sábado, 11 de agosto de 2012


Tributo do poeta Jota Batista ao conterrâneo canindeense Manoel Messias Freitas, artista plástico, cantor e compositor falecido no dia 7 de maio de 2012. A letra do Hino de Canindé é de sua autoria.

MANOEL MESSIAS FREITAS:
DA ROMARIA, O CANTOR.

Autor: Jota Batista

Fazer arte em canindé
É  verdadeiro penar
Se a gente monta um projeto
É necessário ralar
Pois não há sustentação
Há, sim, uma exploração
E o negócio descamba
O certo é que nosso artista
É mesmo um equilibrista
Andando na corda bamba

Nesta cidade do Santo

São Francisco de Assis
Terra santa, hospitaleira
É a história que diz
A arte é muito corrente
No passado, no presente
Com desfechos futuristas
A amada Canindé
Tanto foi e ainda é
Um celeiro de artistas

Poetas do amor e ódio
Paixão e melancolia
Das noites de lua cheia
E madrugadas vazias
Das musas inspiradoras
Das gazelas sedutoras
E garrafas consumidas
Dos cabarés e dos guetos
Dos frenesis e sonetos
Das cartas mal escrevidas

Pintores da natureza
Do real, do abstrato
Da fértil imaginação
Da moldura do retrato
Do vistoso panorama
Da alegria, do drama
Da fé que o romeiro traz
Do beijo trocado a sós
Dos carinhos dos avós
E da saudade voraz

Cantores da alegria
Da tristeza, do encanto
Do compasso, da harmonia
Do ninar, do acalanto
Das crianças, da ciranda
Da rede posta em varanda
Da religiosidade
Do pulsar do coração
Do homem lá do sertão
Do homem cá da cidade

Escultores de ex-votos
Da explicação da fé
Dos costumes, tradições
Da vida de Canindé
Das doenças já curadas
Da fé que foi consagrada
E do agradecimento
Da dor transformada em arte
Do peregrino que parte
Pra Terra Santa ao relento

Emboladores do coco
Das brigas, dos delegados
Das querelas dos amantes
Dos homens afeminados
Dos adultérios sutis
Dos cruzamentos febris
De quem trai ou quem traiu
Dos amores consumados
Entre os matagais fechados
Nas noites de céu de anil

Violeiros de bancadas
Das pelejas contundentes
Que curam nas cantorias
Mau olhado e dor de dente
Das rimas, das redondilhas
Dos namoros com as filhas
Do fazendeiro ricaço
Da bela, da estrovenga
Da confecção da quenga
E o desmanche do cabaço

Repentistas do improviso
Da vida cotidiana
Das praças, ruas e feiras
Do pandeirista bacana
De microfone ao pescoço
Pedindo moeda ao moço
Pelo improviso dito
Da cultura popular
Do galope à beira mar
Da rola e do periquito

Fiz toda essa pajelança
Pra dizer que nosso artista
Ainda tem esperança
De receber a conquista
Da glória, do apogeu
De não ver o que ocorreu
E não sentir-se esquecido
Vou relatar com franqueza
Uma história de tristeza
Veja só o acontecido

Manoel Messias morreu
Foi triste a sua partida
Porém não está distante
A sua voz é ouvida
De forma bem graciosa
Nas canções melodiosas
De sol, romaria e fé
Nos louvores de Maria
Palavras e harmonia
Do Hino de Canindé

Por tudo que ele fez
Durante seus funerais
Homenagens foram poucas
Ele merecia mais
Agentes da sinecura
Câmara e prefeitura
Desprovidos do pudor
Não fizeram suas partes
Esqueceram-se das artes
E de tabela, o cantor

O que essa gente pensa
A respeito deste hino
Cantado em todo Nordeste
Por fiéis e peregrinos
Analfabetos políticos
Sem o menor senso crtítico
Seres irracionais
Se Manoel, num segundo
Pudesse voltar ao mundo
Talvez nem cantasse mais

Ficaria sabedor
Da inércia dos fariseus
E de tanto envergonhado
Diria aos amigos seus:
”Quanta falta de atitude
Tragam-me outro ataúde
Quanta vergonha, meu povo!
Aqui não é meu lugar
O caixão pode lacrar
Eu quero morrer de novo”

E esse seu Jota Batista
Do Pãozinho de Amor
De uma miscigenação
Do Plangente Cantador
E vários amigos meus
Que receberam de Deus
O dom de fazer poesias
Da vida encerrado o prazo
Teremos também descaso
Igual Manoel Messias

Talvez daqui uns janeiros
A desconto de pecado
Manoelzinho deve ser
De um vereador, lembrado
Depois de trezentas luas
Seu nome será de rua
Por ordem de algum gestor
Teremos por hipocrisia
A RUA: MANOEL MESSIAS
- CANTOR E COMPOSITOR



.............
HINO DE CANINDÉ

Letra: Manoel Messias Freitas
Melodia: Maestro J. Ratinho

Canindé, o teu nome é uma prece,
Pois um dia Rui Barbosa te exaltou,
E, como Assis, foste escolhida,
Por aquele a quem Jesus mais confiou.

Canindé, Canindé nós te amamos
E te guardamos um lugar no coração!
Quem vem a ti, jamais esquece,
Santuário de fé e oração.

Do imenso Brasil, tão pequenina,
Xavier de Medeiros te floriu,
E te fez surgir numa campina,
Nesta várzea mais bonita do Brasil.

Na distância gravamos o sino,
Da Basílica do teu Santo protetor,
Não há sorte que faça esquecer-te
Terra santa de esperança e amor!

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