segunda-feira, 30 de abril de 2012


SOBRE IMPOSTO...


Hoje é o último dia para o brasileiro prestar contas com o Imposto de Renda. É, portanto, um dia de insatisfação para muita gente que nunca se conforma com a selvageria do Leão. A cobrança de imposto é uma das instituições mais antigas do mundo, sendo citada mais de uma vez na Bíblia. Uma das lendas mais tradicionais em torno do assunto é a lenda de Lady Godiva. Na Larousse, encontramos esse verbete:GODIVA (Lady), nobre anglo-saxônica (c. 1040-1080), famosa pelo seu legendário passeio a cavalo por Coventry, Inglaterra. Seu marido, Leofric, conde de Mércia, prometera reduzir os impostos que recaíam sobre o povo da região se Lady Godiva passeasse nua pelas ruas da cidade, montada num cavalo branco. Segundo a lenda, todos os homens ficaram em casa enquanto ela cumpria a promessa; apenas um ('peeping Tom') tentou ver o espetáculo". O poeta Leandro Gomes de Barros (1865-1918) deixou um curioso trabalho sobre impostos, no qual são encontradas as mesmas lamentações e protestos ainda tão em voga contra os impostos. (O trabalho seguinte foi transcrito do blog Acorda Cordel.)
  
PADRE NOSSO DO IMPOSTO
Autor: Leandro Gomes de Barros
  
Nunca se viu tanto imposto
Num país como esse nosso
Cobra-se até de quem reza
Padre Nosso.

Nos falta calçado e roupa,
Quem compra mais um chapéu?
Acode-nos, pai da pobreza
            Que estás no céu.

Olhe que o pobre matuto
Que vê o milho encostado,
Não pode guardar nem um dia
            Santificado.

Carne fresca e toucinho
O pobre matuto não come,
Ainda que, o que ele implore
            Seja o vosso nome.

Meu Deus! Temos esperança
Só no socorro de vós,
Fazei que um bom inverno
            Venha a nós.

De rato, lagarta e formiga
Vos pedimos, defendei-nos,
Imploramos todos os dias
            Ao vosso reino.

Livrai-nos que contra nós
Caia a ira do prefeito
E o mercado da cidade
            Seja feito.

Fazei que caia o imposto
Da municipalidade,
Mas queira Deus eles façam
            A vossa vontade.

O Estado  nos oprime,
O município faz guerra,
Nunca se viu tanto imposto
            Assim na terra.

Queixa-se o povo em geral,
Que vive como tetéu,
E o governo vive aqui
            Como no céu...

Os deputados da Câmara
Conservam-se com grande “roço”
Por terem por honorários
            O pão nosso.

Quando querem nossos votos
Nos tratam com cortesia
Os impostos aumentando
            De cada dia.

O dinheiro do tesouro
Some-se como quem foge,
A fortuna dos prefeitos
            Nos dai hoje!

Destes impostos d’agora
Por caridade livrai-nos,
As censuras que fizemos
            Perdoai-nos.

Não temos mais o que fazer
As cousas vão tão insípidas,
Que não podemos pagar
            As nossas dívidas.

Impostos por toda forma
O governo nos traz atroz,
Deus queira que ele fique
            Assim como nós.

O procurador nos cobra,
Nós tão pobres nos vexamos,
Mas quando ele nos deve
            O perdoamos.

Os do governo se unem,
Fazem como vós, com os vossos.
É preciso que vós auxilies
            Aos nossos.

O governo nunca deu
Ouvido aos nossos clamores,
Aceita queixas dos nossos
            Devedores.

Por qualquer coisa nos multam,
Só para nos perseguir
Nas unhas desses tiranos
            Não nos deixeis cair.

O preço baixo da farinha
Nos faz grande confusão,
Faz o agricultor cair
            Em tentação.

Escutai nossos clamores,
Nas aflições amparai-nos
E desses fiscais carniceiros
Livrai-nos.

Seja vós o protetor,
Que nos sirva de fanal,
Defendei-nos dos impostos
            E do mal.

Permiti que o inverno
Venha cedo e chova bem,
Livrai-nos de todas as multas
            Amém.
 

Ofereço esse Padre-Nosso
Aos prefeitos do Estado,
Para que nas eleições
Cada um seja votado,
Adiante o município
E cada qual fique arrumado.

Leandro Gomes de Barros (1865-1918)

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