quarta-feira, 7 de março de 2012


O MAIOR PORRE  É A MISÉRIA

 Maria Luisa Vaz Costa

O alcoolismo é um dos graves problemas por que passa a sociedade brasileira. Dados estatísticos comprovam que em cada família existe pelo menos uma pessoa viciada em bebidas alcoólicas.
Desagregando a família e aumentando a legião de marginais, prossegue o álcool no rol das divisas brasileiras a cumprir o seu triste papel criminoso. Bebida alcoólica é um comércio próspero que atrai milhares de pessoas ávidas de lucros. A prova disso é a proliferação, cada vez mais crescente, de bares, botequins e casas do gênero. O alcoólatra não precisa andar mais de um quarteirão para encontrar o álcool – geralmente movido a música de mau gosto.
Na minha opinião, bêbado é bêbado, não importando a sua origem. Porém, no contexto social o que vai determinar o julgamento do viciado é a sua posição sócio-econômica.
O endinheirado coleciona uísque importado e nos fins de semana faz grupinhos de amigos em sua casa de praia ou sítio. Em meio a papos variados, de política a mulheres, ultapassam os limites da moderação no beber. Não vejo nesta categoria tantos problemas quanto os que observo no operário de construção civil e em outras classes já esmagadas pela própria natureza do trabalho que exercem.
Para as classes abastadas existem muitas atenuantes. Uma delas é o fato de serem uma minoria formada por pessoas com empregos importantes. Preocupados em evitar escândalos que envolvam seus nomes, bebem reservados e, se perdem a razão e fazem bobagem, os comentários não ultrapassam a muralha que os separa das classes inferiores. Sem causar nenhum dano aos seus bolsos, curtem a ressaca com toda a dignidade. Bem alimentados, repõem logo as energias e regressam ao trabalho que os compensa com altos salários.
Em torno do bêbado rico cria-se uma espécie de admiração e incentivo por parte da imprensa e do povo em geral, seja relatando suas “façanhas” ou tecendo comentários semelhantes àqueles que são feitos diante das travessuras de uma criança mimada.
O grande problema social é causado pelas classes pobres, já decadentes nos seus valores de pessoas. Massacrados por um salário que não lhes permite nenhuma dignidade, ingressam no submundo do alcoolismo – quem sabe, buscando uma fuga para os seus problemas. Sem acesso à educação e sem nenhuma perspectiva de melhora, acompanham, à margem da vida, os progressos de um mundo cada vez mais desumano.
A revolta, que ele aprendeu a conter, está muito presente nas cenas de embriaguez. No boteco em que bebe, provoca uma briga, fere e é agredido, parando na cadeia. Curte a ressaca com os ingredientes normais das delegacias brasileiras, a chateação da família e o olhar de desprezo dos vizinhos e conhecidos. No dia seguinte, volta ao trabalho, deprimido e trêmulo. Os poucos tostões que seriam empregados em uma sub-alimentação foram gastos ou tomados por aproveitadores. Faminto, ele aguarda uma semana para, incompreensivelmente, reiniciar o ciclo de autodestruição.
Enquanto tem o ilusório emprego, o homem não se degenera por completo. Porém dentro de pouco tempo estará enfraquecido e totalmente dominado pelo vício. Não trabalha mais. Sem o mínimo necessário à sobrevivência, a família se desagrega. Sem trabalho e sem família restou o marginal.

Obs.: Artigo publicado na página 8 do jornal "Santuário de São Francisco", ed. 1.260, novembro de 1981, Canindé, Ceará.

7 comentários:

  1. Nem consegui terminar de ler o texto, intrigado com o preconceito e o desprezo que a autora tem pelas pessoas que bebem, nao importa se 'socialmente'ou para encher a cara. Não sei de quem se trata, mas talvez fosse uma pobre mulher com um marido alcóolatra a lhe encher a paciência. Neste caso, paciência...

    Zé Pingunço

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  2. Sabe que tive a mesma impressao do colega acima? ate parece que a culpa è do "pobre miseravel" pela ressaca... (se pode chamar de hobby dos endinheirados que è mais chic? ) ate nisso querem ser melhor que a gente ,me polpe... cara escritora. ( se ainda for viva) ...

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    1. Vivinha da silva! E não tão velha assim, viu?, pois quando escrevi este artigo eu era uma adolescente aí em Canindé, terra que amo muito e visito sempre. Pois bem, estou vivíssima, tenho boa saúde e disposição, graças a Deus e aos meus bons hábitos. Escrevo sem pretensão de mudar o mundo, mas me sinto feliz quando consigo incomodar. E até dei boas risadas de seus comentários. Como disse o Gonzaguinha, "vai tratar de viver"...

