de lá,
O vento sopra pra riba,
Porém só na Paraíba,
Pernambuco e Ceará.

Matei e tirei o couro
De Fatustino Vilanova,
Ele diz que é cantador,
É cantador uma ova!
A muié de Salomão
Botou chifre com Sansão
E Serrador tá de prova!

Igualmente o velho Adão
Namorou com sua tia,
Porém Judas Carioca
Do mesmo jeito dizia,
Por isso é que de joelho
Matei Antonio Coelho
De noite, sendo de dia.

Peguei o Cego Aderaldo,
Junto com Jó Patriota,
Sapequei uma rasteira
No toitiço da cangota,
Fugi pra Copacabana,
Mas não tem cana caiana
Doce que nem piojota.

Cesário também é cego
Mas assim mesmo eu matei,
Fiz um doce de choriço,
Cheguei na feira, vendei,
Passei pela Palestina,
Vim sair cá em Campina,
Prumode as ordem do Rei.

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*Cantador imortalizado pelo jornalista paraibano Orlando Tejo em seu livro “Zé Limeira – O poeta do absurdo”.

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