sábado, 26 de janeiro de 2013

CORDEL


Encontramos esse cordel escrito pelo poeta popular canindeense José Natan Marreiro, e publicado no jornal "O Santuário", em agosto de 1984. Há 29 anos, o poeta já via como atual um fenômeno sócio-econômico que só cresceu em nossos dias: a aposentadoria na terceira idade - um benefício que faz a população mais velha encontrar seu espaço digno, inclusive no ninho de Cupido.  

O VELHO E SEU APOSENTO


Autor: Natan Marreiro

Os velhos, antigamente
Eram muito maltratados
Agora, é bem diferente
São muito bem acatados
Com velho ninguém se enjoa
Velho agora é gente boa
Acham velho cem por cento
Hoje a moça o velho adora
Devido a seu aposento

Antes dos velhinhos terem
O direito ao aposento
Deviam nos velhos vir
Que velho foi elemento
De progresso e de valor
Que fosse um agricultor
Ou em outra profissão
Todo velho já foi novo
De forma que digo ao povo
Deram progresso à Nação

Os novos de hoje em dia
No mundo modernizado
Não têm a mesma energia
Que um velho do passado
Gostam muito é de fofoca
Não dou só um velho em troca
Por quatro cabras de agora
Que quando vão trabalhar
Só tratam de enrolar
Se sentando a toda hora

Se um velho adoecesse
Antes do seu aposento
Não tinha quem socorresse
O velho nesse momento
Seu parente lhe xingava
O muito que ao velho dava
Era um chá de quixabeira
Ainda dizendo assim:
“Toma o chá, seu diabo ruim
Tu aperreia a noite inteira”

Velho não tinha parente
De setenta e dois pra traz
Muito menos aderente
Velho não tinha cartaz
Nem crédito, nem tinha amigo
Acredite no que digo
Que é uma verdade pura
Todo velho, antigamente
Não tratavam como gente
Sofria grande amargura

O velho e velha também
Sofriam de fazer dó
Não se ouvia ninguém
Chamar vovô ou vovó
Velhos eram objetos
Divertimento pra netos
Pra isso velho servia
Não estou falando à toa
Velho, agora, é gente boa
Com a aposentadoria

O tempo passado foi
Para velho, uma tristeza
Se firo alguém, me perdoe
Digo com toda a certeza
Hoje em dia é diferente
Todo velho agora é gente
Bem visto, bem acatado
Tem crédito, valor, amigo
Mas é da forma que eu digo
Porque é aposentado

Hoje em dia, mulher acha
Qualquer velho um colosso
Não lhe xinga nem põe tacha
Não dá um velho num moço
Tem até rapaz que diz
Que velho é que é feliz
Com mulheres hoje em dia
Vida de velho é que é...
Vi deles no cabaré
Dando show de boemia

Todo velho tem parente
Depois que se aposentou
Como também aderente
Lhe chamam vovó, vovô
Quando um velho em casa passa
Toda gente lhe abraça
Lhe dando grande atenção
Se hoje alguém adoece
Já sabe o que acontece?
Não é desprezado, não!

No dia do pagamento
Dos velhos aposentados
Fazem grande movimento
O velho é bem procurado
Por uma turma de gente
Que tenta forçadamente
Talvez os velhos comprarem
Algo que tem pra vender
Precisa até você ver
Ou para lhes ‘marretarem’

Se o velho se aposenta
Ele bem que merecia
Sempre enfrentou e enfrenta
O sol quente e a chuva fria
Velho tem o seu valor
E se for agricultor
Esse aí é que tem mais
Pois ele cuida da terra
Esta verdade se encerra
Nosso alimento nos traz

Portanto, peço aos senhores
Que tratem bem os velhinhos
Os que são agricultores
Com todo amor e carinho
O velho e a velha também
Que ambos, direito têm
A um ótimo tratamento
Tratar bem é algo lindo
Sem mais, portanto, aqui findo
O velho e seu aposento

.................

Eu gosto da poesia
Por isso mesmo eu escrevo
Mas tudo ao meu pai eu devo
Porque poeta eu nascia
O meu pai, verso fazia
Antes de ir pro Além
Era poeta também
Eu sei disso e sabe o povo
O pinto já sai do ovo
Com a pinta que o galo tem

Meu nome é Natan Marreiro
Sou filho de Canindé
Esta cidade da fé
De turista e de romeiro
São Francisco é o padroeiro
Do meu querido lugar
Sou poeta popular
A poesia me atrai
Esta arte do meu pai
Pretendo continuar

Um comentário:

  1. como sou fã do cordel
    fico até maravilhado
    com versos de seu Natan
    que no cordel tem mestrado
    tenho orgulho em dizer
    que pude lhe conhecer
    sou um privilegiado.

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