quarta-feira, 8 de agosto de 2012


A INVASÃO DOS FAKES


Atrevidos e polêmicos, falsos personagens
tomam conta do debate político na internet

Pedro Paulo Paulino

A palavra “fake” (pronuncia-se feique) em inglês significa “falso”. Nas redes sociais da internet, os fakes são pessoas que ocultam sua verdadeira identidade, fazendo-se passar por outra pessoa. Os primeiros fakes surgiram no Orkut, por volta de 2004, mas se popularizaram também no MSN Messenger e no Twitter. A praia dos fakes agora é o Facebook, a rede social mais frequentada no momento. “Os criadores de fakes normalmente o fazem por diversão para conhecer novas pessoas sem se expor. Geralmente são jovens e adolescentes com no máximo 20 anos de idade. Os perfis fakes também são criados usando o nome de pessoas famosas como forma de homenagem ou simplesmente para atrair mais leitores para os comentários, que tendem a ser divertidos”, é o que informa um site dedicado ao assunto.
Neste período de correria pelo voto, quem não contava com a astúcia dos fakes certamente eram os políticos. Em Canindé, por exemplo, a campanha eleitoral começou visivelmente pela internet, através do Facebook. A criação do primeiro fake provocou uma onda de personagens falsos que tomaram conta do debate político. Agora são dezenas deles. Pelo histórico das postagens, supõe-se que o pioneiro dos fakes por aqui é o que traz a máscara e o nome de “Bento Carneiro”, famoso personagem do humorista Chico Anysio. Nessa extensa fileira, surgiram nomes como Kardenia Suely, Karla Silva Nascimento, Milena Tavares, Maiara Lemos, Karlos Schindler, Chico Anjo, Vivelinda Sousa, Ickaro Silva, Waldery Sobrinho, SpartacusLastNight Kobecaf… e outros nomes bem sugestivos da realidade política do momento, como Maria Indignada e Seu Chico da Rural, comprovadamente fakes.
Eles marcaram seu território no grupo “TODOS POR CANINDÉ”, que já conta com mais de 2.800 membros. É nessa página do Facebook que diariamente o assunto político ganha corpo. Pelo sucesso que vêm fazendo, os fakes já contam com uma espécie de “auditório” a distância e há quem diga aguardar ansioso a primeira postagem do dia. As postagens sobre política, via de regra, são polêmicas, seguindo-se uma enxurrada de comentários sempre em tempo real – uns satíricos, outros ácidos ou mesmo malcriados. Vale quase tudo. A proteção do disfarce permite que o verdadeiro participante não esconda sentimentos de indignação, revolta, protesto, muita vez por meio de perguntas que levam o adversário contra a parede. Outras vezes uma imagem, como sempre, vale mais que mil palavras também no Facebook. A facilidade dos programas de edição de imagens no computador permite aos fakes a criação de charges eletrônicas a partir de montagens com o fito de ridicularizar alguém. O objetivo é alcançado quase sempre.
Essa nova onda de discussão virtual da política, entre pessoas de várias idades, mostra casar muito bem com o espírito moleque, humorístico e satírico cearense. A velha fofoca típica da esquina, do boteco, da barbearia; o boato à boca miúda na rua, na praça, tudo isso migrou venenosamente para o relacionamento na internet, ganhando mais fôlego e terreno por esse meio. E criou-se assim uma nova sociedade: os fakes. No calor de seus debates políticos, ninguém é poupado. A invasão dos fakes provavelmente chega a ferir a política de privacidade do próprio site, no caso o Facebook, e calcula-se mesmo até onde o assunto pode encontrar ressonância em nossas leis, uma vez que a coisa pode envolver ofensa, calúnia e difamação. Afora isso, é inegável que o direito democrático também está sendo exercido com todo gás pelos fakes, por trás dos quais estão pessoas que convivem bem perto umas das outras numa cidade com traços ainda bem provincianos, onde o Zé não discorda do João por mera conveniência bairrista. Se alguém de cara limpa pisa o campo minado dos fakes, é de fato um corajoso. Convém lembrar que, literalmente, os fakes são “falsos amigos” – de argumentos frequentemente verdadeiros. E a política na vida real, não resta dúvida, sempre foi poluída de fakes.

2 comentários:

  1. As postagens e comentários de muitos fakes assassinam a gramática. Há frases e períodos quase ininteligíveis, numa linguagem que de muito longe lembra o português. É injusta a punição da lei com a questão do teste de escolaridade para candidatos a vereador. Os eleitores da maioria desses candidatos são também lamentavelmente analfas.

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  2. Entre os fakes lê-se algumas coisas engraçadas outras de extremo mal gosto ealém de comentários despeovidos de qualquer razoabilidade. Alguns, o próprio estilo denuncia. Outros se julgam impressindíveis e que somente por eles o debate existe. Acho que todos deveriam ir para o debate de cara limpa, afianl estamos numa democracia cuja maior conquista é a liberade de pensamento exepressão. Quem se manifesta por anonimato abre mão do seu direito sagrado de opinar. Dá pra se debater ideia de maneira respeitosa, dá pra se dissimular agravos desde que esteja apenas no campo das ideias. O debate aberto é o grande exercício da democracia que cada vez mais se consolida por estas práticas.
    Augusto Cesar Magalhães

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