quarta-feira, 6 de junho de 2012


A TIETAGEM MIRÍFICA DE VÊNUS


 Pedro Paulo Paulino

A ousadia de Vênus tornou-o uma celebridade neste 5 de junho. O pequeno planeta feminino tomou a dianteira de Sua Majestade o Sol e desfilou na frente deste como uma odalisca faceira diante do sultão. Seu feito, por exemplo, foi o mais comentado na Terra ultimamente, comparecendo em tudo o que aqui se chama mídia. Prendeu a atenção de quem entende e de quem nada entende do assunto. As lentes mais sofisticadas voltaram-se para o céu, e muitas delas avistaram no crepúsculo um pequenino ponto escuro escorregar na frente do globo gigante do Sol. Parecia um minúsculo inseto transitando sobre a barriga de um mamute. Ou um cisco rolando livremente sobre o ventre de um balão imenso. Atrevida como quase toda criatura pequenina, e assumindo a condição de Divindade do Amor, Vênus quebrou o protocolo planetário e desfilou, intrépida e elegante e com naturalidade admirável, na passarela solar.
A princípio, nem um dos deuses mais poderosos depois do Sol se aventuraria a tanto. E este planetinha inferior, pulando de seu ínfimo lugar no Palácio do Céu, atreveu-se a esse passeio. Algo parecido com o gesto tresloucado de um fanático que não resiste à presença do seu ídolo. A tietagem mirífica de Vênus, por alguns instantes, roubou a cena apoteótica do Pôr do Sol. O imenso brilho da estrela serviu apenas para fazer mais notado o corpinho minúsculo do planeta vespertino, nessa sua trajetória informal e impetuosa.  E como tudo aquilo que, aparentemente insignificante, costuma convergir nossa atenção, aquela desprezível manchinha preta, em contraste com o brilho imaculado do Sol, de repente tornou-se alvo de todos os olhares.
E Vênus foi a vedete da ocasião.
Imagine, em termos humanos, um simples súdito atravessar-se diante do Rei na supremacia do trono… e por ali passar tranquilamente… e nesse momento, respeitosamente, tornar-se motivo da admiração de todos, provocando silêncio e complacência no próprio Rei! No cenário celeste, nem mesmo o eloquente Mercúrio ousaria; nem o guerreiro Marte, nem o supremo Júpiter, nem o titânico Saturno, nem o primogênito rei do Universo, Urano, nem o senhor dos mares, Netuno, ou até mesmo o poderoso do Hades, Plutão... Mas Vênus, a Deusa do Amor, teve a coragem e a confiança de bailar incólume no centro da Corte Solar, como quem prova que o Amor rende a todos sem exceção.
Para quem perdeu o espetáculo, convém anotar: a próxima tietagem cósmica de Vênus acontecerá daqui a 38.325 dias terrestres!

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2 comentários:

  1. Desse raro fenômeno, fica a lição(pelo menos para mim, pois como se sabe a ciência não tem como característica o proselitismo obrigatório de todo fundamentalismo, e já dizia num de seus contos Edgar Allan Poe: estando convencido, não procuro convencer)de como os povos antigos, várias vezes tidos como até mais sábios pela abordagem culturalista, bem que tiveram ocasião de conjeturar sobre as consequência da visão que vc comenta em termos tão descontraídos. Refiro-me ao Geocentrismo, por exemplo, contra o qual alguns sábios verdadeiros viraram churrasco nas fogueiras da Inquisição. Ora, do absurdo de o Sol ser apenas um satélite da Terra,na visão geocentrista, quando seu esplendor sempre testemunhou o inverso pode ser medido pela justaposição de Vênus atualmente e o impacto de suas magnitudes. Sendo considerado um irmão gêmeo da Terra, é de se imaginar que visão teríamos do planeta que estamos depredando se algum dia alguém pudesse presenciar da superfície de Vênus a Terra na posição que Vênus ocupou em relação ao Sol. Bem "pirrototinho". Ave, Galileu.

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    1. Realmente, SRS, essa é uma lição que pode ser muito bem absorvida no sentido humano. Envolta nela, está toda uma aura de dignidade e vitória.

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