quinta-feira, 28 de março de 2013


BRIGA NA PROCISSÃO

Autor: Chico Pedrosa
Quando Palmeira das Antas,
Pertencia ao capitão
Justino Bento da Cruz,
Nunca faltou diversão,
Vaquejada, cantoria,
Procissão e romaria,
Sexta-feira da paixão.

Na quinta-feira maior,
No salão paroquial,
Dona Maria das Dores
Reunia os moradores,
Logo após uma pré-seleção
Ao lado do capitão,
Escalava-se a seleção
De atrizes e atores.

O papel de cada um,
O capitão escolhia.
A roupa e a maquiagem,
Eram com dona Maria.
O resto era discutido,
aprovado e resolvido
Na sala da sacristia.

Todo ano tinha um Jesus,
Um Caifaz e um Pilatus.
Só não mudavam a cruz,
O verdugo e os maus-tratos.
O Jesus daquele ano,
Foi o Quincas beija-flor,
Caifaz foi o Cipriano,
Pilatos, o Nicanor.

Duas cordas paralelas,
Separavam a multidão,
Pra que pudesse entre elas
Caminhar a procissão.
Cristo conduzindo a cruz,
Foi, não foi, advertia
Ao centurião perverso
Que com força lhe batia.

Era pra bater maneiro,
Mas ele não entendia,
Devido ao grande pifão
Que bebeu naquele dia,
Do vinho que o capelão
Guardava na sacristia.

Cristo dizia:- Ô rapaz,
Vê se bate devagar,
Já to todo encalombado,
Assim não vou agüentar.
Tá com a gota pra doer,
Ô tu para de bater,
Ô a gente vai brigar

Jogo já essa cruz fora,
Tô ficando revoltado,
Vou morrer antes da hora
De ficar crucificado.

O pior era que o malvado
Fingia que não ouvia,
Além de bater com força,
Ainda se divertia,
Espiava pra Jesus,
Fazia pouco e dizia:

-Que cristo frouxo é você,
Que chora na procissão?
Jesus, pelo que se sabe,
Num era mole assim não!

Eu to batendo com pena,
Tu vai ver o que é bom
Na subida da ladeira
Da venda de Finelon,
O couro vai ser dobrado,
Daqui até o mercado
A cuíca muda o som!

Naquele momento,
Ouviu-se um grito da multidão.
Era Quincas que, com raiva,
Sacudiu a cruz no chão,
E partiu feito maluco
Pra cima de Bastião.

Se travaram no tabefe,
Pontapé e cabeçada...
Madalena levou queda,
Pilatus levou pancada,
Deram um bufete emCaifaz,
Que até hoje não faz
Nem sente gosto de nada.

Desmancharam a procissão,
O cacete foi pesado,
São Tomé levou um tranco
Que ficou desacordado,
Acertaram um cocorote
Na careca de Timote
Que até hoje é aluado.

Até mesmo São José,
Que não é de confusão,
Na ânsia de defender
O filho de criação,
Aproveitou a garapa
Pra dar um monte de tapa
Na cara do bom ladrão.

A briga só terminou
Quando o doutor delegado
Interviu e separou
Cada santo pro seu lado.
Desde que o mundo se fez,
Foi essa a primeira vez
Que cristo foi pro xadrez,
Mas não foi crucificado.



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