quinta-feira, 11 de agosto de 2011


“O CÉU ESTRELADO ACIMA DE MIM
E A LEI MORAL DENTRO DE MIM”

COMO MARCA ESPIRITUAL DE IMMANUEL KANT

Reproduzimos abaixo um texto de Kant, extraído do final  da sua  obra Crítica  da  Razão Prática, que resume o seu pensamento como admirador apaixonado da Natureza e homem extremamente ético que, conquanto filósofo e cientista, não deixou de ser religioso.


“Duas coisas enchem-me o espírito de admiração e reverência sempre novas e crescentes, quanto mais frequente e longamente o pensamento nelas se detém: o céu estrelado acima de mim e a lei moral em mim. Não tenho que buscar essas duas coisas fora do alcance da minha vista, envolvidas em obscuridade, ou no transcendente. Nem devo, simplesmente, presumi-las. Eu as vejo diante de mim e as vinculo imediatamente à consciência da minha existência. A primeira começa do lugar que ocupo no  mundo sensível externo e estende a conexão em que me encontro a grandezas imensuráveis, com mundos sobre mundos e sistemas de sistemas e, além disso, aos tempos sem fronteiras do seu movimento periódico, do seu início e da sua duração. A segunda parte do meu Eu invisível, da minha personalidade, representando-me em um mundo que tem uma infinitude verdadeira, mas que só é perceptível pelo intelecto, com o qual (mas, por isso e ao mesmo tempo, com todos aqueles mundos visíveis) me reconheço em uma conexão não simplesmente acidental, como no primeiro caso, mas universal e necessária. A primeira visão, de um conjunto inumerável de mundos, aniquila, por assim dizer, a minha importância de criatura animal, que  deverá restituir a matéria  de que é feita ao  planeta (um simples ponto no universo), depois de ter sido dotada por breve tempo (não se sabe como) de força vital. A segunda, ao contrário, eleva infinitamente o meu  valor, como valor  de uma inteligência, graças à minha personalidade, na qual a lei moral me revela uma vida independente da animalidade e até mesmo de todo o mundo sensível, pelo menos por aquilo que se pode deduzir da destinação final de minha existência em virtude dessa lei, destinação que não se limita às condições e às fronteiras desta vida, mas que vai  até o infinito.”

(Colaboração: Flávio Henrique M. F. Lima)

[KANT, Immanuel. In Crítica da Razão Prática. Passagem citada por Giovanni  Reale e Dario Antiseri, in História da Filosofia. 2ª ed. Vol. 2: Do Humanismo a Kant. São Paulo, Paulus, 1990; págs. 931-2.]

Um comentário:

  1. Bertrand Russell conta um dos aspectos pitorescos da biografia de Kant, que é sempre bom lembrar, para que não se ponha os filsófos acima do humano demasiado humano. Dizia-se que era tão pontual na sua rotina, que as pessoas acertavam o relógio pela sua passagem cotidiana na direação de onde ir dar suas aulas. Solteiro a vida toda, especulou-se, até recentemente, que nunca chegou a ter uma relação sexual. Apesar de ser considerado o último filósofo a propor um complexo sistema fechado (quem não se lembra do conhecido imperativo categórico?),anes de Sartre, Kant também ficou conhecido pela proposição que ainda agora é considerada de formação do sistema solar, a famosa nuvem da qual teriam se originado o sol e os planetas.

    ResponderExcluir