terça-feira, 22 de maio de 2012


O NASCIMENTO DE UM LIVRO

Pedro Paulo Paulino

Costuma-se dizer que publicar um livro é como botar um filho no mundo. Nada mais comparável do que o livro RAIMUNDO MARREIRO – Poeta Pular, escrito pelo Tonico Marreiro. Foram exatos nove meses de gestação. Acompanhei a evolução do trabalho passo a passo. Quando ainda era um feto, o livro não prometia alcançar duas centenas de páginas. Mas o seu desenvolvimento foi exigindo, de modo natural, muito mais textos. E a verdade é que o livro nasceu robusto, beirando as 400 páginas e muito bem nutrido de prosa e poesia.
Mas do que quero falar mesmo é dos bastidores da feitura do livro. Para o leigo, convém dizer que o trabalho de diagramação consiste em pôr em seu devido lugar na página de jornal, livro, revista etc, o texto, a ilustração, a legenda, e ainda optar pelo formato da publicação, além de detalhes como o tipo e o tamanho de letras. Pois foi essa tarefa que o Tonico me delegou desde que seu livro era ainda um embrião. E de todas as edições gráficas que já passaram por minhas mãos, sou capaz de jurar que nenhuma foi tão prazerosa de fazer como essa. Também pudera, pois o livro encerra o trabalho deixado por um grande poeta do povo, o canindeense Raimundo Marreiro.
Vavá, PPP e Tonico
Nesse período de elaboração, aconteceram momentos memoráveis que, segundo o Tonico, mais o inspiravam a escrever. Assim foram brotando novas ideias e mais capítulos foram sendo criados, e cada vez mais encorpado foi ficando o livro. Em dado momento, nosso trabalho a quatro mãos assemelhava-se a… uma farinhada. Tonico redigia mais um capítulo, como que preparando outro rebolo de massa, o qual me repassava, e eu, como um forneiro, dava prontas as novas páginas.
O trabalho, desta forma, transformou-se o tempo todo numa lida atraente, em que certas discussões sobre o andamento da obra davam vez a histórias engraçadas, entre os inúmeros causos do repertório do Tonico. Durante vários fins de semana, ele botou o notebook a tiracolo e viajou em seu fuscquinha até meu rancho na Vila Campos, vindo da cidade onde mora, Caridade de Santo Antonio. Acompanhado da esposa Patrícia e das três filhas, ou as Três Poderosas, logo gerou-se um entrosamento familiar deles com os da minha convivência. Em algumas ocasiões, a visita improvisada de outros amigos tornava-se um encontro saboroso, temperado de boa prosa e muita descontração. Tínhamos mesmo o cuidado de não deixar o livro em segundo plano, tal era a leveza dessas audiências.
Djacir e Mobral
Foi nesse período, e por causa desse trabalho, que tive a graça de fazer amizade com o cronista Djacir Aimoré Martins, cujo pai, o Tenente Martins, é personagem-chave no roteiro do livro. Entre este e o poeta Raimundo Marreiro travaram-se no passado interessantes desafios poéticos, em que o lápis tomava o lugar da viola. Suas correspondências em versos estão nas primeiras páginas. Pois bem, Djacir, certa manhã, por aqui chegou, montado em sua motocicleta, que ele chama Duquesa. Conhecíamo-nos, já, virtualmente. Em pessoa, ele chegou num domingo, admirou a mata verde, fotografou, filmou os galos-de-campina, gravou o canto do sabiá, e logo eu e ele nos tornamos compadres.
Uma ocasião bem eloquente, já na contagem regressiva para o fechamento do livro, deu-se quando recebemos a visita do humorista Vavá. Canindeense de boa cepa, tem ele na cabeça uma invejável safra de conversa animada; se acaso faltar o que contar, para não interromper seu verbo fluente ele cria na hora, embora com alguma dose a mais que o genuíno. A vida social e política de Canindé passa antes pelo Vavá e em sua boca ganha o melhor formato. Pois o Vavá, de ocasião, também integrou o making of do livro do Tonico.
Outras vezes, paguei as visitas do meu amigo indo a sua casa em Caridade, onde levávamos em frente a diagramação. Foi ali que conheci o vizinho dele, um sujeito passado na casca do alho e que de Mobral só tem o apelido. Tais surpresas, portanto, tornaram gratificante o trabalho de fazer o livro, já por si tão compensatório para nosso espírito.
RAIMUNDO MARREIRO – O poeta popular foi concluído no último domingo, 20 de maio. Trata-se de um trabalho de fôlego e de uma pesquisa minudente, um livro de bom gosto gerado numa atmosfera deleitosa, fazendo jus ao seu conteúdo, uma verdadeira joia extraída no minério da poética, do humor e do folcore nosso. Tonico Marreiro arremata em seu livro mais de meio século da história literária e boêmia de Canindé, entregando ao público um presente há tanto tempo esperado. Filho do poeta Raimundo, ele está quitando o antigo débito de registrar num volume as criações e inventividades que imortalizaram seu pai na tradição oral. Mas o leitor ávido terá ainda que esperar um pouquinho mais, porque o livro, ou rebento, embora nascido espontâneo e vigoroso, depois de impresso vai ficar na incubadora até o dia 31 de agosto de 2012, data do lançamento que promete ser uma festa pai-d’égua!

Com Patrícia e Ivonete
Com as Três Poderosas
Foto que registra o fechamento do livro


Um comentário:

  1. Ja estou com agua na boca. ultimamente tenho lido os escritos do sr Tonico e acho muito prazeroso o modo como ele ressucita tantas recordaçoes, juntando a isso a habilidade de PPP ... nao posso que esperar com ansiedade para comprar o primeiro volume.

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