quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

CONTO HUMORÍSTICO


Décadas antes da descoberta do Viagra, o escritor maranhense Humberto de Campos (1886-1934) narrava essa história:

O TEMPORAL

Humberto de Campos

À medida que se passavam os dias, ia Dona Lourencinha ficando mais nervosa, mais aflita, mais inquieta. Há um ano que o sr. Balduíno caíra naquela apatia, naquele desinteresse pelos seus encantos, e como não se julgasse de todo inapetecível, ficava a pobre senhora a torturar-se com aquela triste situação do marido.
O fenômeno era, entretanto, um fato natural. Com quarenta anos de idade, casara-se Dona Lourencinha com um homem mais velho do que ela quase vinte. Era de esperar, pois, que o marido já estivesse quase gelado, quando a esposa não havia começado, sequer, a esfriar.
Desolada, assim, com a sua condição, amaldiçoava a virtuosa senhora o seu destino, que lhe dera um esposo sem energia, sem força, sem vontade, quando, uma tarde, o céu começou a cobrir-se de nuvens escuras, anunciando um temporal. A atmosfera abafava, como um forno. E Dona Lourencinha pensava na vida e no mundo, quando a tempestade caiu, precedida de uma ventania formidável. Sacudidas pelo sopro do vento, as portas e as janelas batiam, com violência. As cortinas panejavam como velas, ao mesmo tmepo que os papéis voavam de cima dos móveis, arrastados no turbilhão.
Fora, no quintal, o vento fazia estragos maiores. Folhas de zinco foram atiradas longe, enquanto a poeira, revolvida no solo, se erguia, rodopiando. Peças de roupa que estavam no coradouro, subiram como papagaios de papel, enquanto a lavadeira corria para dentro da casa, segurando com as mãos a saia de chita azul, que a ventania procurava suspender.
– Nossa Senhora! – gritou ela enveredando pela cozinha.
E agarrando as saias, com mais força:
– Essa ventania levanta tudo!...
A essas vozes, Dona Lourencinha, que estava no quarto de costuras, chegou à copa, indagando:
– Que é, Domingas?
– Nada, Dona Rencinha. É esta ventania, que está levantando tudo, no quintal!
Um raio de esperança cortou o cérebro da pobre senhora abandonada. E foi animada por ele, que gritou, para cima:
– Bené?
– Que é? – respondeu o marido.
E ela:
– Vem ficar na ventania um pouquinho, filho! Talvez te faça bem!

(Grãos de mostarda, p. 153-5)

NOSSA LÍNGUA
Bodião Um orador empolado, que tenta falar difícil, é um bodião.

2 comentários:

  1. Pessoas do tipo Pedro Paulo deveria ser reconhecido por capacidade , inteligência e este dom literário que não é para qualquer um. Parabéns rapaz continue assim. Não vou me prolongar por ficar inibida de escrever para pessoa tão capaz.

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  2. Vc é "anônimo", mas, pelo verbo vejo que é mulher. Portanto, obrigado, amiga, pelo incentivo. Abçs.

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