sexta-feira, 18 de maio de 2012


Portaria baixada esta semana pelo juiz da comarca de Canindé, Josimar de Almeida Alves, determina que todas as calçadas da cidade sejam reservadas unicamente para o trânsito de pedestres. Havia muito tempo, comerciantes e camelôs ocupavam o espaço das calçadas para expor suas mercadorias, obrigando o pedestre a trafegar pela rua, onde o trânsito é notoriamente desgovernado. A nova medida ganhou defensores e opositores, os primeiros em maioria, segundo pesquisa feita por meio eletrônico. O poeta João Pajeú, sempre de plantão em tais momentos, também dá seu parecer sobre o assunto, no cordel a seguir:

TRANSFORMAÇÕES EM CANINDÉ


 Autor: Poeta João Pajeú

Quem passar no Canindé
Vai achar muito mudado.
Eu mesmo, lá passei ontem
E fiquei todo espantado,
Era ver uma quimera,
Parecia até que era
Dia santo ou feriado.

No centro comercial
Vi a cidade arejada,
E eu, a primeira vez
Andei por uma calçada
Onde antes não se andava
Porque todo o tempo estava
De bugiganga ocupada.

Do grande comerciante
Ao vendedor de rapé,
Banca de jogo do bicho,
Vendedor de picolé,
Proíbe uma portaria
De vender mercadoria
Na calçada em Canindé.

Portaria foi baixada
Pelo Juiz de Direito.
Com isso, tenho certeza,
Que aumenta o seu conceito.
Tem muita gente gostando,
Tem outras desaprovando,
Eu mesmo acho bem feito.

Acho bem feito porque
Qualquer que seja a cidade
Deve ter calçada e praça
Para o pedestre, à vontade.
O lugar onde se mora
Deve gozar toda hora
De total urbanidade.

Mas o Canindé vivia
Todo o tempo sufocado,
Com as calçadas repletas
Por coisa de lado a lado,
O pedestre sem espaço,
Aumentando o embaraço
Do trânsito desmantelado.

Porém essa portaria
Baixada pelo Juiz
Chegou bem na hora certa
Como o povo sempre quis.
É a Lei, de prontidão,
Defendendo o cidadão
E fazendo-o mais feliz.

Mesmo assim, vi muita gente
Com ar de reprovação,
E querendo resistir
contra a determinação.
Comerciante insurgente.
Porém vi muito mais gente
Aprovando a decisão.

Um certo comerciante,
Teimoso como ele é,
Deu patada, fez berreiro,
Fez careta e fincapé,
Mas retirou da calçada
A sacaria arrumada
De feijão, milho e café.

Na calçada, camelô,
Um minuto ou dia inteiro,
Agora não fica mais,
Como era de primeiro;
Nem mesmo a Gilda afamada
Pode ficar na calçada,
Me disse Natan Marreiro.

Só lamento é o Zilmar,
Com sua confecção,
Uma banca de vender
Cueca, calça e calção,
Teve que alugar um ponto,
E neste cordel nem conto
Qual foi sua reação.

A portaria proíbe
Até mesmo colocar,
Bem acima da calçada
Placa ou tolder num lugar
Da parede, simplesmente…
Isso é bom pra certa gente,
Porque não vai enganchar.

Lá na rua Mozart Pinto,
A que tem mais confusão
No trânsito a todo momento,
Pois é mão e contramão,
Onde a coisa fica preta,
Não vai parar mais carreta
Nem carroça e caminhão.

Em frente à santa basílica
Do sagrado padroeiro,
As calçadas estão limpas
E o patamar inteiro
Ficou livre pra passar
O povo deste lugar,
O turista e o romeiro.

Desejo que Canindé,
Com essa Lei publicada,
Se transforme num modelo
De terra civilizada,
Com direito de ir e vir,
E da gente usufruir
Nosso direito à calçada.

Não foi ordem do prefeito,
Que é muito distraído.
Pelos seus auxiliares
É também mal assistido.
O nosso povo, afinal,
Ao Poder Judicial
É que fica agradecido.

Parabéns, senhor Juiz,
Pela determinação!
Quem não gostar, me perdoe,
Tenho direito ao perdão.
Infelizmente, eu bem sei:
É necessário impor lei,
Quando falta educação.

6 comentários:

  1. Lembro-me perfeitamente de um ex-prefeito que quis adotar tal medida, chegando mesmo a baixar uma portaria neste sentido. Sua idéia não era má, o problema foi a maneira como foi executada. Depois de falar pelos cotovelos e reverberar uma chuva de canivetes em cima dos comerciantes infratores, atracou-se com um deles em plena calçada, tentando botar na marra um saco de feijão para dentro, enquanto o comerciante usava de toda a sua força para mantê-lo na calçada. Situação patética, que não merece ser reprisada. A medida do juiz veio em boa hora. Parabéns!

    Sebastião Raposo Tavares

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    1. Lembro também desse episódio, sr. Raposo. Quanto ao nome do ex-prefeito, eis o xis da questão.

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  2. O autor demonstrou que poesia popular pode ser feita com um português escorreito e uma rima espontânea, não forçada, com palavras bem escolhidas e cheias de sentido. As ideias nesse poema são originais!

    Flávio Henrique

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  3. Ainda boto fé que o esse lentíssimo juiz -que teve uma boa ação neste caso- também tenha no julgamento das ações dos professores contra o esperto prefeito que não paga piso nacional nem o que manda o PCCs ( ésse minúsculo mesmo) da categoria.

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  4. Esse negócio de botar mercadoria na calçada só existe pela ambição de alguns comerciantes aliada a leniência do poder público que faz ista grossa a tudo.
    A título de exmplo, que passar pela Rua José Veloso Jucá, verá que em muitas casas o proprietário simplemente botou uma grade de ferro na calçada impedindo a passagen dos transeuntes.
    Além do aspecto perverso e burro da invasão de um espaço público fica ridículo: parece aqueles túmulos que, não se sabe pra que, se utilizam tais grades.

    Augusto Cesar Magalhães

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