segunda-feira, 27 de agosto de 2012


SOLDADOS

Duque de Caxias, Patrono
do Exército Brasileiro
Por: Francisco de Assis de Freitas*

Um tradicional colégio de Canindé costuma, em datas comemorativas, mostrar aos seus alunos o valor, a tradição e a importância de certas datas e o quanto é importante para uma nação manter viva sua memória e lembrar-se de fatos do passado, para entender melhor o presente e construir um futuro digno.  É bem concorrida e animada sua festa junina, a festa do Dia do Folclore, dentre outras.  Com o Dia do Soldado não é diferente.  Este ano não vi a homenagem, mas em outros anos vi chegando um grupo de crianças com o diretor do colégio, o senhor Romeu Rocha, ao quartel do 4º BPM para uma visita e para mostrar aos pequenos o trabalho do soldado, o que faz e o porquê desta data ser lembrada em 25 de agosto, aniversário de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, patrono do Exército brasileiro. Além de ensinar um pouco de História, mostra também o quão é importante e valoroso o patriotismo. Ensina que, assim como o soldado, as pessoas devem lutar pelo bem de sua terra natal, não só no sentido de país, mas principalmente no sentido de cidade, pois as cidades formam o Estado e esses juntos formam nossa grande
nação, sendo que nos últimos anos vimos um péssimo exemplo de anti-patriotismo ser oferecido por certo grupo de pessoas que tem como função básica administrar o município, fazer e executar leis para o bem-estar e pleno desenvolvimento do povo de Canindé de um modo geral.
Muitas pessoas pensam que a figura do soldado, aquele que veste uma farda, simboliza uma corporação militar, tem ideais a defender, pessoas e um pais para proteger e vai da patente de soldado ao general, é aquele ser bruto, truculento até, que em determinadas situações resolve tudo no grito, na força e na violência; baseado no fato de ser nosso país uma democracia relativamente jovem, do ponto de vista de uma parcela da população que viveu intensamente os anos de chumbo e não tinha a liberdade de expressão para falar o que bem entende e criticar a autoridade máxima da nação abertamente, pode até ser verdade. Entretanto, de uns poucos anos para cá, depois  que as novas gerações passaram a integrar as forças públicas, ou seja as polícias militares, que são quem realmente as pessoas conhecem como soldados, já que os das forças armadas ficam na maior parte do tempo aquarteladas e tem um mínimo contato com a população, não é verdade. O soldado de hoje, tirando-se logicamente o joio do trigo, é uma pessoa de pensamento aberto, que sabe que a guerra não é apenas contra um inimigo que vive à margem da sociedade, mas também contra um inimigo interno e às vezes invisível chamado impunidade. Ocorre que em determinadas ocorrências, alguém leigo imagina que o protagonista da história ficaria detido por algum tempo, anos até, pelo feito que acaba de cometer. Infelizmente não é bem desse jeito.
Quando foi criado o programa de policiamento comunitário do governo do Estado do Ceará, chamado de Ronda do Quarteirão, seu objetivo principal era aproximar a polícia da comunidade e tirar aquela imagem de truculência e selvageria que em alguns momentos os soldados da polícia militar possam ter deixado transparecer, muitas das vezes por falta de preparo emocional ou por circunstâncias históricas ou mesmo pela reciprocidade da violência. O fato é que falta muita ainda para as pessoas entenderem que os soldados sozinhos não são responsáveis pela segurança pública. Um conjunto de fatores, sua falta ou presença culmina para aumentar ou diminuir a sensação de segurança. E a participação da comunidade com denúncias e informações certamente culmina para diminuir a insegurança.
Canindé, quinta-feira 23 de agosto de 2012, 15 horas da tarde e um céu azul sem nuvens de uma estação extremamente seca. A bordo da viatura RD 1215, juntamente com os soldados Tavares e Barros, estamos patrulhando a cidade de Canindé quando o telefone celular da viatura chama.  A pessoa que ligou informa que um homem na rua principal do Bairro João Paulo II, um homem embriagado está jogando pedras em crianças que saem de um colégio. Informo ao solicitante que já estamos em deslocamento; antes de chegarmos ao destino uma nova ligação acrescenta mais detalhes dizendo que o homem está descontrolado e armado com uma foice causando pânico aos moradores, fato que motiva pressa para chegarmos. No local, distância de 150 metros aproximadamente, observamos a cena que se descortina ante nossos olhos: um homem de short e camiseta com um capuz negro na cabeça e de estatura mediana, de compleição física forte, com dois homens tentando cercá-lo, possivelmente familiares, e que foge ao ver a viatura. Nós o seguimos até uma rua sem saída, entretanto ele consegue entrar num beco por onde a viatura não passa e eu e o soldado Tavares temos que segui-lo a pé, passando por cercas e quintais e entrando num matagal de plantas secas e espinhentas, características de nossa região. Por rádio, peço para que a outra viatura desloque-se pelo vizinho bairro da Cachoeira da Pasta. Devido ao clima quente, ao equipamento e também ao fato de pesar mais de cem quilos, sinto certa dificuldade na perseguição, entretanto não podemos desistir. Por ser mais jovem e mais leve, o soldado Tavares está sempre um pouco à minha frente e por isso chega mais próximo do fugitivo e consegue com a imposição verbal fazer com que o mesmo solte a foice e coloque as mãos na cabeça, cabendo a mim o trabalho de algemá-lo e conduzir até a viatura. Um trabalho bem feito, a meu ver, já que não houve a necessidade de usar de força e o conduzido, fora alguns arranhões partilhados também por nós, chegou ileso na delegacia regional. Agora para finalizar o nosso trabalho seria interessante que alguém do povo fosse para a delegacia para representar contra o acusado por perturbar a paz e a ordem pública, além de ameaçar a integridade física dos moradores do Bairro.
Como é via de regra, em muitas situações de ocorrência policial, as vítimas querem que os soldados sejam, além de condutores, vítimas e às vezes juiz e carrasco e não querem se dar ao luxo de comparecer até a delegacia. Como não foi possível que a vítima comparecesse na Unidade Policial Civil, a autoridade policial deliberou por fazer um TCO, termo circunstanciado de ocorrência, contra o detido, devido ao fato narrado por nós e por ele estar visivelmente entorpecido por alguma substancia química. O absurdo desta história tão comum em nosso cotidiano de trabalho é o fato do acusado ser um presidiário do regime semiaberto e já ter em sua ficha criminal dois artigos: 121 (homicídio), um 129 (lesão corporal) e um 157 (assalto a mão armada). Entretanto, como determina a lei, o portador de tão extensa ficha criminal foi entregue na vizinha cadeia pública para passar a noite, apenas por ser apenado da justiça e ao amanhecer será solto. Posteriormente será comunicado o fato ao juiz que certamente deliberará pela quebra de regime.
Canindé, 25 de agosto de 2012, 22 horas. Chego ao quartel do 4º BPM para mais uma jornada de trabalho. Ao entrar sou cumprimentado pelos policiais de serviço e vejo uma faixa próxima ao gabinete do comando homenageando o dia do soldado, feita pelo colégio do senhor Romeu Rocha e que me fez recordar do meu primeiro Dia do Soldado. Trabalhava em 1992 no Batalhão de Choque, na extinta companhia de policiamento bancário, para a qual havia sido transferido havia poucos dias, juntamente com mais uns 50 policiais da companhia especializada. Nesse dia estava tirando serviço com o colega de turma o soldado Milfont, na Praça Portugal, coração do Bairro Aldeota, fazendo a segurança do antigo Banco do Estado do Ceará, BEC. Entre uma conversa e outra para passar o tempo de 10 da manhã até às quatro da tarde, em pé, só podendo descansar no intervalo do almoço, fomos surpreendidos por uma inocente criança de no máximo sete anos de idade com dois desenhos mimeografados, representando um soldado e nos entregou dizendo apenas que era o dia do soldado.  Ficamos tocados com a singela homenagem e não imaginávamos ainda que o sodado não era um membro de uma corporação militar inserido dentro de uma comunidade, mas um membro da sociedade inserido dentro de uma corporação militar, e como tal tem obrigações, deveres e direitos e que como os demais membros da comunidade deve sempre lutar para engradecer e honrar, não apenas sua corporação, mas a sociedade à qual pertence.

