quinta-feira, 8 de dezembro de 2011


O MINISTÉRIO DA CULTURA
E O COCHILO DE MINERVA


Pedro Paulo Paulino

A ministra da Cultura, Ana de Holanda, esteve ontem (7/12) em Fortaleza na solenidade de entrega de certificados a ganhadores do Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010 – Edição Patativa do Assaré. O concurso investiu três milhões de reais na promoção de projetos na área de pesquisa, produção e difusão do cordel e linguagens afins, com participantes de todo o Brasil. Foram mais de 600 inscritos, com 449 projetos aprovados. O evento de ontem reuniu diversos artistas populares e pessoas ligadas à cultura, no espaço cultural do BNB. A Academia Brasileira de Literatura de Cordel foi representada pelo cordelista Arievaldo Viana, que sugeriu a segunda edição do concurso homenageando da próxima vez o poeta Leandro Gomes de Barros.
Para os poetas populares, o acontecimento traz uma sensação de alívio, haja vista a série de problemas e descontentamentos que envolveram o concurso desde seu lançamento. A começar, pela ideia de injustiça que fizeram alguns dos participantes sobre o julgamento dos trabalhos, chegando eles a recorrer judicialmente, conforme resalva feita no edital, que foi publicado e republicado no Diário Oficial da União. Desde então, vários aspectos do concurso geraram desencontros entre os artistas classisificados e os organizadores do certame. Protestos e mais protestos foram feitos através da internet, em blogs e principalmente na página eletrônica do MinC, onde diariamente as postagens dos leitores clamavam por mais atenção do Ministério com a classe dos artistas populares.
Desde o anúncio oficial dos classificados, o MinC entrou numa fase de total apagão em relação ao concurso, a despeito da cobrança constante dos que participaram, ansiosos por informação sobre a conclusão do prêmio. Lançado ainda na gestão do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, o Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel chegou a ponto de perder a credibilidade entre os participantes e alcançou com desgastes o novo comando do Ministério da Cultura, que a cada dia mais recuava diante do assunto. Nem mesmo a facilidade da comunicação eletrônica fazia com que os responsáveis pelo concurso dessem qualquer satisfação aos premiados. E dessa forma, tudo ia acontecendo ao deus-dará, fazendo crescer cada vez mais a angústia e a revolta. Finalmente, em outubro de 2011 o MinC deu início ao pagamento da premiação, embora à revelia dos contemplados que por acaso tomaram conhecimento. Mais uma vez, os organizadores do concurso deixaram evidente a desatenção com a classe artística popular.
Diante desses contratempos, é o caso de se indagar se a cultura popular é verdadeiramente valorizada no Brasil ou não. A realidade reflete o que o marketing governamental alardeia a respeito de incentivos à arte feita por pessoas simples, que exploram seu talento longe dos holofotes? Os artistas populares têm mesmo a devida consideração por parte do poder público, através de órgãos como o Ministério da Cultura? Ou é tudo um faz-de-conta? Devemos contar verdadeiramente com o amparo do governo na divulgação dos nossos trabalhos? Aqueles que de sua arte fazem meio de vida devem acreditar no auxílio do poder constituído?
Confiar na veracidade e honradez de concursos como esse ficou comprovado que é o mesmo que dar um tiro no escuro. Enquanto os participamentes do prêmio honraram pontualmente com as exigências rígidas e prazos do MinC, a recíproca foi bem diferente. A fexibilidade com as regras do edital em todo momento beneficiou apenas o lado deles. A presença da ministra Ana de Holanda e seus acessores ontem em Fortaleza deixava bem nítida tão-somente a estratégia de marketing. Tivemos bastante tempo para melhor ser vistos pelo MinC. Ou foi somente um cochilo da deusa Minerva?...

NOSSA LÍNGUA
Xandanga No MA e em PE é um dos sinônimos de xoxota. A mesma palavra em SP significa bunda, traseiro.

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