SOBRE IMPOSTO...
Hoje é o último dia para o brasileiro prestar contas com o Imposto de Renda. É, portanto, um dia de insatisfação para muita gente que nunca se conforma com a selvageria do Leão. A cobrança de imposto é uma das instituições mais antigas do mundo, sendo citada mais de uma vez na Bíblia. Uma das lendas mais tradicionais em torno do assunto é a lenda de Lady Godiva. Na Larousse, encontramos esse verbete: “GODIVA (Lady), nobre anglo-saxônica (c. 1040-1080), famosa pelo seu legendário passeio a cavalo por Coventry, Inglaterra. Seu marido, Leofric, conde de Mércia, prometera reduzir os impostos que recaíam sobre o povo da região se Lady Godiva passeasse nua pelas ruas da cidade, montada num cavalo branco. Segundo a lenda, todos os homens ficaram em casa enquanto ela cumpria a promessa; apenas um ('peeping Tom') tentou ver o espetáculo". O poeta Leandro Gomes de Barros (1865-1918) deixou um curioso trabalho sobre impostos, no qual são encontradas as mesmas lamentações e protestos ainda tão em voga contra os impostos. (O trabalho seguinte foi transcrito do blog Acorda Cordel.)
PADRE NOSSO DO IMPOSTO
Autor: Leandro Gomes de Barros
Nunca se viu tanto imposto
Num país como esse nosso
Cobra-se até de quem reza
Padre Nosso.
Nos falta calçado e roupa,
Quem compra mais um chapéu?
Acode-nos, pai da pobreza
Que estás no céu.
Olhe que o pobre matuto
Que vê o milho encostado,
Não pode guardar nem um dia
Santificado.
Carne fresca e toucinho
O pobre matuto não come,
Ainda que, o que ele implore
Seja o vosso nome.
Meu Deus! Temos esperança
Só no socorro de vós,
Fazei que um bom inverno
Venha a nós.
De rato, lagarta e formiga
Vos pedimos, defendei-nos,
Imploramos todos os dias
Ao vosso reino.
Livrai-nos que contra nós
Caia a ira do prefeito
E o mercado da cidade
Seja feito.
Fazei que caia o imposto
Da municipalidade,
Mas queira Deus eles façam
A vossa vontade.
O Estado nos oprime,
O município faz guerra,
Nunca se viu tanto imposto
Assim na terra.
Queixa-se o povo em geral,
Que vive como tetéu,
E o governo vive aqui
Como no céu...
Os deputados da Câmara
Conservam-se com grande “roço”
Por terem por honorários
O pão nosso.
Quando querem nossos votos
Nos tratam com cortesia
Os impostos aumentando
De cada dia.
O dinheiro do tesouro
Some-se como quem foge,
A fortuna dos prefeitos
Nos dai hoje!
Destes impostos d’agora
Por caridade livrai-nos,
As censuras que fizemos
Perdoai-nos.
Não temos mais o que fazer
As cousas vão tão insípidas,
Que não podemos pagar
As nossas dívidas.
Impostos por toda forma
O governo nos traz atroz,
Deus queira que ele fique
Assim como nós.
O procurador nos cobra,
Nós tão pobres nos vexamos,
Mas quando ele nos deve
O perdoamos.
Os do governo se unem,
Fazem como vós, com os vossos.
É preciso que vós auxilies
Aos nossos.
O governo nunca deu
Ouvido aos nossos clamores,
Aceita queixas dos nossos
Devedores.
Por qualquer coisa nos multam,
Só para nos perseguir
Nas unhas desses tiranos
Não nos deixeis cair.
O preço baixo da farinha
Nos faz grande confusão,
Faz o agricultor cair
Em tentação.
Escutai nossos clamores,
Nas aflições amparai-nos
E desses fiscais carniceiros
Livrai-nos.
Seja vós o protetor,
Que nos sirva de fanal,
Defendei-nos dos impostos
E do mal.
Permiti que o inverno
Venha cedo e chova bem,
Livrai-nos de todas as multas
Amém.
Ofereço esse Padre-Nosso
Aos prefeitos do Estado,
Para que nas eleições
Cada um seja votado,
Adiante o município
E cada qual fique arrumado.
Leandro Gomes de Barros (1865-1918) |
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