terça-feira, 19 de agosto de 2014

19/8 - DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA


FOTOGRAFAR AINDA É UMA ARTE?

Pedro Paulo Paulino

Hoje é o Dia Mundial da Fotografia. Diz-se que fotografar é uma arte. Mas será que na era da fotografia digital, fotografar ainda é mesmo uma arte? Com a facilidade incrível que se tem hoje para registrar imagens, acho que fotografar descambou mesmo para a banalização. Um aparelho celular, embora dos mais simples, traz embutida uma mini-câmera digital. As câmeras digitais propriamente ditas popularizaram-se extraordinariamente devido ao barateamento dos preços e podem ser encontradas à venda nos mais inusitados pontos. Sem o uso de filmes, munidas de cartões eletrônicos com enorme espaço de armazenamento, as maquininhas digitais são mesmo um milagre da tecnologia. E ainda contam com recursos de uso que a grande maioria de seus donos, certamente, quase não exploram.
Fáceis de operar, com apenas um clique está registrada a fotografia, desejada ou não, que logo é mostrada no display da câmera. A foto que não interessa pode ser imediatamente excluída. Associadas ao computador, já tão vulgarizado também, as câmeras digitais fizeram uma revolução impressionante. Com essa união de máquinas, perdeu-se também o hábito de passar nossas fotos para o papel. O mais impressionante em tudo isso foi a velocidade com que saltamos do processo analógico para o digital. Houve um autêntico boom, tanto tecnológico quanto comercial, no mundo da fotografia. A câmera digital ou o celular que levamos no bolso e até as crianças sabem usar, de um instante para outro aposentou a indústria do filme fotográfico e de todos os ingredientes utilizados no antigo processo.
Como fotógrafo amador e apaixonado por fotografia, venho ainda do mundo analógico. Fotografo desde os 13 anos. Minha primeira câmera foi uma Kodak que empregava filme de 126mm. O rendimento máximo de um cartucho era de 24 fotos, ou chapas. Por isto, tínhamos a devida cautela em não esperdiçar nenhuma pose, que era assim também chamada cada exposição do filme. Mais tarde, adquiri do meu amigo Laurismundo Marreiro, professor de inglês apaixonado por fotografia, uma câmera Olympus com filme de 35mm e rendimento de até 36 exposições. Nessa mesma época montei laboratório próprio e passei a revelar minhas fotos em preto e branco. (Confesso que pouca vez em minha vida repetiu-se a emoção que tive ao revelar a primeira fotografia.) 
Chico Karam, pioneiro da
revelação em cores em Canindé
Esse meu avanço no invento de Daguerre deveu-se ao incentivo e orientação do mago da fotografia em Canindé, Chico Karam. O Foto Karam, ao lado da basílica, foi por muito tempo o ancoradouro de todos os fotógrafos canindeenses, profissionais ou não. Os filmes eram levados a Fortaleza para revelação. Passava-se, via de regra, uma semana para recebermos nossas fotos, o que gerava uma expectativa ansiosa. No final dos anos 80, Chico Karam, num gesto pioneiro, montou nos fundos da sua loja um laboratório para revelação em cores. Foi empresa difícil para a Mônica, a laboratorista, atinar com o ajuste das cores, e enquanto isso as fotos tinham uma tonalidade azul. Depois tudo se consertou.
Guardo ainda hoje centenas de “negativos” e uma pequena montanha de ábuns, produto da minha senda de fotógrafo. Agora estou entre a fauna dos fotógrafos da era digital. Mas ainda mantenho o hábito de só apertar o obturador da câmera (ainda é obturador?) no momento que julgo necessário. Clicar, clicar e clicar, a meu ver, não é exatamente fotografar.
Minha homenagem aos antigos fotógrafos que conheci em Canindé, entre eles, João Almeida e Chico Karam (in memmorian), Giovanni Almeida, João Carneiro, Lourival e todos os fotógrafos lambe-lambe da Praça da Basílica. E viva a fotografia digital…