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  3. Essa senhora (É viva ou está com Deus?) precisa conhecer o CRACK, o 'OXI' e outras drogas que realmente criam marginais e desagregam a sacrossanta família. O álcool existe desde que Noé desceu da ARCA e nunca foi tão destrutivo. Tanto que o primeiro milagre de Nosso Senhor Jesus Cristo foi a transubstanciação de água em vinho, que por sinal também estava presente na última ceia. Não que eu esteja fazendo apologia ao alcoolismo, mas tratar o álcool no mesmo nível de outras drogas é, no mínimo, falta de bom senso. Levemos em conta, portanto, o ano que o artigo foi publicado, o que o torna totalmente anacronico nos dias de hoje.

    Arievaldo Viana

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  4. No meu modo de ver, a autora do artigo colocou-se numa perspectiva de crítica social, que por sinal vem sendo adotada pela Igreja Católica há bastante tempo, em alguns casos por influência da Teologia da Libertação. A autora pretendeu ressaltar que o álcool tem efeitos muito mais danosos nas pessoas menos favorecidas economicamente, visto que elas não se alimentam bem, não têm outras opções de lazer nem o consolo de um bom emprego e do dinheiro mais fácil como as pessoas das classes média e rica têm.
    Assim sendo, a autora deixa nas entrelinhas a conclusão de que o álcool agrava mais ainda os problemas sociais dos paises em desenvolvimento, como por exemplo os da América Latina. E as doenças causadas pelo alcoolismo são um problema social e de saúde pública que consome recursos advindos dos impostos que todos pagam.
    Sob o ponto de vista da medicina, o álcool é um dos fatores que predispõem ao câncer, visto que deprime o sistema imunológico. Por outro lado, como outras drogas, o álcool é um catalisador da violência, tornando as pessoas agressivas, coléricas. Conhecem-se casos em que pessoas embriagadas jogaram seus carros contra pessoas na calçada.
    O capitalismo é por natureza cheio de contradições. O álcool é tributado com altos impostos pelo governo, contribuindo assim para as obras sociais; patrocina eventos musicais e esportivos; enfim, ajuda a mover as engrenagens do capitalismo. Por outra parte, tal como outras drogas, causa problemas sociais sérios que demandam gastos públicos. Os benefícios seriam maiores do que os malefícios?

    Flávio Henrique

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  5. Pois mais uma vez acho que esta autora pretedeu demais... acho que esse discurso è relativo .Conheci um delegado que se alimenta muitoooo bem, e que nao tem certo problema de falta de dinheiro ou opcao de lazer, avançar o sinal vermelho porque estava embriagado que nao ficava em pe, investir filha e mae levando a morte uma das duas e ser acariciado como se fosse uma criança que perdeu a chupeta, alem de nunca ter passado um dia na delegacia a nao ser para trabalhar etc etc, . Tive a desgraça de combater com uma pessoa que sofria por alcolismo e agora com uma pelo vicio do crack e posso dizer sem esconder os maleficios do alcool que entre um vicio e outro tem uma diferença abissal e que o artigo dessa autora è no minimo frustante, mas tem o atenuante do periodo da publicaçao.

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  6. Até parece, em vista dos comentários ao texto, que álcool faz bem à saúde.

    É claro que o álcool faz mal, da mesma forma que o fazem as drogas ilícitas e o também lícito tabaco.

    Concordo em gênero, número e grau com a autora do texto.
    O álcool degrada o homem. Se o camarada tem recursos, a degradação resta atenuada, até certo ponto. Mas cumpre lembrar aos beberrões de plantão que mesmo pessoas com certas posses estão sujeitas a perder tudo quando aceitam se entregar incondicionalmente ao álcool. Não são tão raros assim os casos de quem perde emprego, família e respeito.

    Não é preciso também ser nenhum gênio para imaginar que quem já se encontra degradado pela pobreza, mais degradado ainda ficará pelo consumo de álcool. Nunca ouvi falar de ninguém que tenho ascendido socialmente por conta do consumo excessivo de álcool. Mas eu já vi gente que caiu muito.

    Quanto aos argumentos "ad hominem" contra a autora, de que ela seria casada com algum bêbado... Meu deus. Que coisa mais patética. Como as pessoas podem fazer ilações tão levianas sobre uma pessoa que elas nunca viram na vida?

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