*Soldado PM, colaborador do blog.

2 comentários:

  1. Com sua pureza, as crianças gostam muito dos soldados, admiram-nos como heróis. Acho que as crianças estão mais conscientes dos arquétipos, que para Carl Gustav Jung são símbolos universais presentes no inconsciente coletivo, que é compartilhado por toda a Humanidade, e que o distanciamento da natureza vivido pela maioria dos homens faz com que se ocultem ainda mais no inconsciente, só aflorando nos sonhos, quando estes são lembrados e entendidos pelo menos em parte. As crianças têm uma aproximação maior com os arquétipos, e isso explica por que gostam de heróis: soldados, bombeiros, desportistas, personagens de filmes e revistas de quadrinhos etc.
    Acho também que o encanto que as mulheres sentem pela farda é também a manifestação de um arquétipo. Da mesma forma, os homens sentem uma atração pelas mulheres quando vestidas de farda.
    Uma pergunta, Freitas: Sei que você trabalha visando ao bem-estar da coletividade, isto é, trabalha para as pessoas. E sei que você o faz com prazer, com entusiasmo, com honestidade, embora a rotina lhe traga às vezes decepções. Você por acaso já experimentou pensar ligeiramente em executar seu trabalho para Deus, pensando em como Ele gostaria que a obra fosse feita da melhor forma?

    Flávio Henrique

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  2. Caro Flávio,
    o trabalho executado por policiais que atuam nas ruas e vislumbram uma série de situações de violências e desrespeito às leis, é por vezes ultrajado pela falta de estrutura do Estado, e não é culpa dos policiais. Só com muita fé em Deus e observando os maus profissionais que vez por outra teimam em estar prestando um serviço ruim, é que estamos a mais de 20 anos na luta diária contra o crime e a violência. Deus está sempre presente e Ele sempre protege a quem o teme e o ama.

    Cabo Freitas.

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