(Publicado inicialmente no blog em 19/8/11)

4 comentários:

  1. O mestre Chico Karam foi um dos melhores fotógrafos que conheci. Sempre procurou estar a frente dos demais em Canindé, implantando o primeiro laboratório para revelação em cores. Estudou com paciência franciscana volumosos manuais sobre o assunto. Foi a primeira pessoa a me mostrar as cores primárias: Preto, magenta, amarelo e cian (azul). A partir dessas cores é possível obter qualquer outra cor, misturando-as na proporção certa. Ex: amarelo e magenta dá vermelho, amarelo e cian dá verde etc.
    Lembro-me que as primeiras experiências não foram satisfatórias e isso o deixava angustiado. Voltava aos livros e tentava chegar ao ponto desejado. Finalmente conseguiu e me mostrou o resultado com a empolgação de um adolescente. Ele também usava fundos pretos para fazer fotografias duplicadas, lembro-me da montagem perfeita que fez do filho Bianor jogando cartas com ele mesmo e ainda aparecendo por tras de um dos jogadores "peruando" o jogo. Mais dificil é impossível. Nesse tempo não se usava o computador... Era pura arte. Esse questionamento que Pedro Paulo faz sobre a fotografia, muitos têm feito em relação ao cinema. Depois de filmes como MATRIX e AVATAR não se pode mais chamar o cinema de arte... É tudo feito no computador. Até a imagem dos atores é alterada digitalmente. Devo dizer que ainda me emociono com os filmes em preto e branco de Charles Chaplin, mas do que com esses da nova era tecnológica. Ali sim, havia arte.

    ARIEVALDO VIANA

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  2. Depois dessa narrativa do Pedro Paulo, com tanta sensibilidade, nada mais há para dizer sobre o romantismo que era usar com arte e maestria as antigas câmeras. Com uma câmera analógica simples consegui tirar fotos melhores, olhando por aquele pequeno visor, do que as que tiro hoje com a digital, mesmo tendo uma visualização mais completa do objeto a ser fotografado.
    As fotografias em preto e branco dos anos 60 são perfeitas e têm resistido de forma impecável a todos esses 50 anos que se passaram. Aliás, sei que na década de 30 elas já tinham essa qualidade, como podem provar as
    fotos de artistas de Hollywood que são mostradas em exposições de arte e nos salões de alguns cinemas, tais como os do Shopping Via Sul, em Fortaleza.
    Flávio Henrique

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  3. Querido amigo Poeta, lendo seu blog também me pergunto, Ainda somos fotografos?ai, me pego pensando nas fotos que registro, sou fotografo de eventos e publicidade.Hoje sou "digital".Acabei de chegar de São Paulo de uma feira fotográfica, e São Paulo, tem (veja só) uma Rua só de lojas fotográficas.Ai veio a resposta, somo DIGITAIS sim!!mas amamos da mesma forma que ontem.O vendedor nos apresentou uma lente nova, de uma claridade incrivel (1.2) , que custava absurdos 3 mil reais.Todos quiseram comprar, dai fiquei a pensar, somos nós fotografos todos iguais.Uma Camisa de boa qualidade custa 100 achamos Carissimo, mas uma lente achamos barato.Continuamos a amar, e nós que dependemos da fotografia pra sobreviver, temos sim o lado comercial da coisa, mas NADA paga vermo a alegria de uma mãe ao receber seu album..o brilho nos olhos de uma debutante, ao se ver na festa e a lágrima de uma noiva, ao nos abraçar e dizer...Muito obrigado.Ernst Haas Escreveu"A câmera não faz diferença nenhuma. Todas elas gravam o que você está vendo. Mas você precisa VER!"Então..somos Digitais, mas somos FOTOGRAFOS!!forte abraço

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    Kid Laureano Neto

    Photograffic - Fotografia e Filmagem Digital

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  4. Poeta, sou meio bronco quanto a fotos, pois o que aprecio mesmo são ensaios da Playboy ou coisa que o valha. Preferencialmente coloridos e nítidos.

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