sábado, 8 de outubro de 2011


A OUTRA ESTRELA DA NOITE


Pedro Paulo Paulino

 Nestas noites límpidas, de luar quase pleno, um astro debuta em nosso céu de verão, logo depois do escurecer. É Júpiter, o soberano planeta do nosso Sistema Solar. Tão brilhante, que ouço referirem-se a ele como "aquela estrela". E é mesmo quase uma estrela. Os cientistas explicam que o planeta Júpiter devolve duas vezes mais energia do que a que recebe do Sol. E dizem ainda que ele é mais ou menos mil vezes maior que a nossa adorável Terra. Mil vezes! Olhando-o através desta atmosfera pura, fico momentos imaginando que o planeta onde moramos é uma coisinha de nada aos pés de Júpiter. Logo, vem uma sensação humilhante. Depois, uma sensação de alívio. Calculando-se a Terra mil vezes maior do que é, e com as mesmas condições de vida, muita coisa se tornaria embaraçosa. Talvez a América ainda não tivesse sido descoberta. Qual Colombo ou Cabral cruzaria o Atlântico mil vezes mais largo? Até mesmo os voos intercontinentais se tornariam inviáveis. Suponho que precisaríamos de veículos em órbita para irmos de um continente a outro. A rota Rio-Paris, como exemplo, que se pode cobrir em uma noite, se transformaria então em coisa das mil e uma noites.
  Agora, estou vendo Júpiter pela luneta. E cada vez que repito esse gesto, sinto a mesma emoção. Pela lente, dá pra ver quatro pontinhos luminosos em torno do gigante. São as suas quatro luas interiores (sim! Júpiter também tem luas). A emoção bate, ao imaginar que essa imagem foi vista pela primeira vez por um ser humano, na noite de 7 de janeiro de 1610, quando o italiano Galileu Galilei apontou para o céu um binóculo por ele mesmo construído, e viu essas joias nunca dantes avistadas. Por causa dessa sua bisbilhotice com as coisas celestes, e também por ser muito abelhudo (ele andou espalhando que a Terra é redonda e gira ao redor do Sol), Galileu por pouco não virou churrasco na fogueira da santíssima Inquisição. Mas um contemporâneo de Galileu, de nome Simom Marius, foi quem deu nome às quatro luas – chamadas luas interiores – de Júpiter, e então as chamou: Io, Europa, Ganimedes e Calisto. Júpiter e elas formam uma espécie de sistemar solar mirim, embora o maior dos planetas desta redondeza arraste consigo uma ninhada de pelo menos 16 satélites naturais.
Pela ocular da luneta, também chamada galileana em justa homenagem, é possível divisar uma faixa vermelha na cintura do planeta Júpiter, o que lhe confere um ar de respeitável campeão de alguma arte marcial. Júpiter era tão estimado na antiguidade, que os caldeus lhe dedicavam um dia da semana, a quarta-feira. Na mitologia, Júpiter é a maior divindade romana, encontrando no Zeus grego o seu correspondente, filho de Saturno e Reia e nascido na ilha de Creta. Sem querer escavacar a vida turbulenta dos deuses, basta dizer que havia sérias desavenças no Olimpo por esse tempo. Júpiter, por exemplo, teve graves conflitos com o pai, que o queria devorar. Mas disto escapou e, para crescer forte e robusto, foi nutrido com leite de cabra… Coisa da mitologia.
Na realidade, o quinto planeta do nosso Sistema Solar é um mundo fantástico, segundo foi revelado há pouco na década de 70 pelas sondas inteligentes enviadas lá pelo homem. Esses aparelhos não menos fantásticos mergulharam em nosso vizinho planeta, como amebas no corpo de um elefante. Mas anunciaram muita novidade impressionante de Júpiter. Por exemplo: não se trata de um corpo sólido, como a Terra, mas gasoso! Uma estrela frustrada. Inóspito para nós, talvez bonito mesmo só a 600 milhões de quilômetros em média.
Ohando o céu agora, é-me impossível não voltar ao tempo em que eu via Júpiter pelo ponto de vista do meu pai, que o chamava estrela, e estrela ruim, anunciadora de seca e outras coisas indesejadas. Mas a Mitologia é mais condescendente com Júpiter, e o tem na conta de guardião da honra, da hospitalidade e dos juramentos e presidente da Assembleia dos deuses. Ainda hoje, repito, ouço muita gente chamar Júpiter de estrela. Confesso que até me chega a vontade de também chamá-lo de estrela, embora sabendo que é um planeta – estrela dona do céu, que vai do Oriente ao Ocidente a noite inteira, única a competir em atração com o magnífico luar daqui.

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NOSSA LÍNGUA

BILUNGA - Em AL é mais um nome para pinta, o pênis da criança.

2 comentários:

  1. Arthur C. Clarke em sua fantástica saga 2001 - uma odisseia no espaço, até o quarto volume 3001 - a odisseia final, sendo que os dois primeiros livros foram adaptados para o cinema, na época do primeiro,considerado com justiça uma obra-prima, a adaptação partiu de um conto de Clarke chamado A Sentinela, posteriormente, a pedido dos fãs, o autor glosou a história em quatro romances. Pois bem, isto para dizer que a saga se passa , principalmente, em torno do planeta Júpiter, que, na parte dois da saga de Clarke é transformado num segundo sol por alienígenas que possuiriam tecnologia para tal. Europa, umas da luas de Júpiter, também tem papel importante no decorrer da trama, porém esta já uma outra história. Ficcão como a de Sir Arthur Clarke se posiciona num terreno além do mero entretenimento, pois faz refletir e são permeadas do conhecimento científico legítimo de um autor que, entre outras coisas, determinou a orbíta geodésica estacionária dos satélites artificiais, imprescindíveis para o funcionamento da civilização atual. Feito pelo qual não obteve nenhum proveito financeiro.

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  2. Magnífica a crônica estelar do Pedro Paulo, que com muita poesia e humor nos dá essas nformações preciosas sobre Júpiter e a história da astronomia. O autor tem a virtude de nos transportar da rotina da vida cotidiana, com todos os nossos pequenos sentimentos pessoais (muitas vezes de presunção), para as alturas do saber científico, por meio do qual tomamos conhecimento da nossa pequenez diante das grandiosas maravilhas da criação, que só podem ser a expressão de uma Infinita Inteligência presente em cada parte do Cosmos, desde o átomo à maior galáxia.
    Segundo a literatura esotérica, a mitologia grega, do mesmo modo que a história da criação do mundo e do homem descrita no Gênese, constitui uma alegoria de verdades só reveladas nos mistérios egípcios, caldeus, gregos, romanos, hindus e de outras civilizações antigas. Embora a mitologia e grande parte da Bíblia pareçam histórias infantis e inverossímeis, há um fundo de verdade que se perdeu na noite dos tempos, tal a antiguidade do homem, para cuja raça-raiz ária a literatura esotérica dá não menos de 900.000 anos. Por toda essa antiguidade do homem na Terra, pode-se pelo menos formular a hipótese de que a humanidade já teve conhecimentos acerca dos astros que não seriam tão infantis e fantasiosos quanto presumem os cientistas atuais. Como exemplo, citemos o zodíaco de Dendera, uma perfeição em termos de conhecimento astronômico, que foi descoberto em um templo egípcio cuja idade remonta a alguns milhares de anos antes de Cristo.

    Flávio Henrique.

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